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CORAÇÃO CABEÇA E ESTÔMAGO

Untitled - Luso Livros

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— Nada, não declaro.— Como?! — disse o juiz.— O meu Anselmo Sanches é aquele — redargui apontando a grão-besta.Este gesto, se fosse visto por gente fina, devia de produzir a comoção que faznos espectadores o “Ninguém!” de D. João de Portugal apontando o seuretrato na tragédia de Garrett.— Pois o Sr. Silvestre insiste em caluniar o cavalheiro que generosamentelhe perdoa?!— Rejeito o perdão de quem o deve a Deus, e à sociedade, e ao seu amigoque atraiçoou, à mulher do seu amigo que cobriu de ignomínia, à pupila doseu amigo, que debalde quer lavar nas lágrimas a nódoa eterna.— Mas que testemunhas dá o senhor da verdade das suas acusações?— Três — respondi.— Quais?! Do processo não consta alguma, nem o senhor aduziu algumana sua defesa.— As minhas testemunhas depõem em silêncio.— Isso é absurdo.— Pois, Sr. Dr. Juiz, creia Vossa Senhoria no absurdo, como Tertuliano: “Quod absurdum, credo.”— Não tenho que ver com Tertuliano; provas de arguição é do que a leiconhece aqui. Quem são as três testemunhas?— É um marido que está prostrado de vergonha e de aflição num leito. Éa mulher deste marido, que está doida. É uma órfã, recolhida nas Ursulinas deBraga, que está... prostituída. São estas as três testemunhas.Anselmo Sanches pôs os olhos no teto e exclamou:— Ó Céus!— É a repetição da calúnia, que o Sr. Silvestre nos está dando? —interpelou o juiz.

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