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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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Ao passo que a tintura vermelhaçaDos rostos se some;Dizem que a palidez extrema a raça;Mas eu de mim não creioQue seja perfeição: acho que é fome.Em caução da minha crítica, declaro que me afasto dos admiradores deSilvestre, se alguns ele tem, como poeta. A genuína poesia não é aquilo, nem ofoi nunca. O poeta puro-sangue levanta-se sobre o lodo da vida real esenhoreia-se dos milhares de mundos que Deus criou para os génios e osgénios tomaram das mãos de Deus para cantá-los. Poeta que canta a sopa e ocozido falseia a sua vocação de medíocre cozinheiro. Assim é que eu, zelososacerdote da arte, entendo a poesia, e nem aos mortos indulto. Antes quiserater de o criticar somente por umas bagatelas métricas com que Silvestre daSilva algumas vezes rastreou Nicolau Tolentino. A mordacidade distancia-seda poesia quanto as sátiras de Boileau discriminam das contemplações deVitor Hugo. Aqui se traslada, ainda assim, o género em que prelevou Silvestre,à competência com Faustino Xavier de Novais, ambos, para assim dizer,feridos do mesmo dente da musa mordente:Eu já fui rapaz do tom,E, com pesar de o ter sido,Resolvi fazer-me bom;E ao mundo que hei ofendido,Em paga, faço-lhe um dom.Dos meus colegas, é certo,Que os artifícios traidoresHei de mostrar bem de perto.

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