Os meus estudos patológicos atuam todos sobre a raça humana, posto que asenfermidades do gado vacum e suíno chamem de preferência a atenção dohomem, animal carnívoro, que come o boi, porque o boi se não emancipouainda e está dois séculos mais atrasado que o jumento, cuja emancipação éhoje indispensável.De passagem direi que me espanta e indigna o desvelo que os governosempregam no exame das moléstias, que dizimam os animais prestantes para acozinha.É uma questão de estômago e não há aí questão de estômago que não avulteas proporções de uma questão nacional.Se acontece grassar uma febre que devora centenares de pessoas, os conselhosde saúde descuram de averiguar os sintomas do andaço, não delegamvisitadores às farmácias homicidas de província, nem aviltam osmelhoramentos higiénicos de que depende a salubridade pública.Adoece, porém, o boi, e para logo surgem os Hipócrates bovinos escrevendoaforismos e as corporações medicatrizes instauram congressos de sanidade edestacam membros científicos a vencerem tanto por dia.Não se cura tão pressurosamente de valer ao homem, porque o homem não écomestível. Pois indivíduos há que comem o boi, e são por isso maisantropófagos que se comessem o homem.Fecha-se a digressão impertinente.No que eu trazia há muito empenhadas as minhas vigílias era nodescobrimento de um antídoto contra a melancolia.A medicina conhece uma doença moral chamada “hipocondria”. Os sintomasdesta enfermidade são as desordens digestivas, as flatulências, os espasmos, aexaltação da sensibilidade, os terrores pânicos, a impertinência dossentimentos morais, etc. Os indivíduos mais inteligentes e mais imaginativos,quando irritados pelas paixões, ou fatigados pelo trabalho de espírito, são maissujeitos a estes sucessos incuráveis, quando as influências morais os nãocuram.Não era esta enfermidade, de origem corpórea, a que me preocupava. Amelancolia, sem flatulência nem perturbações estomacais, a que tanto ataca osinteligentes como os idiotas, era esse o meu olhar.
Horas e dias terríveis passam por nós como períodos negros da existência.Cai-nos a cara para o seio, onde o coração nos dói premido por mão de ferro.Não há lembrança feliz que possa estrelar-nos o caos da imaginação: não háraio de sol que faça abrir flor de esperança na nossa alma arada pelodesconforto.Essa situação é comum a muitas pessoas: só não a conhecem aquelas quetravam aliança ofensiva e defensiva com a estúpida alegria, contra asintermitências dolorosas do espírito.O amador ditoso tem horas de melancolia terna: essas são as melhores da suavida. Aí dele quando o murmúrio do regato, e a cruz do ermo, e a Luaespelhada nas águas, lhe dão humedecer os olhos de dulcíssimas lágrimas!O amante infeliz tem sezões aflitivas que o excruciam e desesperam. Paraesses dois, tão diferentes no padecer, há uma só panaceia: é o coração damulher, essa divina botica de todos o bálsamos para todas as feridas, abertasna refrega das paixões nobres.***Mas, afora a melancolia do amor, há uma outra sem causa, sem preexistênciadolorosa, sem antecedentes que possam indicar ao médico da alma os meiosterapêuticos.Sentem-na aqueles mesmos que a fortuna acaricia com todos os mimos destemundo.É a que mata os ricaços da Grã-Bretanha e a que tortura os ricos ociosos detodas as nações, onde há Sol e Lua, onde o céu é azul e a atmosfera diáfana.Não é costume nosso matarmo-nos quando o aborrecimento da vida nosenjoa.Em país algum seria maior a estatística dos suicídios do que em Portugal, se otédio nos vencesse.E no Porto?Deus nos livre disso!
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Aconselhas-me que não vá a Carnid
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