Porto — a suspeita de que a sua mulher encarava no doutor com olhos menosajuizados que os dele marido.E a suspeita era já de si tão absurda que não houve no Porto alma de sobradanada que denegrisse, até rebentar o escândalo, a virtude conjugal de Rita.D. Margarida Carvalhosa disse-me um dia :— Vou contar-lhe uma enjoativa novidade, Sr. Silvestre. Prepare-se pararebater um ataque de inveja.— De inveja, minha querida senhora? Vai Vossa Excelência dizer-me quemimoseou o mais feliz dos mortais com o seu coração?... Invejo, realmenteinvejo...— Cale-se. Não se trata de mim: é um escândalo.— Ah!... disse-me Vossa Excelência logo que era um escândalo: ser-me-iaimpossível associar o nome da vossa Excelência a um escândalo. Trata-se deGuilherme do Amaral? Do barão de Bouças? De Cecília? De João José Dias?— Não, senhor. Trata-se daquela Rita brasileira de quem o Sr. Silvestredisse que andavam enamorados os anjos.— E os demónios, minha senhora! Diga, diga, que eu interesso-me emaspirar todos os aromas que rescendem das essências angélicas.Margarida Carvalhosa descompôs-se a rir e continuou:— Pois o aroma da tal essência angélica está sendo um aroma de arruda,meu caro poeta.— Arruda, minha senhora?! Queira explicar-se.— Rita deixou de ser a cara-metade do seu marido e passou inteira para oDr. Anselmo Sanches.— Calúnia torpe! — exclamei com sincero espanto.Margarida Carvalhosa tange a campainha, sorrindo com irónica piedade daminha boa-fé.— Venha cá, Josefa — disse ela à criada, que entrava.— Repare se a mamã está por aqui perto...
A criada disse que a senhora baronesa estava no jardim.— Conte — prosseguiu Margarida — diante deste senhor, semacanhamento nem receio, o que me contou a respeito da brasileira.E, voltando-se para mim, acrescentou:— Esta criada hesitava; mas, animada pela ama, disse com visívelrepugnância:— A brasileira... Então que quer Vossa Excelência que eu conte?— Como se chamava o amante da sua ama? — disse Margarida.— Era o Sr. Dr. Anselmo.— Como soube você que ela amava o Dr. Anselmo?— Como soube? Soube-o porque eu era a criada do quarto da senhora.— Aquilo é muito significativo, Sr. Silvestre — disse, sorrindo com gentilmalícia, a filha do barão, e acrescentou voltada para a rapariga: — E comotem você a certeza?— Ora essa! A senhora não sabe?! Eu sabia tudo. De mim só se escondiaele. Até ela, quando o doutor começava a querer seduzir a pupila do Sr. Sousa,chorava muito e desabafava só comigo.— Conte lá essa história da sedução da pupila. Como era isso? — disse eu.O Sr. Doutor sabia que a Sra. D. Marianazinha era rica, e disse à Sra. D. Ritaque o melhor modo de continuarem a viver de perto sem que o mundobotasse fel era ele fazer com que o marido consentisse no casamento dela coma menina. Depois, a minha ama deu-lhe um desmaio, e esteve às portas damorte. Quando melhorou, abraçou-se à menina e perguntou-lhe se o doutor jálhe tinha dito alguma palavra a respeito de casar com ela. A menina pegou achorar e não disse uma nem duas. Isto mais apoquentava a minha ama, edesesperava-se que metia medo. Tanto fez que a menina confessou que odoutor a perseguira quatro meses todas as vezes que a senhora não estivesseao pé, e que, vindo uma vez com ela de Guimarães, onde a menina tinha idovisitar umas parentas...A criada, neste ponto, levou o avental ao rosto para encobrir que não corava;e no entanto, Margarida, relanceando os olhos dela para mim, e de mim para
- Page 2 and 3:
CORAÇÃO, CABEÇAE ESTÔMAGOCASTEL
- Page 4 and 5:
PREÂMBULO— O meu amigo Faustino
- Page 6 and 7:
Em 1855 notamos a transfiguração
- Page 8 and 9:
PRIMEIRA PARTECORAÇÃO
- Page 10 and 11:
eceando que o pai se casasse com a
- Page 12 and 13:
***A segunda era também minha vizi
- Page 14 and 15:
me seduzia com o suplemento dos bur
- Page 16 and 17:
Eu queria comunicar a exuberância
- Page 18 and 19:
— Perfeitissimamente. Queria dize
- Page 20 and 21:
saracoteava-se tão peneirada nas e
- Page 22 and 23:
Viu-me, fitou-me; não sei se corou
- Page 24 and 25:
Aconselhas-me que não vá a Carnid
- Page 26 and 27:
Cibrão convenceu-me de que o amor
- Page 28 and 29:
Quando voltei a Lisboa, em começo
- Page 30 and 31:
Hoje, aí!, hoje um céu de negro,
- Page 32 and 33:
médico. Fiz, pois, de mim uma cara
- Page 34 and 35:
parava, olhando para as janelas, qu
- Page 36 and 37:
com tanto afeto que o próprio gali
- Page 38 and 39:
Devia ser à hora em que ela descia
- Page 40 and 41:
***No dia imediato fui, purpureado
- Page 42 and 43:
O sino do mosteiro dominicano respi
- Page 44 and 45:
processo, a não me valerem alguns
- Page 46 and 47:
— Será...— A fidalga é uma do
- Page 48 and 49:
angelicamente inocentes que dão ar
- Page 50 and 51:
Na rocha alpestreVaga SilvestreTodo
- Page 52 and 53:
— Vou — respondi —; mas, se t
- Page 54 and 55: CONCLUSÃOQuando voltei a Lisboa, r
- Page 56 and 57: À imitação desta, podia eu conta
- Page 58 and 59: Outro bardo, que tem na terra amore
- Page 60 and 61: serra; erraste uma vista, de quem s
- Page 62 and 63: eleza me encanta; mas já não sere
- Page 64 and 65: no separarmo-nos. Neste intervalo,
- Page 66 and 67: Anuiu a tudo, menos ensinar-me a es
- Page 68 and 69: Dum arremesso, entrou no meu quarto
- Page 70 and 71: Nunca mais vi a mestra, nem tive pe
- Page 72 and 73: Não lhe ocultei os haveres, que eu
- Page 74 and 75: chávenas de café e não provou ne
- Page 76 and 77: espedaçava. Apenas conheci a casa
- Page 78 and 79: Não posso bem dizer o que senti ne
- Page 80 and 81: CAPÍTULO IJORNALISTAO homem não s
- Page 82 and 83: Devo a este lorpa a popularidade qu
- Page 84 and 85: Pouca gente alcança os limites do
- Page 86 and 87: lutar com a indiferença pública,
- Page 88 and 89: Falei com D. Justina Mendes, e para
- Page 90 and 91: Contempla as graças da gentil meni
- Page 92 and 93: Onde entesoura imagem prediletaDa m
- Page 94 and 95: A esposa diz que já n'alma lhe dó
- Page 96 and 97: páginas; mas, sobre ser deslealdad
- Page 98 and 99: inermes —, seriam pelo seu mesmo
- Page 100 and 101: Sabido isto, respirou um pouco a ma
- Page 102 and 103: Francisco José de Sousa prezava no
- Page 106 and 107: ela, com um brilho de alegria só c
- Page 108 and 109: Guardava eu as justas conveniência
- Page 110 and 111: — Nada, não declaro.— Como?!
- Page 112 and 113: NOTAO autor remata aqui o período
- Page 114 and 115: Do mundo elegante são excluídas a
- Page 116 and 117: Os meus estudos patológicos atuam
- Page 118 and 119: O vestíbulo do teatro lírico seri
- Page 120 and 121: deliciosa para o olfato. Segue-se u
- Page 122 and 123: CAPÍTULO IDE COMO ME CASEIProcurei
- Page 124 and 125: excruciei a estúpida ferocidade co
- Page 126 and 127: de foguetes de três estalos, e eu
- Page 128 and 129: monte, que lá chamam mentrasto; e
- Page 130 and 131: — Pois se quer vir daí à casa d
- Page 132 and 133: Fui consultado acerca da passagem o
- Page 134 and 135: — Pois olhe que nunca mais me esq
- Page 136 and 137: ***Depois de ceia, Tomásia saiu a
- Page 138 and 139: Ao amanhecer do dia seguinte ouvi a
- Page 140 and 141: — É para o caminho — disse ela
- Page 142 and 143: O amor inventou-o depois o estragam
- Page 144 and 145: Tomásia retirou as mãos. Não sei
- Page 146 and 147: da peregrinação — Deus sabe qu
- Page 148 and 149: Vi-o na Foz, e conheci então a Sra
- Page 150 and 151: Ó tempos patriarcaisDeixai que pos
- Page 152 and 153: O usuário o deraEm troca do servi
- Page 154 and 155:
Quero pôr a descobertoSeus planos
- Page 156 and 157:
Os diques da inspiraçãoRompem-se
- Page 158 and 159:
Os versinhos, doce prenda,Cada vez
- Page 160 and 161:
cicatrizes e instilasse nelas o ven