Hoje, aí!, hoje um céu de negro, e a terraDe crepe funeral!Hoje um peito que em si peçonha encerra;E a alma em fogo, que precita erraNum regiro infernal.As seguintes coisas são menos inocentes:Mulher!, em ânsias me esforço,Punge-me dentro o remorsoDe te não calcar aos pés!Tinha uma crença...mataste-a!Tinha uma luz...apagaste-a!...Mulher!, que monstro tu és!Esta quadra da poesia LXIX é mais raivosaHei de essa alma perversa estrinçar-te!Hei de à cara cuspir-te a peçonhaQue verteste no meu peito, e ferreteHei de pôr-to de eterna vergonha!Basta isto para terror das almas e amostra da poesia contemporânea deSilvestre.
Nestas minhas confissões hei de ser modesto, e verdadeiro, como SantoAgostinho e J. J. Rousseau; mas, ainda assim mais honesto que o santo e que ofilósofo. O pejo e a natural vaidade querem pôr-me mordaça; mas eu hei deexpiar as minhas parvoíces, confessando-as. Se, por miséria minha, mebaralhei e confundi com tantos e tão graúdos tolos, farei agora minhadistinção pondo, em letra redonda, que ora, Não me consta que algum dosmeus amigos fizesse outro tanto.Na minha qualidade de cético, entendi que a desordem dos cabelos devia ser aimagem da minha da minha alma. Comecei, pois, por dar à cabeça um ar fatal,que chamasse a atenção e aguçasse a curiosidade de um mundo já gasto emadmirar cabeças não vulgares. A anarquia dos meus cabelos custava-medinheiro e muito trabalho. Ia, todos os dias, ao cabeleireiro calamistrar oslongos anéis que me ondeavam nas espáduas; depois desfazia as espirais,riçava-as em caprichosas ondulações, dava à testa o máximo espaço e sacudiaa cabeça para desmanchar as torcidas deletriadas da madeixa. Como quer,porém, que a testa fosse menos escampada que o preciso para significar“desordem e génio”, comecei a barbear a testa, fazendo recuar o domínio docabelo, a pouco e pouco, até que me criei uma cara dilatada, e umas bossasfrontais, como a natureza as não dera a Shakespeare nem a Goethe.A minha cara ajeitava-se pouco à expressão de um vivo tormento de alma, emvirtude de ser uma cara sadia, avermelhada e bem fornida de fibra musculosa.Era- me necessário remediar o infortúnio de ter saúde, sem atacar os órgãosessenciais da vida, mediante o uso de beberagens. Aconselharam-me oscharutos do contrato; fumei alguns dias, sem mais resultado que uma ameaçade tubérculos, uma formal estupidez de espírito e não sei que profundodissabor até da farsa em que eu a mim próprio mês estava dando emespetáculo. A cara mantinha-se na prosa ignóbil do escarlate, mais incendiadaainda pelos acessos de tosse, provocados pelo fumo. Um médico da minhaíntima amizade receitou-me uma essência roxa com a qual eu devia pintar oque vulgarmente se diz “olheiras”. Ao deitar-me, corria levemente algumaspinceladas sobre a cútis, que desce da pálpebra inferior até às proeminênciasmalares; ao erguer-me, tinha todo o cuidado em não lavar a porção arroxadapela tinta, e com uma maçaneta de algodão em rama desbastava a pintura nospontos em que ela estivesse demasiadamente carregada. O artístico amor comque eu fazia isto deu em resultado uma tal perfeição no colorido que até opróprio médico chegou a persuadir-me, de longe, que o pisado dos meusolhos era natural, e eu mesmo também me parece que cheguei à persuasão do
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Tomásia retirou as mãos. Não sei
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