e t o l o g i a n a c l í n i c a m é d i c a v e t e r i n á r i a f e l i n aFigura 1 – Características felinas e cuidados necessários para o controle dos principaisproblemas comportamentais felinosespaço e tempo disponíveis (Figura 1) e, dadas suas característicascomportamentais (Figura 2), esta espécie écapaz de se adaptar de maneira mais satisfatória que ocão, às circunstâncias que lhe são oferecidas. Porém, issoprovavelmente também repercutirá em um aumento desituações de conflito, entre o proprietário e o animal, etambém criará uma necessidade aguda do médico veterinárioinformar-se a respeito das condições indispensáveisque esta espécie, que até recentemente “viveu à sombra”do cão, necessita para se desenvolver e viver satisfatoriamente(GENARO, 2010). Neste ponto, são resgatados osconceitos fundamentais do bem-estar animal, ou seja, oestado do animal em questão, ao se defrontar com as condiçõesdomésticas que lhe são proporcionadas.Período Sensível e Enriquecimento AmbientalO período sensível, também denominado de períodocrítico, é a época da vida do animal em que eventosparticulares são capazes de produzir efeitos importantesno seu comportamento, especialmente sobrea sua sociabilidade. As ligações sociais estabelecidasdentro desse período mais concentrado (no caso dogato doméstico, focado entre a segunda e a sétima/oitavasemanas de vida) terão maiores chances de seremmantidas ao longo da vida do animal, com conseqüentemaior impacto no seu comportamento quando adulto(TURNER; BATESON, 2000).Evidentemente o aspecto genético do animal é relevantee as ligações e experiências vivenciadas durante operíodo sensível terão enorme repercussão na vida doindivíduo. As experiências dessa fase da vida do animal,deverão ser amplamente consideradas pelo clínicoveterinário, pois as manipulações e experiências (favoráveise desfavoráveis) servirão como um importanteaprendizado para o animal e, a partir daí, o indivíduoterá facilidade ou dificuldade para os procedimentos futurosque o envolverem. Deve-se estar muito atento a esseperíodo (Figura 3) e, na medida do possível, fazer o usofavorável dessas experiências, ou pelo menos, minimizaros efeitos negativos gerados por situações inevitáveis(manipulações dolorosas, contenções, transporte, etc.).Tendo passado o período sensível (ou mesmo quandoo gato é adquirido após este período – o que frequentementeocorre), é essencial a continuidade das boasinterações e das experiências positivas, já que o felinocontinua a aprender, ainda que com menos flexibilidadee mais receios, se comparado ao período sensível.Outra característica a qual se deve estar atento é queo animal denominado de gato doméstico é uma espéciede ‘pool’. Um verdadeiro aglomerado de perfis comportamentais,que vai desde um animal dócil e altamentedependente de seu proprietário até aquele mais esquivo,e que se mantém à distância perpetuamente (GENARO;COLLUCCI, 2009). Aquele mais dócil pode mesmonunca ter visto outro indivíduo de sua espécie, além desua mãe e irmãos, ou nunca ter pisado em solo, vivendoem apartamentos por toda sua existência, contrapondosea aqueles indivíduos denominados ferais, que foram,por várias gerações, mantidos distantes de um convíviopróximo às pessoas, caçando ou alimentando-se de sobrasencontradas.Muitos desses animais, não apenas os denominadosde ferais, mas também os que vivem nos quintais, autodeterminamseus acasalamentos, independentemente,vivendo uma situação muito próxima aos animais silvestres,sem maiores interferências - em seus acasalamentos- advindas do convívio com humanos. Logo, deve-se considerarcom mais cuidado se esse animal vive realmenteuma vida doméstica.Contudo, deve-se de ter em mente a possibilidade devariações no perfil dos animais, já que além dos aspectosacima relacionados, também devem ser considerados: ocontato com a mãe, o temperamento dos pais, a experiênciacom seus possíveis irmãos de ninhada, todos emconjunto, interferindo no perfil ‘final’ do indivíduo.Existem, então, duas situações às quais o profissionaldeve estar atento, pois os problemas e situações originadosnos animais mantidos em restrição de deslocamento(sendo denominados de domiciliados) são extremamentediferentes daquelas de animais não domiciliados.Portanto, o proprietário deve ser informado dessas questões.Fundamentalmente esses animais são os mesmos,diferindo, apenas, no relativo a situação a que foram submetidos.E é aqui que se percebe a relevância do PeríodoSensível. Um exemplo consideravelmente importante e34 mv&z c r m v s p . g o v . b r
e t o l o g i a n a c l í n i c a m é d i c a v e t e r i n á r i a f e l i n aFiguras 2 – O período inicial de desenvolvimentodo gato doméstico é determinante para seu perfilcomportamental na vida adultaque pode ser observado no cotidiano da clínica médicaveterinária: a falta de manipulação do filhote, especialmenteentre a segunda e a sétima/oitava semanas de vidaculmina, normalmente, num indivíduo adulto irascível,intolerante às manipulações necessárias da Clínica.Portanto o ato, a princípio, irrelevante de abandonaruma mãe com sua ninhada - ou somente os filhotes,ou ainda, qualquer variação dessa forma de descaso -é criar condições para que esses animais se tornem oque se denomina de ferais, ou asselvajados, com todasas consequências sanitárias advindas desse descaso,tornando-se mais difícil (senão impossível), no futuro,o seu manuseio, seja por parte do médico veterinário oudo cuidador.Alguns indicadores comportamentais relevantes deestresse devem ser considerados: gatos ferais quandomantidos reclusos não se alimentam, não realizam a autolimpeza, e evitam, ao máximo, o ato de defecar, sinaisinequívocos de inibição comportamental, situação muitoclara de um estresse extremado. São comuns as oportunidadesem que esses animais (ferais ou assemelhados)são submetidos a um convívio forçado, por exemplo, emcentros de controle de zoonoses, abrigos, ou mesmo nasclínicas quando são mantidos para medicação. Essa situaçãotambém ocorre na casa do proprietário quandoum novo indivíduo é introduzido dentro de um plantel jáestabelecido (socialmente). Logo, deve-se estar atento àscaracterísticas do animal e, quando existirem indivíduoscom essas peculiaridades, deve-se oferecer as condiçõesmínimas exigidas para o animal, por exemplo, uma acomodaçãoem separado, ou acobertada, para permitirque o animal sinta-se minimamente confortável, alémde ser facilitado o trabalho dos profissionais envolvidos(MACHADO; GENARO, 2010).O gato responde, normalmente, com inatividadequando mantido em situações estressantes. Portanto,alterações de comportamento são frequentemente osprimeiros indicadores de empobrecimentos do seu BemEstar, ou também de processos patológicos em curso(ROCHLITZ, 2005).Recomenda-se que seja disponibilizado ao animaluma separação considerável entre as áreas de: alimentação,descanso e eliminação (de fezes e urina), e, quandohá vários animais em grupos, deve-se oferecer maisuma opção de área, que é a de isolamento para algumindivíduo que deseje manter-se afastado dos demais. Napossibilidade do animal não contar com essas opções omais comum é que passe a limitar suas atividades, comoanteriormente descrito, criando condições para queocorram processos patológicos (diversos).c r m v s p . g o v . b rmv&z35