***No dia imediato fui, purpureado de cândido pejo, passar em Benfica. Estepejo é o meu elogio. Um verdadeiro amor é segunda inocência. Tal máxima,que eu atiro à circulação, deve ser a defesa de muitas senhoras de certa idade ede certos costumes, que respondem com imprevistas esquivanças às audáciasde amantes, que as assediam com ares de César, pensando que chegar, ver evencer é tudo o mesmo. O mundo chama matreiras a essas damas; e eu, quesei mais do coração humano que o trivial, digo e juro que é uma segundainocência com os adoráveis sustos do pudor, que as torna esquivas. Eu tenhoencontrado muito disto em peitos antigos. Se eu pudesse transfundir emcorpos tenros os corações sensíveis que tenho conquistado em senhoras deuma idade anticanónica, a felicidade não seria a sede de Tântalo. O meu errotem sido procurar a alma amante e sisuda na mulher dos vinte anos e aformosura e a graça na de cinquenta. A primeira é um sinal que todos mecobiçam; a segunda é um bem que ninguém me questiona. Não me servenenhuma, por isso.Voltando ao conto:D. Paula de Albuquerque viu-me através das vidraças e gesticulou entre asfitas algumas das flores da grinalda. Jubilei doidamente no secreto do meucoração e compreendi o porquê de chamarem aos poetas antigos videntes, quesoa como profetas. Abençoei a Primavera, meu livro de alma, e a inspiradavoz do vate, que me ensinara o filtro amoroso dosFestões, grinaldas, passarinhos, frutos.O periquito estava na sua gaiola bem pudera prender a atenção da posteridadecomo o decanato passarinho da Lésbia, do poeta romano. Se eu publicasse aspoesias, que dedilhei no plectro, com referência ao periquito, o meu volumeseria como um tratado ornitológico, em que os fenómenos dos amores dasaves iriam desvendados discretamente aos olhos da juventude.
Estas delongas estão afligindo a curiosidade de quem me ler. Entro emmatéria.Paula respondeu, agradecendo a ave querida, as flores e a surpresa: só nãomencionava os pêssegos, salvo se a surpresa eram os pêssegos.Ateou-se a correspondência, e tão fervorosa de paixão, de parte a parte, quetarde voltarão a este globo degenerado duas pessoas com tanto amor e estiloao que parecia.Este amor tinha assumido as dimensões honestas do matrimónio; massemelhante palavra não ousava escrevê-la o meu pulso plebeu. Tive entãoódio aos meus avós, que viveram estupidamente lavradores honrados, citandocom inofensiva soberba a consideração que lhes dera o Senhor Rei D. Dinis.Nem um hábito de Cristo na minha família! Nem sequer na invasão do Junoteu tive um parente que matasse dois franceses, ao menos, e fosse depois aoRio de Janeiro pedir um hábito de Cristo ao Senhor D. João VI, que dava dezhábitos à família que matasse dez franceses! O meu pai tinha tido aimoralidade de dar de comer e pensar as feridas a alguns soldados deNapoleão que lhe pediram abrigo! Nem sequer os deixou morrer!Lembrei-me de arranjar uma comenda de Cristo, por me dizerem que era issomais fácil do que descobrir quem a quisesse com direitos de mercê. Andava euna bem agourada solicitação desta graça, quando a minha desfortuna me pôs àprova de novas deceções.Se medito no mau desfecho deste episódio da minha vida, caio sempre natriste opinião de que D. Paula caçoou comigo.É o caso que, indo eu uma vez a Benfica, não para vê-la, que muito alta ia anoite, mas para adorar o santuário em que ela a essas horas, devia estarsonhando com a minha imagem, vi encostado à parede caraira da sua casa umvulto rebuçado, rebuçado amargo ao meu suspeitoso coração! (comprazo-mede ter feito destes dois rebuçados uma elegância de estilo, que é minha, e, sealguma idêntica aparecer, sem a minha rubrica, será tida como furto, e osfalsificadores serão perseguidos na conformidade das leis).Perpassei pelo vulto humano e, lá ao longe, descavalguei, prendi as rédeas eretrocedi sutilmente a espreitar o escândalo, se escândalo era. Se era, leitorespios!...
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excruciei a estúpida ferocidade co
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O amor inventou-o depois o estragam
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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