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DEFININDO O BRASILPERIODIZAÇÃO DOS MEIOSGEOGRÁFICOSPRIMEIRA FASE – MEIOS NATURAISA periodização como metodologia de análise espacialO espaço é produto e manifestação da sociedade e expressa todas as contradições criadas e apreendidasnas relações sociais. Em cada momento histórico, o lugar tem um papel próprio no processo produtivo,conforme bem apontou Santos (1996), assumindo uma transformação mais ou menos significativade acordo com o desenvolvimento econômico-sócio-cultural e geográfico exercido por este processo,determinando, dessa forma, características peculiares, como a estrutura técnica e capital próprio.Numa perspectiva geográfica, a produção – social e econômica – tem relação direta com o lugare dele adquire uma parcela das condições de sua realização, e, ao analisar uma região produtiva, devemlevar estes critérios em consideração, pois os elos de uma síntese regional acontecem de forma articuladaao longo de cada momento histórico.Milton Santos (1997) atesta a importância da dimensão histórica no âmbito da Geografia, quandoafirma que “a noção de espaço é inseparável da idéia de sistema de tempo”, ou ainda, que os elementosdo espaço variam de acordo com o movimento da História. A essência do espaço é social e, ao entendê-locomo uma totalidade, o autor propõe como recurso metodológico a divisão deste para melhor analisálo.Assim, os “elementos do espaço” mudam seu papel no sistema espacial a cada momento histórico e,neste sentido, ele reforça a importância da dimensão temporal na análise do espaço.Desta forma, o espaço é resultado de uma lógica social que varia ao longo da História, ou seja, este é produzidoe reproduzido enquanto produto histórico. Portanto, a análise do espaço necessita da leitura de suas particularidadeshistóricas, uma vez que as estruturas atuais apresentam formas que expressam conteúdos sociais do passado.Segundo Santos (2003), a questão é escolher as variáveis-chave que, em cada pedaço do tempo, irãocomandar o sistema de variáveis, esse sistema de eventos que denominamos período. Eis o princípio apartir do qual podemos valorizar os processos e reconhecer as novidades da história do território. Segundoo mesmo autor:Períodos são pedaços de tempo definidos por características que interagem e asseguram o movimentodo todo. Mas essa interação se faz segundo um controle que assegura uma reprodução ordenadadas características gerais, isto é, segundo uma organização. É a falência desta última, açoitadapor uma evolução mais brutal de um ou de diversos fatores, que desmantela a harmonia do conjunto.determina a ruptura e permite dizer que se entrou em um novo período (SANTOS, 2003, p. 24).A delimitação temporal ou periodização regional é um procedimento que possibilita traçar umalinha evolutiva das mais diversas relações espaciais vivenciadas por determinada região.Organização do Espaço Brasileiro 7


A periodização das relações sociais pela definição de processos regionais é necessária paradar ordem e compreensão à dinâmica da sociedade, considerando a interação entre os níveis daquelasociedade, sua complexidade, seu conteúdo e forma (Diniz; Duarte, 1983, p. 36).Na elaboração de uma periodização deve-se analisar as estruturas espaciais pretéritas e desta formadefinir os marcos espaciais da produção. Estes, segundo Diniz; Duarte (1983), são entendidos como avisualização das formas e relações estruturais do conteúdo espacial no tempo.O que se pretende neste bloco é esboçar a provável trajetória do território brasileiro, e através dasua historicidade e relações geográficas entendermos os processos de sua construção.O procedimento adotado já foi utilizado por outros autores além de Milton Santos, como: Dinize Duarte (1983) e Neto (1997). Tal procedimento consiste na identificação de fatos e aspectos significativosda evolução espacial do objeto de estudo. Segundo Neto (1997), a constatação de momentos deafirmação territorial, retração ou de transição é de grande valia para compor uma trajetória que auxilie aentender, ainda que de forma superficial, os traços mais relevantes de sua história.Em outras palavras, mesmo que não sejam apreendidas todas as conexões entre as distintas fasespelas quais passou o território brasileiro, é possível, no entanto, delinear alguns dos traços relevantes dasua trajetória e, assim, explicitar elementos que ajudem a entender sua situação atual.Para compreender o território brasileiro na lógica da globalização, precisa-se, anteriormente,analisar o processo histórico-geográfico e assim visualizar:• As estruturas utilizadas pelas redes técnicas;• As áreas de atração do processo de globalização;• As áreas opacas no território;• Entendimento dos ciclos econômicos ocorridos no território e seus rebatimentos técnicos;• Associação destes ciclos com o processo gerador das discrepâncias regionais;• Geração dos grandes núcleos urbanos nacionais.Neto (1997) propõe que o primeiro passo a ser adotado é a concepção de uma periodização que,ao ser adotada como hipótese central do trabalho, permita articular os fatos isolados e servir de base parao exame mais detido de acontecimentos particulares.Os professores Milton Santos e Maria Laura Silveira, no livro“O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XX”, delineiama trajetória do território brasileiro a partir através de uma periodizaçãoque leva em consideração três conceitos estruturantes para análise dastransformações do Brasil: o meio natural (hoje quase inexistente); ossucessivos meios técnicos e o advento do meio técnico-científico-informacional.Desta, forma os autores identificam os fatos históricos queforam conformando e transformando o nosso território.O primeiro período do território brasileiroO primeiro momento identificado por Milton Santos e MariaLaura Silveira incide na formação e ocupação do território brasileiro,fundamentado em primeiro lugar na extração e comercialização do paubrasil.Esta fase se caracteriza pela forte presença da natureza como8FTC EAD | GEOGRAFIA


elemento limitador do desenvolvimento técnico e de ocupação do território. Desta forma, é necessárioum entendimento da verdadeira dimensão e importância do homem como ser vivo e social,que passaobrigatoriamente pela compreensão das limitações que a rigidez da natureza impõe à sua existênciaÉ objeto de preocupação da Geografia de hoje conhecer cada dia mais o ambiente naturalde sobrevivência do homem, bem como entender o comportamento das sociedades humanas, suasrelações com a natureza e suas relações socioeconômicas e culturais.É, portanto, de interesse da Geografia apreender como cada sociedade humana estrutura e organizao espaço físico-territorial em face das imposições do meio natural, de um lado, e da capacidade técnica,do poder econômico e dos valores socioculturais, de outro. Os grupos sociais, por mais auto-suficientese simples que sejam, não conseguem sobreviver de forma absolutamente isolada e estabelecem uma teiacomplexa de relações socioculturais e econômicas. Essa intensa troca de conhecimentos, mercadorias emoedas é determinada pelas necessidades reais e pelas necessidades criadas, que na atualidade cada diamais se intensificam. Esse complexo jogo de relações locais, regionais, nacionais e internacionais é deabsoluto interesse para o conhecimento geográfico.Desta froma podemos afirmar que as condições naturais do Brasiltiveram enorme influênciana forma de ocupação européia do nosso espaço, desde o inícioda coloni-zação até bem recentemente.A partir de 1530, o Brasil conheceu o início efetivo da ocupaçãoportuguesa, que aqui encontrou condições favoráveis para implantarum sistema de produção bas<strong>ead</strong>o nos princípios econômicos mercantilistas,dominantes na época: formação de colônias preferencialmentenas áreas tropicais, para fornecer gêneros alimentícios tropicais,matéria-prima e metais preciosos que atendessem às necessidadesdo mercado europeu. Os lucros seriam elevados e haveria uma significativaacumulação de capitais, produto da comercialização desses produtos. Era aépoca do capitalismo comercial, também conhecido como Revolução Comercial.Formou-se aqui o que se convencionou chamar de economia dependente, que foi se estruturandoe se modificando a fim de atender às economias européias dominantes. Assim, nosso espaço geográficofoi sendo arranjado de fora para dentro, uma área periférica submetida a um “país central”.AtençãoEconomia brasileira nasce integrada ao processo mundial de expansão do capitalismo mercantil,bas<strong>ead</strong>a no monopólio colonial e dirigida ao mercado externo.Assim, desde sua formação inicial, o Brasil foi uma área <strong>complementar</strong>, situada na periferia dosistema capitalista europeu, então em formação. Transformou-se em mercado produtor de produtos primários,necessários ao pleno funcionamento do sistema capitalista, principalmente quando ele alcançariasua fase industrial. Portanto, a formação e a evolução social brasileira foram profundamente marcadaspela imposição dessa estrutura econômica.Evidencía-se, assim, a influência inicial do quadro natural, que permitiu a estruturação de umaeconomia de exportação de gêneros alimentícios e matérias-primas tropicais. Assim, nossa evolução econômica,até recentemente, foi fruto da relação “meio natural - processo histórico”.Organização do Espaço Brasileiro 9


Organizado desde o início da sua história como um país de economia dependente, porque sua produçãose baseava na exportação de produtos primários destinados ao mercado internacional, só no séculopassado o Brasil deu seus primeiros passos no sentido da diversificação de sua economia, com a implantaçãode um processo de industrialização, inicialmente bem tímido. Embora em fase avançada e com saldos positivos,o País ainda não rompeu totalmente os laços com seu passado colonial. Tampouco conseguiu deflagrarplenamente sua Revolução Industrial. Apesar de ter conhecido substanciais alterações em sua estrutura deprodução, o sistema latifundiário predominante, as relações arcaicas de trabalho no campo e a configuraçãode suas classes sociais rurais ainda mantêm o País preso ao seu passado.SEGUNDA FASE – MEIOS TÉCNICOS.Segundo Milton Santos, os objetos são artificiais ou humanizados e são constituídos pela técnicaou apropriados por ela. A norma também está nos objetos técnicos: a construção de uma ponte, porexemplo, demanda e produz extensa normatização para que possa cumprir a função desejada pelos seusinvestidores, sejam eles empresários, instâncias do Estado ou uma comunidade local.Já as ações são inequivocamente humanas. Uma ação supõe a existência: de um ou mais agentes imbuídosde finalidade, e o agente pode ser indivíduo ou um conjunto de indivíduos agrupados na forma de empiricainstituição, movimento social ou qualquer outra configuração que apresenta uma divisão interna do trabalhopara, através da organização lógica racional, empreender uma inferência específica sobre a realidade.Vemos, assim, que as ações só se realizam por meio da técnica e da norma, sobretudo atualmente,quando as ações se tornaram sobremaneira complexas e estão divididas em uma grande quantidade deetapas realizadas, objetos técnicos e definidas igualmente por um detalhado ordenamento de normas, sejamelas jurídicas, técnicas ou morais. A aquisição de uma infra estrutura estatal, como a rede de abastecimentode energia elétrica por empresa transnacional, é o exemplo mais acabado de uma ação hegemônicaque se dá mediante intensa divisão do trabalho e envolve uma quantidade expressiva de indivíduos. Todoesse processo é intensamente regido pelas normas.Então, seja para compreender a constituição e o funcionamento dos objetivos técnicos, seja paradesenrolar o emaranhado de agentes compreendidos numa ação, torna-se necessário aprofundar as pesquisasatinentes à norma e, por extensão, ao direito.Mas a preocupação central que nos instiga a partir da formulação proposta pelo professor MiltonSantos é a referida indissociabilidade entre objetos e ações. Os aspectos mencionados devem obviamenteser levados em consideração, mas a compreensão dessa mútua dependência entre o objeto e a ação parecefundamental para um melhor entendimento do território brasileiro.O início de uma rede técnicaA ocupação inicial de grande parte da América realizou-se dentro da expansão comercial e colonialistada Europa Ocidental, que destruía os últimos elementos do feudalismo, levando para as novasáreas seus objetivos de acumulação de capital. A história da formação dos países ainda hoje denominadossubdesenvolvidos está, portanto, diretamente ligada à formação e expansão do capitalismo no mundoocidental. Conseqúentemente, a exploração colonial se inseriu no processo de superação das barreirasque se opunham, no final da Idade Média, ao desenvolvimento da economia mercantil e ao favorecimentoda burguesia européia.A descoberta de enormes quantidades de metais preciosos, no México e no Peru, e a avidez comque os europeus se lançaram à sua exploração se justificavam pelo contexto político-econômico europeu.Na concepção mercantilista, a riqueza era proporcional à acumulação de metais preciosos. Mas, inicial-10FTC EAD | GEOGRAFIA


mente, apenas uma pequena parcela das terras americanas revelou tais riquezas. Tornava-se necessário,em terras em princípio desprovidas de riquezas metálicas e ocupadas por uma rala e primitiva população,como no caso do Brasil, descobrir outros meios de ocupação que deveriam, obviamente, ser harmônicoscom as preocupações mercantilistas dos colonizadores.Esses fatos esclarecem, em boa parte, o espírito com que os europeus se deslocaram para a América.A ideia de povoar não ocorreu inicialmente. Eram a exploração dos recursos naturais e o comércioque interessavam. A colonização dos trópicos se fez sob o aspecto de uma grande empresa comercial,mais complexa que a antiga, mas sempre com o mesmo caráter, isto é, explorar seus recursos naturais emproveito do comércio europeu.A estrutura socioeconômica montada nas colônias tropicais, como o Brasil, caracterizou essa preocupaçãomercantil e correspondeu à fórmula mais adequada para atender aos interesses, fosse do capitalismocomercial, que a montou, fosse do capitalismo industrial, seu sucessor. A economia colonial,fundada na exportação de produtos primários, exigiu a organização de setores básicos para o seu funcionamento,entre os quais as atividades de subsistência (produção de alimentos para abastecimento interno)e as atividades voltadas à exportação (transportes terrestres, aparelhamento portuário, etc.).A economia colonial se apresentou, portanto, desde o seunascimento, como uma organização de produção bastante complexa.A produção colonial se ajustava às necessidades do mercadoeuropeu e às ambições da burguesia mercantil. A colonização,bas<strong>ead</strong>a na produção de matérias-primas, foi direcionada preferencialmentepara a zona intertropical, cujas condições naturaispermitiram a implantação de atividades agrícolas <strong>complementar</strong>es,não concorrentes com a agricultura temperada da Europa.Como tal, a economia colonial, tornada altamente especializada,estava fundamentalmente voltada à produção de poucos, mas altamenterentáveis, produtos. Era o funcionamento de uma economiaespecializada, que passaria por transformações que atendessemà evolução do capitalismo, e que manteve, no decorrer dotempo, as mesmas características essenciais em sua estrutura.Cada ciclo introduziu um conjunto de técnicasno território brasileiro, que geraram, igualmente,significativas mudanças espaciais.As principais áreas tropicais americanas, mesmo tendoalcançado sua independência política nas primeiras décadas doséculo XIX, constituíram-se num excelente mercado consumidorpara os produtos da nascente e crescente indústria europeia,sendo ainda a principal fonte fornecedora de matérias-primas.Portanto, toda a evolução do moderno capitalismo está associadaa esta divisão internacional do trabalho: áreas produtorasde matéria-prima e importadoras de produtos industriais (periferia)e áreas consumidoras de matéria-prima e exportadoras deprodutos industrializados (centro).Organização do Espaço Brasileiro 11


Saiba mais!Pau-brasil• Pouca interferência técnica;• Não necessitava a ocupação do território;• Pouca infra-estrutura instalada;• Conceito de território questionado.Portanto, embora se sucedessem no Brasil diferentes fases econômicas (açúcar, ouro, diamantes,café, algodão, borracha), com importância variável, elas certamente atuaram, com maior ou menor intensidade,na organização do espaço brasileiro.Destacaram-se, inicialmente, a extração do pau-brasil e plantação de cana-de-açúcar.A exploração do pau-brasil, de curta duração e caráter predatório, não chegou a imprimir modificaçõessubstanciais na paisagem. Mesmo sendo abundante nas matas da faixa litorânea, desde a Paraíba atéo Rio de Janeiro, essa exploração não contribuiu diretamente para o processo de ocupação européia doBrasil porque, ocorrendo o esgotamento das reservas em determinada região, a feitoria construída para oarmazenamento das toras, e seu posterior embarque para a Europa, era abandonada.Foi com a cana-de-açúcar, cultivada mais intensamentena Zona da Mata Nordestina, principalmente em Pernambucoe no Recôncavo Baiano, que ocorreu transformaçãomais efetiva do espaço, bem como um povoamento colonialmais acentuado. A cultura da cana-de-açúcar foi favorecidapelos seguintes fatores:1)Clima quente e úmido, com duas estações bem definidas:uma chuvosa, favorável ao plantio e crescimento dacana; outra seca, durante a qual se faziam a colheita da canae sua transformação nos engenhos.2)Solos férteis, principalmente o de massapê, uma terraescura, muito comum no litoral nordestino.3)Matas que forneciam matéria orgânica ao solo e madeirapara servir de combustível nos engenhos e para a fabricaçãode caixotes, nos quais se embalava o produto a ser exportado.4)Relativa proximidade do mercado consumidor europeu.Esses foram os principais fatores que colaboraram não só para a rápida expansão da cultura canavieira,como também para uma transformação radical da paisagem regional e não apenas a litorânea.Definia-se, assim, uma unidade de produção caracterizada pela presença da grande propriedade (latifúndio),pela monocultura (cana-de-açúcar) e pelo trabalho escravo (inicialmente indígena, posteriormenteafricano), cuja produção se destinava basicamente ao mercado europeu, do qual ela dependia. Tal sistemarecebe a denominação de “plantation”.12FTC EAD | GEOGRAFIA


Atenção!O Brasil foi, durante muitos séculos, um grande arquipélago,formado por subespaços que evoluíram, segundo lógicaspróprias, ditadas em grande parte por suas relações com o mundoexterior. Havia, sem dúvida, para cada um desses subespaços,pólos dinâmicos internos. Estes, porém, tinha entre si escassarelação, não sendo interdependentes.SANTOS, Milton.A urbanização brasileiraDesta forma, a ocupação do espaço e a exploração dos recursos naturais no Brasil pelos portuguesestiveram início com o desenvolvimento do capitalismo comercial. Desde então, as relações sociais e a relaçãosociedade-natureza no território brasileiro passaram a ser determinadas pelo sistema socioeconômico capitalista.A noção de desenvolvimento nesse sistema é bas<strong>ead</strong>a na ampliação da capacidade de produção debens, com menores custos, para gerar mais lucros aos empresários. Esse processo deu origem a fortesdesigualdades sociais, principalmente nos países subdesenvolvidos, onde o Estado não contribui suficientementepara diminuir as diferenças entre as condições de vida das classes sociais.<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>Os sucessivos meios técnicosNa sua evolução, como lembra o filósofo Alfred Whiteh<strong>ead</strong> (1919), a natureza diversifica-see se faz outra porque mudam seus elementos e ela própria como um todo. Analogamente, o movimentoda sociedade e a transformação dos conteúdos e funções dos lugares podem ser entendidospelas sucessivas divisões territoriais do trabalho (M. Santos, 1996, p. 105). A produção em cadalugar é o motor do processo, porque transforma as relações do todo e cria novas vinculações entreas áreas. Distribuído no território ao sabor do trabalho morto, isto é, dos lugares já organizadospara uma dada produção, o trabalho vivo organiza-se sob novas formas de produção e circulação,e desse modo uma nova divisão territorial do trabalho se impõe à preexistente.Mais tarde, a invenção e difusão das máquinas e a elaboração de formas de organização maiscomplexas permitiram outros usos do território. Novas geografias desenham-se, sobretudo a partirda utilização de prolongamentos não apenas do corpo do homem, mas do próprio território, constituindoverdadeiras próteses. O período técnico testemunha a emergência do espaço mecanizado.São as lógicas e os tempos humanos impondo-se à natureza, situações em que as possibilidadestécnicas presentes denotam os conflitos resultantes da emergência de sucessivos meios geográficos,todos incompletamente realizados, todos incompletamente difundidos.Poderíamos assim reconhecer diversos momentos em um processo de evolução que é permanente.No primeiro podemos falar do território brasileiro como um arquipélago, contendo um subsistemaque seria o arquipélago mecanizado, isto é, o conjunto de manchas ou pontos do território ondese realiza uma produção mecanizada. Depois, a própria circulação se mecaniza e a industrialização semanifesta. É somente num terceiro momento que esses pontos e manchas são ligados pelas extensõesdas ferrovias e pela implantação de rodovias nacionais, criando-se as bases para uma integração doOrganização do Espaço Brasileiro 13


mercado e do território. Essa integração revela a heterogeneidade do espaço nacional e de certo modoa agrava, já que as disparidades regionais tendem, assim, a tornar-se estruturais.Santos, M.; Silveira M. L O. Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 9ª ed. Riode Janeiro: Record, 2006.As redes técnicas no BrasilA ampliação da capacidade de produção de bens tem sido feita à custa de uma forte intervençãona natureza.Desde a chegada dos portugueses, a natureza brasileira foi considerada um potencial a ser exploradoe ocupado, justamente por ter muitos recursos e espaços habitáveis a oferecer.A preocupação do poder político e do poder econômico sempre foi em relação ao que a naturezapode oferecer para o País atingir um crescimento econômico cada vez maior, com mais bens produzidos,e não se podemos viver melhor aproveitando o que a natureza nos oferece sem degradá-la, conservando-apara as gerações futuras.Diante disso, não é difícil perceber que as paisagens naturais brasileiras sofreram e vêm sofrendomuitas alterações e agressões.Durante 500 anos houve retirada de recursos da natureza e degradação ambiental, sem que, no entanto,a maior parte da população pudesse usufruir a riqueza e desfrutar melhores condições socioeconômicas.Dentre as variadas formas de atuação dos agentes privados e públicos que contribuíram para atransformação dos espaços naturais e a degradação do ambiente, podemos destacar:• retirada da madeira para diversos fins (tingimento de tecidos, construção civil, fornecimento delenha, confecção de móveis);• expansão das atividades agrícolas e da pecuária;• retirada de diversos tipos de minérios;• construção de rodovias e ferrovias;• construção de usinas hidrelétricas;• alterações nos cursos dos rios para facilitar a navegação;• lançamento de poluentes nos rios, no solo e na atmosfera;• construção de cidades.14FTC EAD | GEOGRAFIA


Ao longo dos séculos, a cada período um produto diferente alcançava destaque, por isso, convencionou-sechamar cada um desses períodos de ciclos econômicos. No período pré-colonial tem-se o Ciclodo Pau-Brasil, que tinha um grande valor no mercado europeu, pois sua seiva, de cor avermelhada, eramuito utilizada para tingir tecidos. Ao longo da história outros ciclos se sucederam, assim, temos ainda oCiclo da Cana-de-Açúcar, Ciclo do Gado e do Couro, Ciclo da Mineração, Ciclo da Borracha e o Cicio doCafé, estando este último diretamente relacionado com o processo de industrialização no Brasil, principalmentena Região Sudeste. Todavia, é importante lembrar, a divisão em ciclos econômicos é meramentedidática, pois, em verdade, não se comportaram como fases, existindo simultaneamente vários períodos.A agricultura brasileira, desde a época colonial, não cumpria o papel de alimentar a população. Osgovernos militares, por exemplo, lhe atribuíram uma tarefa suplementar: produzir combustível (álcool)para a indústria automobilística e, assim, o processo de industrialização que se acelerava passou a exigirmatérias-primas de origem agrícola, como o algodão e a soja. Ao lado dos produtos de exportação, algunsprodutos para a indústria tiveram sua produção estimulada, mais uma vez em detrimento dos alimentos.Sem esquecer ainda que parte da indústria mais legitimamente nacional, como a de tecidos e calçados,acabou por voltar-se mais para a exportação.O novo sistema da naturezaO fato, porém, hoje é que se os grupos humanos têm o poder demodificar a ação das forças naturais, a natureza ainda obriga esses gruposa adaptações, ou impõem resultados diversos a ações semelhantes.O progresso técnico não elimina a ação da natureza A ação humanase verifica segundo diversos modelos:• Quando o homem tem força para modificar os aspectos do quadronatural, fazendo deste uma segunda natureza mais adaptada aos seus fins;• Quando o homem, prevendo as mudanças conjunturais do quadro natural, se prepara, seja paratirar partido dessa mudança, seja para reduzir os seus efeitos nefastos ou puramente negativos.Por exemplo, os efeitos de uma g<strong>ead</strong>a sobre uma plantação hoje não são os mesmos, não têm osmesmos resultados que há cinqüenta anos, quando as formas de proteção da atividade agrícola não eramconhecidas ou não eram possíveis;• Quando, através do conhecimento das possibilidades de oscilação das condições naturais consideradasem relação com a atividade humana desenvolvida nesta ou naquela área, o homem imagina,elabora, codifica, impõe um sistema regulador mediante o qual os danos sociais ou individuais são coletivamenteabsorvidos.Por exemplo, quem paga ao produtor sua proteção contra as intempéries? Podemos chamar a issode natureza socializada? Há uma socialização da natureza quando a sociedade se torna responsável pelaação do grupo sobre a natureza, isto é, quando a sociedade é responsável pelo trabalho de todos.Nem sempre pode haver controle ativo da natureza, mas apenas controle passivo. Por exemplo,quando se escolhe, cientificamente, a melhor estação do ano para plantar este ou aquele produto ou quandose elaboram controles financeiros ou fiscais tornando, por exemplo, o preço garantido, independentedas condições climáticas. É como se a natureza aqui fosse esquivada, ludibriada na sua ação, não significando,porém, que ela deixe de existir ou de agir.Estamos, pois, diante de um novo sistema da natureza. Hoje, o homem não comanda as intempéries,mas tem conhecimento prévio de sua eclosão. Tem condições de prever os terremotos, as enchentes, etc.,e isso pode mudar as suas conseqüências. São, certamente, esses dados naturais “invencíveis” (ao menosaté agora) que então incluiríamos no capítulo da geografia física? Restam, ainda, muitas outras coisas: ascorrentes fluviais e aéreas, os movimentos de oceanos e mares, a erosão e os escorregamentos de terrenos,a expansão e a retração das calotas glaciais, o ritmo das florestas, a biografia dos seres vivos, etc.Organização do Espaço Brasileiro 15


A geografia física deveria, então, contentar-se com uma geomorfologia dinâmica, uma climatologiae uma biogeografia nos seus numerosos e múltiplos intercursos? Ou deveríamos nos aprofundar cada vezmais nos processos, verticalmente buscando mais e mais leis de causa e efeito, afunilando o objeto de nossapreocupação, para descobrir as primeiras e últimas verdades que estejam ao nosso alcance, mesmo que ointeresse do homem já estivesse ausente? Quem sabe nossa pesquisa, hoje, apenas abarque o domínio deinteresse das sociedades humanas mais complexas ou sofisticadas; mas, e amanhã? Deve o cientista limitarseu escopo diante de uma história que ainda está por ser feita, mas que pode ser feita em um amanhã nãodistante? Este é, sem dúvida, um dilema,bem como toda busca de definição de um objeto é dilemática.Assim como a história jamais se escreve na véspera, a nova história das relações do homem com a naturezanão pode ser cabalmente prevista. Há, todavia, alguns nortes: devemos buscar o conhecimento dos sistemas,a geografia física buscando uma sistematização horizontal, já que a busca de relações verticais infinitas nosimpossibilita o avanço. Há um domínio particular da geografia física, pois, apesar dos avanços da técnica, ahistória não é indiferente aos dados naturais. E a geografia regional, faria ou não o casamento entre a geografiafísica e a humana, como durante algum tempo se pretendeu? R. Lobato Corrêa (1986) já respondeu aessa questão de maneira adequada, mostrando o interesse e os limites do método regional.O que se poderia, também, sugerir é a ótica abrangente, a ótica da produção das coisas, ou melhor,dos fenômenos tanto naturais como sociais. Isso levaria a uma outra forma de pensar o estudo regional,vendo a região como o lugar onde a ação se passa. É o espaço da ação, do impacto da ação; esta tantoé natural quanto humana, pode ter origem local ou distante, mas sempre resulta em um impacto sobreum pedaço do território. Esta ação se exerce sobre objetos naturais e criados. A verdade, porém, é que,com o avanço da técnica, os objetos criados substituem cada vez mais os objetos naturais, mas aparecemtambém como objetos naturais aos olhos das novas gerações. É a história de sua produção que distinguea natureza herdeira do natural e a que provém do artifício.SANTOS, Milton. METAMORFOSES DO ESPAÇO HABITADO, fundamentosTeórico e metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo 1988.A evolução da técnica no BrasilPara fins de melhor entendimento da evolução das técnicas no Brasil, ela pode ser dividida em quatrofases, sendo que essas se mostram como referências para a evolução da estrutura industrial no país.1a fase: 1822 a 1930Período de reduzida atividade industrial, dado a característica agrário-exportadora do país. Doisfatos facilitaram a industrialização nessa fase: a abolição da escravatura e a entrada de imigrantes, essesúltimos possuem papel importante no processo de industrialização ao servir de mão-de-obra para as indústriasque se instalaram na Região Sudeste.16FTC EAD | GEOGRAFIA


2ª fase: 1830 a 1956O ano de 1930 é considerado como o da “Revolução Industrial” no Brasil. A Crise de 1929 determinoua decadência da cafeicultura e a transferência do capital para a indústria, o que, associado àpresença de mão-de-obra e mercado consumidor, vai solidificar a concentração industrial no Sudeste,especificamente em São Paulo. Esta fase, assim como a primeira, tem urna característica inicial de quaseexclusividade de indústrias de bens de consumo não duráveis - as que produzem bens para consumo emgeral imediato, como as de alimentos. No entanto, a ação do Estado começa a alterar o quadro, com ogoverno de Getúlio Vargas criando as empresas estatais do setor de base - essas produzem bens que dãoa base para o funcionamento de outras indústrias, ou seja, as chamadas matérias primas das indústrias ouinsumos industriais, como o aço. Assim, surgem no País empresas estatais como a CSN (Companhia SiderúrgicaNacional - siderurgia), PETROBRAS e a CVRD (Companhia Vale do Rio Doce - mineração).3ª fase: 1956 a 1989Compreende o período de maior crescimento industrial do País em todos os tipos de indústria,tendo como base a aliança entre o capital estatal e o capital estrangeiro. O governo Juscelino Kubitschekdá início à chamada “Internacionalização da Economia”, isto é, facilita a entrada de empresas transnacionais,especialmente as do setor automotivo. Novos investimentos públicos são realizados visando aocupar a mão-de-obra flutuante (construção de estradas, barragens, novas siderúrgicas). O capital estrangeiroobsoleto é atraído sob a forma de indústria automobilística. Esta resolveria vários problemas: asuperprodução petrolífera daqueles anos; a transferência de maquinaria obsoleta americana para o Brasil;e a expansão das economias alemã e francesa do pós-guerra. Assim, surgem as fábricas Willis-Overland(americana), a Volkswagen (alemã) e Simca-Chambord (francesa), além de outras. Forma-se uma elitedirigente convencida da necessidade do capital estrangeiro como dinamizador de nosso desenvolvimentoindustrial. Para essa elite, o nosso subdesenvolvimento ligava-se ao antigo modelo agroexportador; bastava,portanto, industrializar o País e nosso atraso seria superado. Para completar o “desenvolvimento”,Juscelino fez construir uma nova capital, Brasília, síntese do seu programa desenvolvimentista. No PlanaltoCentral, entre índios e onças, surge o centro administrativo daquilo que seria o futuro Brasil.Temos, também, o período do “Milagre Brasileiro”, que determinou crescimento econômico, mastambém aumento da dívida externa e concentração de renda.Organização do Espaço Brasileiro 17


<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>O crescimento econômico e a destruição da naturezaOs resultados do crescimento econômico não podem ser avaliados por uma fria porcentagemque indica se a economia cresceu 2% ou 9% ao ano. O sistema de contabilidade da economiacapitalista não incorpora indicadores de qualidade de vida, de saúde ambiental, de desenvolvimentocultural, de ampliação dos tempos livres e não leva em conta a depreciação ecológica — o quanto“se gasta” do patrimônio ambiental a cada ano.A contabilidade capitalista quantifica o que se produz para a venda no mercado. Fora isso,é como se as atividades não existissem para as contas nacionais. As atividades artísticas em casa,a ajuda na educação do filho, a ginástica e alimentação equilibrada e o trabalho na associação demoradores para o reflorestamento de encostas representam um redondo zero para a contabilidadenacional. (...)A contabilidade capitalista computa o desgaste das máquinas, dos prédios e dos equipamentos,subtraindo do total anual da produção um valor, designado amortização e calculado em funçãode tempo de vida útil. Por exemplo, se um equipamento tem vida útil de 20 anos, a cada ano subtraise1720 do seu valor para sua reposição ao fim do período.A destruição da natureza, o empobrecimento dos solos, a exterminação dos cardumes, o custoda descontaminação radioativa não aparecem nessas contas. É como se a natureza constituísseuma coleção de bens infinitos e gratuitos.Carlos Minc. Ecologia e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. pp. 92-3.TERCEIRA FASE – MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONALMilton Santos defende a idéia de que após a Segunda Guerra Mundial instaurou-se un períododecorrente do desenvolvimento urbano-industrial, o período técnico-científico, consolidado em escalaplanetária a partir da década de 1970.O avanço técnico e científico e o crescente processo de industrialização, seja nos países ricos, sejanos pobres, nos capitalistas ou nos socialistas, vêm progressivamente interferindo, agredindo e alterandoa natureza em benefício dos interesses imediatos dos homens.A crescente industrialização concentrada em cidades, a mecanização da agricultura em sistemas de monocultura,a generalizada implantação de pastagens para criação de gado, a intensa exploração de recursosenergéticos, como o carvão mineral e o petróleo, a extração de recursos minerais, como o cobre, o ferro, oouro, o estanho, o alumínio, o manganês, entre inúmeros outros, alteram de modo significativo a terra, o ar e aágua do planeta, chegando algumas áreas a degradações ambientais irreversíveis. Nesse processo acelerado detecnificação das sociedades humanas, algumas regiões do planeta foram palco de maiores alterações.As mudanças são quantitativas, mas também qualitativas. Se até mesmo nos inícios dos temposmodernos as cidades ainda contavam com jardins, isso vai se tornando mais raro: o meio urbano é cadavez mais um meio artificial, fabricado com restos da natureza primitiva, crescentemente encobertos pelasobras dos homens. A paisagem cultural substitui a paisagem natural e os artefatos tomam, sobre a superfícieda terra, um lugar cada vez mais amplo. Com o aumento das populações urbanas, ocupadas em atividadesterciárias e secundárias, o campo é chamado a produzir mais intensivamente. No século XIX, para18FTC EAD | GEOGRAFIA


alimentar um urbano eram necessárias cerca de sessenta pessoas trabalhando no campo. Essa proporçãovai se modificando ao longo destes dois séculos. Em certos países, hoje, há um habitante rural para cadadez urbanos. No Brasil caminhamos para igual proporção em certas regiões, como na maior parte doEstado de São Paulo. A agricultura passa, então, a se beneficiar dos progressos científicos e tecnológicos,que asseguram uma produção maior sobre porções de terra menores. Os progressos da química e dagenética, juntamente com as novas possibilidades criadas pela mecanização, multiplicam a produtividadeagrícola e reduzem a necessidade de mão-de-obra no campo.A urbanização ganha, assim, novo impulso e o espaço do homem, tanto nas cidades como no campo,vai se tornando um espaço cada vez mais instrumentalizado, culturizado, tecnificado e cada vez maistrabalhado segundo os ditames da ciência. O capital constante que, antes, era um apanágio das cidades,sobretudo naquelas onde se concentrava a produção industrial, passa, também, a caracterizar o própriocampo, na forma de implementos, fertilizantes e inseticidas, máquinas e sementes selecionadas. Essecapital constante fixo ou localizado chega, aliás, a toda parte apoiado pela expansão da rede de estradasde ferro e de rodagem que vão assegurar uma circulação mais rápida e relativamente mais barata, sem aqual o abastecimento das cidades se tornaria impossível. O fato de que a energia se transporta em formade eletricidade ou através de modernos condutos de óleo, de gasolina ou de gás vai permitir, depois, adesconcentração industrial, enquanto no século passado o fenômeno da industrialização explica as grandesconcentrações urbanas da Europa e do leste dos Estados Unidos. Os transportes se modernizam,encurtando as distâncias entre as cidades e dentro delas. E o urbanismo subterrâneo se transforma emum suporte indispensável às formas de vida e às atividades econômicas contemporâneas.Tudo isso se dá em um quadro de vida no qual as condições ambientais são ultrajadas, com agravos àsaúde física e mental das populações. Deixamos de entreter a natureza amiga e criamos a natureza hostil.A sociedade industrial que o mundo contemporâneo edificou, sejano sistema de produção privado da economia capitalista, seja no sistemasocialista, interferiu profundamente na natureza. Para produzir mercadoriase equipamentos, foi necessário instalar extensos complexos industriais,e, para alimentá-los, foi exigida a extração de matérias-primas e aexploração de fontes energéticas do mundo todo. É em torno das áreasde concentração industrial que a economia gravita e, para alimentar essecomplexo sistema, o homem destrói a natureza. Apesar de não haver parteda Terra em que o homem não esteja intensificando a exploração dosrecursos naturais, extensas áreas ainda têm suas características ambientais relativamente preservadas.Entre elas estão as florestas tropicais da Amazónia e da África centro-ocidental, as florestas temperadasfrias da Sibéria, Canadá, Alasca e pequenas áreas do norte da Europa e noroeste dos Estados Unidos.Organização do Espaço Brasileiro 19


Conhecimento do meio e mobilidade espacial constituem-se em condições incontornáveis da vidacotidiana e da reprodução material da existência individual e coletiva, mesmo antes da emergência doespaço geográfico. À medida que o meio natural se transforma em meio técnico e, mais tarde, em meiotécnico-científico (Santos, 1994), novas formas de conhecimento emergem, intermediadas por objetostécnicos cada vez mais sofisticados e capazes de alcançar vastas porções da superfície terrestre, para muitoalém do lugar e da região. Esta, em tempos remotos, quando ainda detinha autonomia de existência ede significado, era resultado das interações entre grupos sociais e seu meio, dos quais derivavam técnicaspróprias, além de uma cultura local que incluía um conhecimento, compartilhado por todos, do meiogeográfico e da paisagem. Hoje os saberes locais são progressivamente deslocados do centro da vidadas comunidades para ocupar uma posição excêntrica frente aos conhecimentos produzidos a distância,fragmentados, parciais e obedientes a interesses externos ao lugar. É assim que um dos elementos fundamentaisda dimensão geográfica da vida é produzido e apropriado por poucos — aqueles que têm acessoàs tecnologias da informação — e imposto como norma à maioria.<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>A união entre ciência e técnica que, a partir dos anos 70, havia transformado o território brasileirorevigora-se com os novos e portentosos recursos da informação, a partir do período da globalizaçãoe sob a égide do mercado. E o mercado, graças exatamente à ciência, à técnica e à informação,torna-se um mercado global. O território ganha novos conteúdos e impõe novos comportamentos,graças às enormes possibilidades da produção e, sobretudo, da circulação dos insumos, dos produtos,do dinheiro, das idéias e informações, das ordens e dos homens. É a irradiação do meio técnicocientífico-informacional(M. Santos, 1985, 1994b, 1996) que se instala sobre o território, em áreascontínuas no Sudeste e no Sul ou constituindo manchas ou pontos no resto do País.A questão da fluidez do espaço apresenta-se agora em outros termos. Como a informaçãoe as finanças passam a ser dados importantes, se não fundamentais, na arquitetura da vida social,o espaço total de um país, isto é, o seu território enquanto suporte da produção em todas as suasinstâncias, equivale ao mercado. Desse ponto de vista distinguem-se, no País, áreas onde a informaçãoe as finanças têm maior ou menor influência, da mesma maneira que antes a questão se colocavaquanto aos produtos e à mão-de-obra. Embora as estatísticas por elas mesmas não o digam,definem-se agora densidades diferentes, novos usos e uma nova escassez.Santos, M.; Silveira M. L. O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI. 9ª ed.Rio de Janeiro: Record, 2006.Qual o papel da informação e de seu controle para os habitantes do planeta Terra neste final deséculo? As telecomunicações fizeram a integração dos diferentes lugares e reduziram o tempo necessáriopara produzir e circular informações. Seja quando você entra na cabine de um banco eletrônico e, comum cartão magnético, é capaz de retirar instantaneamente uma certa quantidade de dinheiro. Seja quandoo caixa de uma cadeia de supermercados faz a leitura do código de barras de um determinado produtoou mercadoria e esse código entra numa rede de informações que permite o surgimento instantâneo, no20FTC EAD | GEOGRAFIA


caixa eletrônico, do preço do produto, assim como informa simultaneamente, para o setor de estoque, aredução de uma unidade daquele produto para posterior reposição.Essas mudanças só foram possíveis pela aplicação maciça da microeletrônica na vida cotidiana,criando novas maneiras de organizar a produção e a administração dos negócios. A informática e a telemáticasão exemplos marcantes das formas atuais de organização do espaço geográfico no período,segundo Santos (1994), denominado de período técnico-científico-informacional.Uma das realidades mais extraordinárias do mundo atual é avelocidade com que são transmitidas informações entre diferenteslugares, quer estejam próximos quer distantes, fazendo deles lugaresmundiais. A comunicação e a circulação de informações - dados,idéias ou decisões - ocorrem instantaneamente, no chamado tempozero. Isso sem falar que essas informações podem chegar, ao mesmotempo, em vários lugares. Velocidade, instantaneidade e simultaneidadesão características do que chamamos de globalização.Nas últimas décadas, a revolução tecno-científica em cursose deu destacadamente no campo da microeletrônica e das telecomunicaçõese ocorreu juntamente com a reestruturação da produção e do trabalho no sistema capitalista,da economia internacional e dos territórios. A alta tecnologia permitiu a crescente internacionalização daeconomia e a interpenetração das economias nacionais, ou seja, a interpenetração do capital, do trabalho,dos mercados e dos processos de produção bas<strong>ead</strong>os na informação. E, com isso, países e nações deixamde ser unidades econômicas de nossa realidade histórica.A economia capitalista, dominante no mundo, estimula a competição econômica e força as empresas- principalmente as de grande porte - a buscarem a eficácia, gerando com isso uma sucessiva revoluçãodo trabalho, da técnica e dos produtos. Sistemas cada vez mais aperfeiçoados de comunicação e de fluxosde informações, junto com técnicas mais racionais de distribuição, tais como empacotamento, controle deestoques e conteinerização, permitem a aceleração das atividades e da circulação de mercadorias. Bancoseletrônicos e dinheiro “de plástico” são inovações que agilizam os fluxos de dinheiro e permitem a aceleraçãodos negócios nos mercados financeiro e de serviços, tanto nacionais como internacionais.A economia de mercado sempre buscou a redução das distâncias, porque isso significaria reduçãodo tempo de produção, de circulação e de consumo de mercadorias e, conseqüentemente, redução doscustos, pois, no sistema capitalista de produção, tempo é dinheiro. Grandes avanços foram feitos nessesentido, ao longo do século XIX e na primeira metade do século XX. Eram inovações voltadas para a remoçãodas barreiras espaciais - uma questão “deveras geográfica” na história das sociedades capitalistas.Foi isso que aconteceu quando surgiram as estradas de ferro, o cabo submarino, o telégrafo sem fio,o automóvel, o telefone, o rádio, o avião a jato e a televisão que, ao formarem redes técnicas de circulação ecomunicação, permitiram (cada um a seu tempo e interligando-se aos demais) realizar integrações territoriais,quebrando as barreiras físicas para o transporte e para a circulação de matérias-primas, de bens produzidos,de pessoas, de idéias, de decisões e de capital. Mas nenhuma dessas inovações comprimiu tanto o espaço,acelerando o processo de integração, como as novas tecnologias da informação . Hoje ocorre um aumentosignificativo na densidade das redes de circulação e de comunicação. E essas redes podem se superpor umasàs outras, permitindo simultaneamente a aceleração nos processos de integração produtiva, integração demercados, integração financeira, integração de informações. Mas, ao mesmo tempo e perversamente, geramum processo de desintegração, pelo qual países e nações são excluídos das vantagens propiciadas pela altatecnologia da informática, como ocorre, notadamente, com nações africanas.No entanto, a exclusão não se dá apenas em relação às nações mais pobres. Tal exclusão atinge tambémmilhões de trabalhadores nas economias de tecnologia mais avançada. Em países desenvolvidos, máquinas estãosubstituindo trabalhadores de escritórios e operários que, a cada dia, engrossam as filas dos desempregados.Organização do Espaço Brasileiro 21


Segundo Santos (1994), a tecnologia é um fator importante, mas ela, por si só, não explica a históriados homens. Portanto, para o melhor entendimento deste novo paradigma, torna-se necessário consideraruma gama de conhecimentos que perpassa por uma análise dentro de uma perspectiva dos lugares ede regiões com todas as suas nuanças e particularidades, compartilhando tudo isso com os processos dedesenvolvimento em escala global.<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>A sociedade em redesComo a cidadania moderna implica um contrato, um pertencimento e uma noção de mundoque choca o universal com os diferentes particularismos, regionalismos e localismos, temos aí, exatamente,as zonas de fricção desta com a globalização.A partir daí, podemos inferir a existência de um processo mais geral, onde o mundo setorna cada vez mais mundo, quer como sistema, como objeto de compreensão cultural ou comomaterialidade e ação que articulam através das redes o universal ao local; e outro de caráter maisespecífico e concomitante, no qual o território é o seu ponto de clivagem, com rebatimentos quese estendem até ao lugar. Desse modo, o território se constitui tanto em nível do Estado-naçãoquanto em nível local, uma mediação necessária que (re)coloca limites, interseções e contradiçõespara as ações globalizadas.Assim sendo, as ciências sociais estão instadas a aprender, também, a caminhar na incerteza,a inventar métodos de pesquisa e a dialogar com as denominadas ciências exatas e da vida. Adimensão espacial da ação, ao transformar os parâmetros de observação da realidade social, exigeousadia na proposição de novas teorias e conceitos a partir da experiência das sociedades periféricas.Contra os espaços alisados é necessário afirmar as rugosidades, como disse Santos (1996), e veras rugas que se acumulam nos rostos das sucessivas gerações de marginalizados e espoliados.Podemos afirmar que não existem conclusões definitivas sobre a sociedade em rede. Apesarde visualizarmos, a cada ano, o fio se tecer rapidamente, dando forma e contorno às redes, nãoexistem ainda ajustes decisivos sobre essa questão. Entretanto, neste momento histórico, as redesde informação impõem desafios e apresentam uma nova paisagem a ser decifrada, necessitandoainda de intensas reflexões, debates e discussões.Robson LinsBASES MATERIAIS E CONHECIMENTO SOBRE OTERRITÓRIOSegundo Milton Santos (2003), nos últimos decênios o território conhece grandes mudanças emfunção de acréscimos técnicos que renovam a sua materialidade, corno resultado e condição, ao mesmotempo, dos processos econômicos e sociais em curso. Destacamos, aqui, as infra-estruturas de irrigação eas barragens, portos e aeroportos, as ferrovias, rodovias e hidrovias, as instalações ligadas: energia elétrica,refinarias e dutos, as bases materiais das telecomunicação, além de semoventes e insumos ao solo.Durante praticamente todo o período colonial, a ocupação e o povoamento do território brasileiroforam um permanente e constante objetivo de Portugal, em virtude da lei internacional do uti possidetis.Por essa lei, vigente na Europa logo após os grandes descobrimentos, todas as nações européias pode-22FTC EAD | GEOGRAFIA


iam invocar o princípio da efetiva ocupação para reivindicarem a posse de territórios recém descobertos.Daí o empenho português de povoar a colônia e, até mesmo, de interligar as várias províncias brasileiras,para preservar a integridade de seu território. Esta preocupação com a unidade nacional tornou-secada vez maior ao longo do tempo. Logo após a Independência e durante todo o Império, a integridadeterritorial da nação chegou a ser ameaçada por inúmeros movimentos separatistas de inspiração regionalistaou republicana, vindo a fortalecer, ainda mais, a necessidade da criação, pelo governo central, deinstrumentos eficazes de preservação da unidade do País. Com a instauração da República, a integraçãoao litoral de vastas e despovoadas áreas do Brasil Central passou para a ordem do dia nas discussões doParlamento nacional, destacando-se, entre várias evidências desta visão integracionista, as políticas deincentivo à construção de ferrovias e a consignação, já na primeira Constituição republicana, da intençãoda mudança da capital federal para o Planalto Central.Na primeira metade do século XX, a percepção de que o Brasil ainda constituía um imenso arquipélagode ilhas econômicas traduziu- se na ideologia nacionalista da marcha para o Oeste e, nesta linha,os governos de Vargas e de Kubitschek consagraram a integração nacional como objetivo prioritário dapolítica pública, por meio de grandes obras rodoviárias e da construção de Brasília. E, ainda recentemente,nos governos militares dos anos 60 e 70, a integração do País vem a ser tratada como assunto desegurança nacional, sendo definitivamente consolidada.As bases materiais brasileirasO desenvolvimento industrial exigiu o aumento da produção de energia, pois esta é a atividadeque mais consome energia no Brasil. As indústrias utilizam grandes quantidades de energia elétrica paramovimentar suas máquinas; a fabricação em larga escala de aço, alumínio e outras maté-rias-primas pelasindústrias de base consomem mais energia do que muitas cidades de porte médio. Na medida em queesse setor industrial se expandiu no Brasil foi necessário ampliar a oferta de energia elétrica, que pode serobtida de duas formas: através do calor (termoelétricas) e através da água (hidroelétricas).As termoelétricas tradicionais utilizam carvão ou petróleo para gerar eletricidade; já as centraisnucleares, são termoelétricas que consomem minerais radioativo, como o urânio, para a operação de seusreatores. A quantidade de eletricidade gerada em termoelétricas no Brasil é relativamente pequena, já quedispomos de um grande potencial hidroelétrico.As termoelétricas a carvão se concentram no Estado de Santa Catarina, onde se localizam as principaisjazidas carboníferas e, a cidade de Manaus, por sua vez, é em parte abastecida por uma termoelétricamovida a óleo diesel, um derivado do petróleo. O Brasil é um dos poucos países industrializados em quequase toda a energia elétrica é obtida nas usinas hidroelétricas. Por meio de uma barragem de concreto,a água do rio é represada para, então, cair de uma grande altura sobre imensas turbinas que, ao girarem,produzem energia elétrica.A Região Sudeste é a maior consumidora de energia elétrica do País, utilizando a energia gerada nausina de Itaipu, uma das maiores do mundo, situada no Rio Paraná, na fronteira com o Paraguai. O rioSão Francisco também é muito importante na geração da energia elétrica, pois abastece os Estados nordestinos,e suas usinas foram implantadas com o objetivo de estimular a industrialização na região.A bacia dos rios Tocantins e Araguaia, na Região Norte, sedia uma das maiores hidroelétricas doPaís, a usina de Tucuruí. Ela foi construída para alimentar as indústrias produtoras de alumínio, que utilizamas reservas de bauxita do Pará. A indústria de alumínio é eletro intensiva por excelência: nenhumaoutra consome tanta energia.A principal fonte utilizada no Brasil é o petróleo, sendo difícil imaginar o mundo sem o mesmo.O grande desafio da humanidade é encontrar-lhe substitutos. Muito se especula sobre por quanto tempoesse recurso permanecerá disponível. Alguns estudiosos falam em 20 anos, outros em 40. De qualquermodo, essas previsões são sempre relativas, pois se baseiam no consumo, na produção e nas reservasOrganização do Espaço Brasileiro 23


disponíveis, cujos valores estão em contínua oscilação. Tal é a utilidade do produto, que alguns estudiososchegaram a afirmar que fazemos parte da chamada “civilização do petróleo”. O consumo anual depetróleo no mundo chegou a 3 bilhões e 100 milhões de toneladas em 1991, Desse total, 53% foramconsumidos pelo setor dos transportes; a indústria química, que tem no petróleo uma de suas principaisfontes de matéria-prima e, a partir dele, fabrica uma infinidade de produtos (plásticos diversos, solventes,cosméticos, medicamentos, detergentes, tintas, fibras sintéticas), consumiu 9%.O gás natural é freqüentemente encontrado associado ao petróleo, por se formar do mesmo modoe por se acumular no mesmo tipo de terreno. Esse produto teve um aumento substancial de consumo,sendo utilizado, em 1950, por apenas 15 países e chegando, em 1993, à marca de 70 países, com um crescimentoda produção na ordem de 2% ao ano.O gás natural oferece algumas vantagens em relação ao petróleo: é menos poluente, as reservas conhecidaspodem durar cerca de 60 anos e estão distribuídas em diversos continentes. Além disso, o custo de geraçãode energia elétrica, utilizando-se o gás natural, é bem menor em relação às outras fontes (carvão, urânio —energia atômica; água dos rios — energia hidrelétrica), o que incentiva bastante sua utilização. Entretanto, oscustos de exploração e de transporte (construção de gasodutos) são maiores do que os do petróleo.No Brasil, a existência de reservas consideráveis de gás natural na bacia do rio Urucu, a 600 km deManaus (Amazonas), motivou, em 1993, a formação de uma associação entre a Petrobrás e a Eletronorte,a fim de que essas reservas possam ser aproveitadas para a geração de energia elétrica. Atualmente,acordos bilaterais entre países da América do Sul, a exemplo de Venezuela e Bolívia, visam um maiorconsumo deste produto nos grandes centros regionais brasileiros, através de ramificações de dutos queatravessam o País inteiro.A energia hidrelétrica no BrasilNo Brasil, a grande disponibilidade de rios de planalto e a carência de petróleo, carvão mineral e gásnatural levaram o poder público a optar pela hidreletricidade como principal matriz energética.24FTC EAD | GEOGRAFIA


Os primeiros registros da história da hidreletricidade no Brasil são dos últimos anos do Império,quando o crescimento das exportações, principalmente de café e de borracha, culminou com a modernizaçãoda nossa infra-estrutura, tão necessária à produção e ao transporte de mercadorias.A modernização dos serviços de infra-estrutura abrangia, também, serviços públicos urbanos,como linhas de bondes, rede de água e esgoto, iluminação pública e a produção e distribuição de energia.Com o aumento das atividades industriais e da urbanização, o investimento na área de energia elétrica,ainda muito tímido, passou a ser bastante atrativo.Há relatos de instalação de pequenas usinas com pouca potência, destinadas a usos privados emmoinhos, serrarias e algumas tecelagens no final do período Imperial. A grande concentração dessas usinasocorreu em Minas Gerais, disseminando-se na direção sudeste, até chegar a São Paulo.Em 7 de setembro de 1889, às vésperas da proclamação da República, foi inaugurada a primeirausina hidrelétrica de maior porte destinada ao.serviço público, com uma potência instalada de 250 kW,construída no rio Paraibuna com o objetivo de fornecer eletricidade para iluminação pública da cidade deJuiz de Fora, na então província de Minas Gerais.A evolução do parque gerador instalado sempre esteve intimamente atrelada aos ciclos de desenvolvimentonacional. Os períodos de maior crescimento econômico implicavam um aumento da demandade energia e, conseqüentemente, a necessidade de ampliação da potência instalada. Igualmente, nasépocas recessivas, o ritmo de implantação de novos empreendimentos diminuía.Em síntese, entre 1880 e 1900 o aparecimento de pequenas usinas geradoras deveu-se basicamenteà necessidade de fornecimento de energia elétrica para serviços públicos de iluminação e para atividadeseconômicas, como mineração, beneficiamento de produtos agrícolas, fábricas de tecidos e serrarias. Nessemesmo período, a potência instalada aumentou consideravelmente com a vinda de recursos financeirose tecnológicos do exterior para o setor elétrico. Multiplicaram-se as companhias de geração, transmissãoe distribuição de energia elétrica nas pequenas localidades. As duas primeiras companhias de eletricidadesob controle de capital estrangeiro, que tiveram importância na evolução do serviço elétrico, foram a Lighte a Amforp, instaladas nos dois centros onde nasceu a indústria nacional, São Paulo e Rio de Janeiro.Até a virada do século XIX para o XX predominou a geração de energia elétrica através de centraistermelétricas. Em 1901, com a entrada em operação da “Hidrelétrica de Parnaíba” (atual Edgar deSouza), primeira usina hidrelétrica da Companhia Light, para fornecer eletricidade para a cidade de SãoPaulo, esse quadro mudou em favor da geração hidrelétrica. No ano de 1907, a Light iniciou a produçãode energia elétrica para a cidade do Rio de Janeiro com a entrada em operação da usina hidrelétrica deFontes, no Ribeirão das Lajes. Em 1909, ela era uma das maiores usinas em operação no mundo, comuma potência instalada de 24.000 kW.Organização do Espaço Brasileiro 25


A partir da década de 1920 ampliou-se a produção de energia elétrica com o objetivo de atenderaos constantes aumentos de consumo industrial e urbano. Nessa década, a capacidade geradora instaladafoi duplicada; em 1920, dos 475,7 mW instalados cerca de 78% já eram de origem hídrica. Na segundametade da década de 1920, as empresas Amforp e Light assumiram o controle acionário da maior partedas empresas de energia elétrica atuantes no País. Assim, em 1930, praticamente todas as áreas mais desenvolvidasdo País, e também as que apresentaram maiores possibilidades de desenvolvimento, estavamsob o monopólio dessas duas empresas, restando fora de seu domínio apenas poucas áreas, inexpressivas,tais como os Estados das regiões Norte e Nordeste.A década de 1930, do século passado, trouxe uma nova forma de administrar os recursos hídricos, quepassaram a ser considerados de interesse nacional. O Estado getulista (1930-1945) passou a intervir nesse setordiretamente, assumindo o poder de concessão dos direitos de uso de qualquer curso ou queda d’água, coma decretação do Código das Águas, de 1934, em vigor até os dias atuais. Também nesse período foi criado oConselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), órgão federal responsável pela política de tarifas,organização do setor, controle das concessionárias, interligação entre as usinas e os sistemas elétricos.A década de 1950 inaugurou um longo período caracterizado por empréstimos recebidos do Banco Mundial,que favoreceram a implantação de grandes empreendimentos nacionais e binacionais nas décadas seguintes.Já a década de 1960 foi marcada pela reformulação dos órgãos federais, pela criação do Ministério dasMinas e Energia (MME) e das Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobrás), formadas por quatro empresascontroladas de âmbito regional: Furnas, Chesf, Eletrosul e Eletronorte, e por duas empresas de âmbitoestadual, Light e Escelsa. A criação destes órgãos consolidou a reestruturação do setor elétrico.26FTC EAD | GEOGRAFIA


Acompanhando o crescimento da economia brasileira das últimas décadas, principalmente nosanos 1980, os sistemas de geração e transmissão nacional tiveram de crescer muito para atender às novasdemandas de energia com a qualidade e a confiabilidade necessárias ao desenvolvimento do País.Por isso, a energia hidrelétrica é o serviço público de mais amplo alcance social no Brasil, atendendoa cerca de 92% dos domicílios. Há dois grandes sistemas, interligados por linhas de transmissão, umintegrado pelas empresas concessionárias das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e outro por concessionáriasda Região Nordeste e parte da Norte. Existe ainda um conjunto de mais de 350 sistemas isolados,em sua maioria de pequeno porte e localizados principalmente na Região Norte (Amazônia).<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>IntroduçãoNo Brasil, mais de 90% da energia é produzida nas hidrelétricas, que dependem de água emníveis adequados em seus reservatórios para gerar energia. Infelizmente, este ano, a ausência dechuvas foi das maiores das últimas décadas, prejudicando a oferta de energia. Por isso, os consumidoresterão uma meta a cumprir: reduzir o consumo de energia em, no mínimo, 20%.Reservatórios se mantêm dentro do esperadoOs níveis dos reservatórios das regiões Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste estão se mantendoOrganização do Espaço Brasileiro 27


dentro das expectativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para que o País chegue aofinal de novembro com o mínimo de água que garanta segurança para a geração de energia necessária.De acordo com documento compilado pelo operador no final do mês de maio e apresentadoontem pelo secretário de Energia do Estado de São Paulo e membro da Câmara de Gestãoda Crise de Energia (CGCE), Mauro Arce, durante palestra na Fundação Getúlio Vargas de SãoPaulo (FGV-SP), a expectativa é que nesta sexta-feira (dia 8) os reservatórios do Sudeste/Nordesteficassem em 29,2% de sua capacidade. Como os números relativos a hoje só serão consolidados nofinal da noite, a referência mais próxima é o resultado de ontem, quando o nível médio das represasestava em 29,46%. Levando-se em conta que nos últimos sete dias a redução diária média foi de0,03 ponto percentual no volume de água, a meta deve ser cumprida com folga.No Nordeste, apesar de a situação ser mais grave, em razão de haver praticamente apenas orio São Francisco como fonte para alimentar as reservas, e este estar com seu volume de água muitoabaixo da média, o nível das reservas chegou ontem a 26,70%, enquanto a estimativa ideal parahoje foi fixada pelo ONS em 26,60%. Nos últimos sete dias, também, a média diária de reduçãodo volume de água naquela região foi de 0,07 ponto percentual, o que indica que a meta tambémdeve ser cumprida.Vale observar, porém, que o nível dos reservatórios pode variar em maior ou menor proporçãoem razão de chuvas, evaporação natural e aumento ou redução do consumo de energia a cada dia.Apagão é inevitável se chuva for abaixo de 75% da médiaA cota de redução no consumo de energia, a ser cumprida por todos os consumidores desde1 de junho, continua dependente de um dos fatores que causaram a crise de energia - as chuvas.A meta de redução de 20% só terá resultado para os reservatórios das usinas se chover pelo menos75% da média entre junho e novembro. Caso contrário, os apagões serão inevitáveis.O comportamento atípico das chuvas este ano, que ficaram bem abaixo da média histórica,frustrou o planejamento energético. Em maio, choveu apenas 71% no Sudeste e 40% no Nordesteem relação ao esperado.A crise energética evidenciou um problema até então encarado com timidez ou indiferençapelo poder público em todos os níveis: a iminente crise da água, resultado da super exploração efalta de preocupação ambiental com os mananciais. Má distribuição da água, desmatamento, desperdícioe conflitos de uso são alguns dos problemas que tornam a escassez de água, não mais umapreocupação de ambientalistas e técnicos alarmistas, mas reconhecida até pelo presidente FernandoHenrique Cardoso. Em seu pronunciamento sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente, ele alertousobre a necessidade de preservação das fontes naturais.28FTC EAD | GEOGRAFIA


Essa situação é resultado de um padrão de desenvolvimento sem planejamento, que consomemuita água e energia e não protege os mananciais. A distribuição dos recursos hídricos no paísmaximiza o problema, já que 68% da água brasileira está na região Norte, onde vive apenas 7%da população. Ao contrário, as regiões Sudeste e Nordeste concentram 43% e 29% da população,respectivamente, mas contam com somente 7% (SE) e 3% (NE) da disponibilidade hídrica.A produção de água é uma das funções das florestas, mas 70% da população brasileira viveno Domínio da Mata Atlântica, cuja vegetação foi reduzida pelo desmatamento a menos de 8%da cobertura original. Por isso, a fonte está secando e as medidas conservacionistas são urgentes.Além de manter as águas subterrâneas (lençol freático), a vegetação serve para proteger os corposd´água, através das matas ciliares - faixa de mata de, no mínimo, 30 metros de cada lado dos rios,determinada pela lei.Elas formam uma barreira física, que filtra a água, impedindo a chegada de sedimentos eagrotóxicos. Além disso, colaboram para a manutenção da temperatura da água e conseqüentementepara a manutenção da vida aquática.Considerada uma das três bacias brasileiras em situação mais crítica - junto com as dos riosParaíba do Sul e São Francisco-, a Bacia do Piracicaba, na região de Campinas, em São Paulo, teveseu crescimento econômico ligado justamente à abundância hídrica. O resultado é uma populaçãode cerca de 4 milhões de pessoas, irrigação, indústrias que usam muita água como insumo (cervejarias,refinarias etc.), poluição por esgotos, além da perda de um terço de sua água, que é bomb<strong>ead</strong>apara o Sistema Cantareira, para abastecer mais 3 milhões de pessoas na Grande São Paulo. A conseqüênciaé o risco, a curto prazo, de racionamento de água na região.Fonte: http://www.brasilescola.com/historiab/apagao.htmA evolução dos transportes no BrasilNos quase 500 anos em que se completou o processo de plena ocupação e integração do espaçonacional, a construção de uma rede unificada de transportes foi apresentada sempre como a única formade assegurar a integridade do território. Todavia, foi somente após a Independência que começou a semanifestar explicitamente no Brasil a preocupação com o isolamento das regiões do País como um obstáculoao desenvolvimento econômico.Durante os governos do Império (1822-1889), e de igual forma após a proclamação da República, significativonúmero de brilhantes engenheiros brasileiros elaborou planos detalhados e ambiciosos de transportespara o Brasil. Tendo como principal propósito a interligação das distantes e isoladas províncias com vistas àconstituição de uma nação-estado verdadeiramente unificada, esses pioneiros da promoção dos transportesno País explicitavam firmemente a sua crença de que ocrescimento era enormemente inibido pela ausência deum sistema nacional de comunicações, e de que o desenvolvimentodos transportes constituía um fator crucialpara o alargamento da base econômica do País.Acreditavam, também, que a existência de meiosde comunicação viria promover mudanças estruturaisna economia brasileira, ao permitir o povoamento dasáreas de baixa densidade demográfica e, sobretudo,por possibilitar a descoberta e o desenvolvimento denovos recursos que jaziam ocultos no vasto e inexploradointerior da nação. A promoção da imigraçãotambém era, para muitos desses engenheiros, outroOrganização do Espaço Brasileiro 29


esultado importante que adviria da expansão dos transportes, por propiciar a abertura de novas terrasagricultáveis para colonização.Um claro exemplo dessas preocupações remotas com os transportes como um fator de desenvolvimentofoi o Plano Rebelo, submetido ao governo imperial no ano de 1838 pelo engenheiro José SilvestreRebelo. Concebido antes de o Brasil ter começado a construir as suas primeiras ferrovias, esse plano rodoviáriopropunha a construção de “três estradas reais que, partindo da capital do Império, atingissem o Sudeste,o Noroeste e o Norte do País” [apud Brasil (1974, p.37)]. A despeito de seu óbvio irrealismo para a época, jáque havia escassa justificativa econômica para muitas das estradas propostas, o estudo de Rebelo não deixade constituir um documento histórico de grande importância, por demonstrar claramente as preocupaçõesremotas com a execução de uma política viária de integração nacional. A relevância desse plano se torna aindamais expressiva quando é feita a reconstituição dos traçados das estradas com base nas sugestões idealizadaspelo seu autor, tendo em vista que o plano viário do engenheiro Rebelo conforma-se com perfeição aosprincipais troncos rodoviários que vieram a ser construídos no País mais de um século depois: um, partindoda capital imperial, tomando duas direções, atingindo Porto alegre, ao sul, e toda a atual Região Nordestee parte da Amazônia Ocidental, até Belém do Pará, ao norte; outro, caminhando no sentido do interior doatual Estado de Minas Gerais; e, finalmente, o último tronco, adentrando pelo Centro-Oeste, prolongandoseaté as fronteiras do Mato Grosso com a Bolívia [apud Brasil (op. cit., p. 38)].Ao longo da segunda metade do século XIX, época da introdução das ferrovias no Brasil, umasucessão de planos de viação foi apresentada aos governos, todos eles descartando as rodovias comoprincipal instrumento de integração e colocando ênfase nas vias férreas e na navegação fluvial e marítimacomo a solução para os problemas do isolamento a que ainda se viam submetidas as regiões brasileiras.Dentre as várias propostas da época, vale ressaltar o estudo do engenheiro militar Eduardo José deMoraes, apresentado ao governo imperial em 1869, que continha ambicioso projeto de aproveitamentode vários rios brasileiros. O seu estudo, intitulado “Navegação Interior no Brasil”, destacava as enormespotencialidades das bacias hidrográficas brasileiras, prevendo a implantação de “uma ampla rede de navegaçãofluvial, que facilitaria as comunicações dos mais remotos pontos do país entre si”, por meio daconstrução de canais, eclusas e outras obras de engenharia [apud Brasil (op. cit., p. 41)].O Plano Moraes,como veio a ser chamado, propunha a interligação de todas as bacias hidrográficas do País — a do rioAmazonas e seus afluentes, no Norte, com a do rio da Prata, no Sul, através dos rios Paraná, Paraguai eUruguai, e a desses rios com a do São Francisco, no Sudeste e Nordeste, e, finalmente, a ligação destaúltima bacia com a do rio Parnaíba e seus afluentes, na porção mais ocidental da atual Região Nordeste. Oplano do engenheiro Moraes, a despeito de enfatizar o aproveitamento das vias interiores de navegação,preconizava, ainda, a integração do sistema fluvial com as ferrovias e com a navegação de cabotagem, pormeio da construção de três grandes estradas de ferro conectando os portos do Rio de Janeiro, Salvador eRecife com as bacias dos rios mencionados — tudo isso de uma forma harmônica e coordenada.É importante registrar, ainda, que além de justificar o seu projeto como uma necessidade estratégica paraa defesa nacional, argumentava o engenheiro Moraes ter o seu plano uma forte justificativa econômica porque,de acordo com suas próprias palavras, “a falta de meios fáceis de comunicação e de transportes baratos do interiorpara o litoral, condena[va] os habitantes dessas ricas regiões a só produzirem ou extraírem os gêneros desua indústria e cultura em limitadíssima escala, por terem diante de si uma perspectiva de preço de transporte,igualando, se não excedendo, o valor da mercadoria transportada” [apud Brasil (op. cit., p. 43)].Dadas as condições socioeconômicas em que vivia o País na época — a economia brasileira aindaestava bas<strong>ead</strong>a na escravidão e no latifúndio, e largamente dependente da exploração de uns poucosprodutos exportáveis —, a implementação desses planos e de outros que se seguiram (a despeito de conteremmuitos aspectos realistas e efetivamente implementáveis, mesmo considerando-se a pobreza dosrecursos imperiais) terminou constituindo não mais do que uma aspiração não concretizada de grandesestadistas brasileiros do século XIX.30FTC EAD | GEOGRAFIA


Mas o não-reconhecimento público dos inúmeros planos e estudos apresentados ao Parlamento e àsautoridades governamentais da época não fez cessar a formulação de novas propostas para a solução do problemados transportes no País. E muitos outros planos, uns mais outros menos, ambiciosos se sucederam.O advento da era ferroviária, tanto no Brasil quanto em outros países do mundo, e, principalmente,o reconhecimento dos enormes impactos desenvolvimentistas das ferrovias nos países de colonizaçãorecente, como os Estados Unidos da América, fizeram com que esta modalidade de transporte passassea receber prioridade dos engenheiros de transporte, de sorte que todos os planos apresentados entre operíodo de 1870 até 1930 foram essencialmente ferroviários.Dentre os mais notáveis desses planos, vale mencionar os de Rebouças (1874), Ramos de Queiroz(1874 e 1886), Bicalho (1881), Bulhões (1882), Rodrigo da Silva (1886), o da Comissão da República(1890), o da Viação Férrea (1912) e o de Paulo de Frontin (1927).Em todos esses planos e projetos, se bem que nenhum chegasse a ser implementado ou o fosse apenasparcialmente, havia a justificativa comum de que, diante da precariedade dos sistemas de navegação marítimae fluvial, caberia às ferrovias o papel fundamental de interligar o País e de promover o aproveitamentodas potencialidades das vastas áreas interioranas da nação. “Franquear os tesouros ocultos no coração doBrasil aos povos de todas as nações do globo; disseminar a civilização pelo interior de nosso país; economizaro tempo gasto em percorrer as distâncias, de harmonia com os altos interesses políticos e estratégicos”,e a percepção de que “a grandeza deste país está, antes de tudo, na integridade de seu território” eram, naspalavras do engenheiro Ramos de Queiroz, em memória anexa ao seu plano ferroviário apresentado ao Senadobrasileiro no ano de 1882 [apud Brasil (op.cit., p. 47-48)], a justificativa que norteava os planos paraa integração e o desenvolvimento da economia brasileira a partir da ferrovia.Os transportes no Brasil no século XXIO valor de toda a produção agro-pecuária ou industrial do País é sempre complementado pelos custosde circulação das mercadorias. Os gastos com transporte têm grande participação na formação do preçofinal dos produtos, por isso interferem diretamente na economia do País e no cotidiano das pessoas.A integração dos vários sistemas de transporte, de modo que as mercadorias possam ter, em cadaespaço, a modalidade mais conveniente em termos de economia e rapidez, é um elemento fundamentalna constituição e expansão dos mercados consumidores. Por isso, os meios de transporte são objeto deum ramo especializado da economia.No Brasil, as cinco modalidades de transporte - rodoviário, ferroviário, hidroviário, dutoviário eaéreo - estão subordinadas ao Ministério dos Transportes e Ministério da Aeronáutica; mas o transporterodoviário que, apesar do alto custo e das deficiências das estradas, é o principal do País, também contacom o DNER - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.O sistema de transportes é constituído:• pelo meio - elemento transportador• pela via - trajetória percorrida• pelas instalações <strong>complementar</strong>es - terminais• pela forma de controle - política.Num país de dimensões continentais como o Brasil, com grandes áreas ocupadas e valorizadas economicamente,os meios de transporte são de fundamental importância. Muitos problemas caracterizamo nosso sistema de transportes, como a insuficiência quantitativa e qualitativa da infra-estrutura; a faltade integração e complementação dos diferentes meios de transporte; a situação de concorrência entreos transportes fluviais-marítimos, ferroviários e rodoviários, pelo destaque dado ao último em relaçãoaos primeiros. O transporte rodoviário responde por 96% do’ movimento de passageiros e por 63% dotransporte de carga no País.Organização do Espaço Brasileiro 31


Em virtude da política de transportes implantada no Brasil, especialmente a partir da década de1960, o deslocamento de carga e de passageiros se faz predominantemente por rodovias, consumindogrande quantidade de óleo diesel e gasolina, num país que ainda depende das importações de petróleo,mas possui um dos maiores potenciais hidrográficos do mundo.Analisando o gráfico a seguir, notamos que a rodovia ocupa uma posição de destaque no transportede carga no Brasil e que, apesar de dimensões continentais e farta rede hidrográfica, os demais modaisde transporte são subutilizados.Deslocamento de carga no Brasil segundo o tipo de transporte (2005)Fonte: IBGEO sistema viário brasileiro foi implantado com base em uma economia determinada por um modeloexportador primário: riquezas minerais e agrícolas transportadas do interior do País para os portoslitorâneos. Contudo, a política de transportes implantada no País não levou em conta as características epotencialidades naturais do espaço brasileiro - rico em rios, extenso litoral e elevado potencial hidrelétrico-, privilegiando o transporte rodoviário em detrimento dos mais viáveis: ferroviário e hidroviário.Como conseqüência dessa política, temos o encarecimento do frete, o aumento de preço do produtofinal repassado para o consumidor, uma maior dependência em relação ao petróleo e seus derivadose o aumento do custo de produção e circulação de mercadorias gerando desvantagens para o Brasil nacompetitividade comercial global.32FTC EAD | GEOGRAFIA


Hoje é grande o desafio para eliminar os obstáculos que impedem o aproveitamento econômico dopotencial dos diversos modais de transportes brasileiros, em proveito da redução do custo e do desenvolvimentosustentável e integrado do País.A crise financeira enfrentada pelo setor público reduziu drasticamente sua capacidade de gestão dosistema de transportes, que passou a sofrer grande déficit de investimentos e sucateamento da infra-estruturainstalada. Várias estratégias foram lançadas para enfrentar esse problema; uma delas é a privatização.O que é privatização?Chama-se privatização a aquisição ou incorporação de uma companhiaou empresa pública - estatal - por uma empresa privada - particular.Até 1994, a infra-estrutura de transportes no Brasil era administrada exclusivamentepelo poder público, quando então se abriu à iniciativa privada.O processo de transferência de todo o sistema ferroviário de cargapara o setor privado foi completado em 1998, com o leilão da Malha Paulista,antiga Fepasa. No mesmo ano, o direito de exploração das linhas de trensmetropolitanos do Rio de Janeiro também passou para empresas privadas (espanholas).No caso das rodovias - federais e estaduais - a privatização tem ocorrido por concessão - asempresas concessionárias pagam ao governo pelo direito de explorar, por certo período, determinadostrechos. Até 1997, 856.400 quilômetros de rodovias já haviam sido entregues a empresas privadas, comdireito de exploração por um período de 25 anos. Veja o que isso representa no total da malha rodoviáriado País: O porto de Santos (SP), por exemplo, que passou a ser dirigido pela Companhia Docas de SãoPaulo (Codesp), teve 75% de suas áreas operacionais privatizadas até novembro de 1999.De acordo com o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -, aprivatização é uma forma de promover aumento da taxa de investimento no setor, maior disponibilidadeda oferta de infra-estrutura e redução tarifária dos serviços públicos.As ferroviasAs ferrovias têm a desvantagem da limitação imposta pelos acidentes geográficos - rios, encostasíngremes, vales profundos -, que podem ser vencidos pelos recursos técnicos: pontes, cremalheira oufunicular, túneis. A grande vantagem é a possibilidade de utilizar-se, para a tração, a energia elétrica, nospaíses que dela dispõem em abundância. No transporte pesado - grandes comboios de minérios, porexemplo - é incontestável a superioridade do trem. O mesmo se aplica à ferrovia subterrânea ou subaquáticanas grandes cidades - metrô -, única forma de descongestionar o tráfego de superfície.Organização do Espaço Brasileiro 33


No Brasil, apenas 7% dos 29.577 quilômetros de malha ferroviária, em 1997, eram eletrificados. Essetipo de tração não alcançou grande difusão no País, ficando limitado quase que exclusivamente aos trenssuburbanos das grandes cidades. Isso ocorreu em parte devido ao fato de que a adoção da tração diesel eramais econômica e também em função do escasseamento das verbas para investimentos em ferrovias.Principais ferrovias do Brasil - ano 2000Estrada de Ferro do Amapá (EFA)É a ferrovia que foi construída para fazer o transporte do minério de manganês da Serra do Navioao porto de Santana, no Amapá. A ICOMI - Indústria e Comércio de Minérios - explorou todo o minériodo local. Hoje, a ferrovia, com 194 km de extensão, funciona como necessidade social.Estrada de Ferro Carajás (EFC)Estatal inaugurada em 1985, é a ferrovia mais moderna do País e foi construída com tecnologiainteiramente nacional. Hoje essa estrada é de propriedade da Cia. Vale do Rio Doce e liga, com 892 km(1997), a serra dos Carajás (Pará) ao porto de Itaqui (São Luís do Maranhão), transportando especialmenteo minério de ferro para exportação.Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFUM)Ferrovia criada em 1902 para ligar a cidade de Vitória (ES) a Diamantina (MG), hoje pertencenteà Cia. Vale do Rio Doce. Suas linhas se estendem por quase 900 km transportando aço, carvão, calcário,34FTC EAD | GEOGRAFIA


ferrogusa e principalmente o minério de ferro das áreas produtoras no “Quadrilátero Central” para oexterior, via Vitória e seu porto auxiliar - o de Ponta do Tubarão (exportador).Ferrovia Tereza CristinaCom 164 km de extensão, serve a região carbonífera de Santa Catarina. Concessão da RFFSA -Rede Ferroviária Federal S/A-em 01703/1997.Malha Paulista (antiga Fepasa)Aproximadamente 4.500 km de extensão, leiloados no final do século XX, que servem o Estadode São Paulo e fazem conexões com ferrovias do Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais, ligando essesEstados ao porto de Santos.Organização do Espaço Brasileiro 35


Ferrovia Norte-SulProjeto do governo da “Nova República”, iniciado no ano de 1988, que deveria ligar Brasília e Anápolis(GO) a Açailândia (sul do Maranhão), conectando o tronco sul com a Estrada de Ferro Carajás, quea opera. Em 1997, só funcionavam 92 km desse projeto, que faz parte do acordo com o Japão - Prodecer(Programa de Desenvolvimento do Cerrado) - assinado pelo General Geisel em 1974, visando escoar a produçãode grãos - soja, milho e arroz -principalmente para o Japão - JICA. Esta ferrovia visa economizar osgastos com fretes para o Japão, fazendo com que os grãos cheguem a preços mais baixos naquele país.Ferrovia do AçoConstrução iniciada no ano de 1975 para atender ao triângulo Rio-São Paulo-Belo Horizonte, emvirtude do programa siderúrgico nacional e das metas traçadas quanto ao aumento da exportação dominério de ferro. No entanto, a construção dessa ferrovia, de grande significado econômico e social paraa região, encontra-se apenas com um trecho concluído - ligando Belo Horizonte ao Rio de Janeiro - inauguradono final do governo Sarney.As rodoviasA atual configuração da rede de transportes no Brasil é fortemente condicionada pelo privilegiamentodo transporte rodoviário, apesar da brutal diferença de custos - segundo os especialistas, o transporterodoviário é 3 vezes mais caro do que o ferroviário e 9 vezes mais que o marítimo ou fluvial. Nãoobstante, as rodovias respondem por cerca de 3/4 do total do transporte de cargas e por mais de 90% dotransporte de passageiros no território brasileiro.36FTC EAD | GEOGRAFIA


A opção pelas rodovias firmou-se a partir da década de 1950, quando a quilometragem das estradasfederais e estaduais cresceu 47,7%. No final dessa década (1956-1960) a política desenvolvimentista dogoverno Juscelino Kubitschek provocou um maior crescimento do setor rodoviário, atraindo indústriasmultinacionais automobilísticas para o País.A política de canalizar os recursos preponderantemente ao setor rodoviário prejudicou o processode desenvolvimento do transporte ferroviário, sendo responsável pela decadência das ferrovias que foram,gradualmente, deixadas de lado, com uma significativa diminuição na “quilometragem” da rede.Ao contrário do ferroviário, o desenvolvimento do sistema rodoviário foi orientado para atender omercado interno, caracterizado pela necessidade de ligações inter-regionais.Nas décadas de 1960 e 70, “rodoviarismo” passou a ser sinônimo de integração nacional e, nogoverno Medici - durante a fase do chamado “milagre econômico brasileiro” - foi desenvolvido o maisambicioso projeto de construção de uma obra rodoviária - a Transamazônica, estrada que cortaria todaa região Amazônica, visando a integração comercial da região hostil da floresta. O projeto, após ter sidoparcialmente concretizado, não sobreviveu às insalubridades da região, e hoje a Transamazônica é umaestrada inviável, em muitos pontos obstruída pela floresta e pelas cheias dos afluentes do rio Amazonas.O ambicioso plano rodoviário criado nessa época para integrar todo o território nacional - PIN(Plano de Integração Nacional) - compreende 5 tipos de rodovias federais: radiais, longitudinais, transversais,diagonais e de ligação, identificadas pelas letras “BR” seguidas de um número. Veja:Rodovias Radiais - partem de Brasília em qualquer sentido. Sua numeração vai de l a 100, aumentandoa partir do norte no sentido horário. Ex..: BR-10 Belém-Brasília, BR-40 Brasília-Rio de Janeiro,BR-50 Brasília-São Paulo.Rodovias Longitudinais - traçadas na direção dos meridianos (sentido norte-sul). Sua numeraçãovai de 101 a 200, aumentando de leste para oeste.Ex.: BR-101 Osório (RS)-Fortaleza (CE), BR-116 Jaguarão (RS)-Fortaleza (CE), BR-174 Manaus(AM)-Boa Vista (RR), BR-153 (Transbrasiliana) Aceguá (RS)-Belém (PA).Rodovias Transversais - traçadas na direção dos paralelos (sentido leste-oeste). Sua numeração vaide 201 a 300, aumentando de norte para sul. Ex.: BR-210 (Perimetral Norte) Macapá (AP)-Mitu (AM),BR-230 (Transamazônica) João Pessoa (PB)-Benjamin Constant (AM).Rodovias Diagonais - traçadas diagonalmente. Sua numeração vai de 301 a 400. Ex.: BR-319 PortoVelho (RO)-Manaus (AM), BR-364 Cuiabá (MT)-Porto Velho (RO).Rodovias de Ligação - ligam as anteriores entre si. Sua numeração vai de 401 a 500.Organização do Espaço Brasileiro 37


<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>A estruturação do sistema de transportes no BrasilDados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam que o Brasil, em 1991, possuíacerca de 1.662.000 quilômetros de rodovias contra apenas 30.000 quilômetros de linhas férreas,dentro dos seus 8,5 milhões de km 2 . Um país com dimensões continentais, como o nosso, deveprivilegiar o transporte ferroviário, hidroviário e marítimo, que são os que notoriamente consomemmenor quantidade de energia. Mas não é o que ocorre no Brasil.Se no passado tivemos uma boa rede ferroviária para as condições da época, hoje ela é menor,menos eficiente, desaparelhada e sucat<strong>ead</strong>a, em boa parte. Ramais e linhas consideradas ineficientese deficitárias foram desmanchadas ou desativadas. Em vez de se modernizá-los, optou-se porabandoná-los. As importantes linhas no passado foram construídas para dinamizar a exportaçãode produtos primários e matérias-primas, formando os chamados “corredores de exportação”. Ocaso do estado de São Paulo é um exemplo clássico desse modelo.Coube à rede rodoviária o papel de integração do território nacional. O poder público, especialmenteapós o fim da Segunda Guerra Mundial, optou pelo rodoviarismo. No governo JK(1956-1961), coincidindo com a instalação em nosso país de grandes montadoras de veículos, orodoviarismo foi uma das metas do governo, com a construção da Belém-Brasília.A irracionalidade de nosso sistema de transporte é de tal ordem que uma mercadoria fabricadana cidade de São Paulo, distante 60 km do porto de Santos, o mais importante da América do Sul, éenviada de caminhão a Salvador, Recife e Porto Alegre, embora sejam todas cidades litorâneas. Sabemosque o automóvel, o ônibus e o caminhão têm a vantagem da mobilidade, o que não se verificacom os trens. Mas o custo de transporte ferroviário é bem menor. Justifica-se o uso de transporterodoviário para pequenas e médias distâncias, na medida em que é desaconselhável a construção deestações ferroviárias muito próximas.Nos países desenvolvidos há uma associação estreita entre os diversos tipos de transportesutilizados. Quando uma carga é colocada em um caminhão para ser levada a um ponto distante,o bom senso determina que se coloque o caminhão em cima de um trem ou no interior de umnavio. Ao alcançar seu destino, o caminhão usufruiria sua mobilidade rodoviária para atingir seudestino, economizando combustível, evitando o desgaste do leito da rodovia, diminuindo o riscode acidentes e de roubos.Nossa estruturação de transporte é, obviamente, ineficiente. Estudos técnicos comprovamque, enquanto um litro de diesel permite a um caminhão transportar por um quilômetro uma cargade 30 toneladas, numa ferrovia esse mesmo litro pode transportar 125 toneladas e numa hidrovia,525 toneladas. Portanto, o transporte rodoviário consome quatro vezes mais energia comparativamenteao ferroviário, e quinze vezes mais em relação ao hidroviário.Distribuição de cargas (em percentagem)Brasil EUA AlemanhaHidrovia 2 25 29Ferrovia 28 50 53Rodovia 70 25 1.8Fonte: O Estado de S. Paulo, 27.03.1994.38FTC EAD | GEOGRAFIA


A partir do início da década de 1990, alguns estados e o governo federal começaram a modificaresse panorama, com a construção de hidrovias. Mais uma vez São Paulo tomou a iniciativa que,na verdade, já vinha ocorrendo desde a década anterior. A inauguração da hidrovia Tietê-Paraná éum marco nesse processo. Outra mudança decorre da privatização dos portos e da Rede FerroviáriaFederal S/A (RFFSA). Como é do interesse do capital privado a diminuição dos custos, o aumentoda competitividade e da lucratividade, é possível que o rodoviarismo seja, em parte, substituído peloferroviarismo e hidroviarismo.Como está, o nosso sistema de transportes consome enorme quantidade de derivados depetróleo, uma fonte energética cara que o Brasil ainda tem de importar.Schneeberger e FaragoTransporte hidroviárioA euforia pelo transporte rodoviário também prejudicou o desenvolvimento do transporte hidroviáriono Brasil. Mas hoje os transportes marítimos e fluviais têm sido objeto de atenção por parte dogoverno federal e de interesse por parte de grupos da sociedade civil. As propostas de modernização darede portuária incluem a sua privatização e reaparelhamento.O Brasil possui 44 portos marítimos e fluviais, operados por cerca de 62.000 trabalhadores, conformedados do Ministério da Marinha. Os de maior movimento são os de Santos, Rio de Janeiro, PortoAlegre, Rio Grande, Salvador e Recife.Alguns portos exercem função especializada para operar com determinados produtos, como mostrao quadro a seguir:Outros estão na ponta dos chamados “corredores de exportação” - sistemas de circulação de mercadoriasque integram hidrovias, rodovias e principalmente ferrovias e portos equipados para exportaçãode determinados produtos.Organização do Espaço Brasileiro 39


Portos do BrasilO governo federal, por meio da Diretoria de Infra-Estrutura Aquaviária, vem implementando oPrograma de Desestatização do setor portuário, previsto na Lei nº 8.630, de 25/02/93, que compreendea privatização dos serviços portuários, o arrendamento de áreas e instalações, a reestruturação das CompanhiasDocas Federais e, com base na Lei nº 9.277, de 10/05/96, autoriza a delegação da exploração <strong>ead</strong>ministração de portos a municípios e Estados da Federação.A modernização portuária trouxe muitos avanços, dentre os quais a passagem da operação paraa iniciativa privada. Antes de 1998, o tempo médio de movimentação de um contêiner era de cinco minutos,hoje encontra-se no patamar de 1 minuto e 30 segundos, o que determina uma movimentaçãoaproximada de 40 contêineres por hora.A melhoria dos processos de movimentação de contêineres coloca o País em posição competitivano cenário mundial. O custo de movimentação de um contêiner baixou, no mesmo período, para algoem torno de US$ 90 a US$ 130, contribuindo sensivelmente para redução dos custos portuários, comreflexos favoráveis à balança comercial.Principais pontos e mudanças postos em práticaO arrendamento de áreas e instalações; a implantação de 26 Conselhos de Autoridade Portuária ea pré-qualificação de cerca de 700 empresas de operação portuária. Até o final de 2001, foram celebrados98 contratos de adesão para movimentação de cargas em terminais de uso privativo; oito convênios dedelegação com Estados e municípios, envolvendo 15 portos; habilitadas instalações portuárias ao tráfegointernacional; implementadas novas estruturas tarifárias; aprovados regulamentos de exploração deportos, aprovados Planos de Desenvolvimento e Zoneamento de Portos; e implementado processo dereestruturação das Companhias Docas Federais.A Diretoria de Infra-Estrutura Aquaviária mantém atualizados os dados relativos a 76 terminais deuso privativo cujas explorações foram autorizadas mediante a celebração de Contratos de Adesão, bemcomo informações de outros 11 terminais autorizados. A partir da Lei dos Portos foram celebrados 94Contratos de Adesão, destes dois foram rescindidos por desistência dos titulares e cinco tiveram as suasautorizações extintas.Principais portos brasileirosPrincipais portos marítimos, fluviais e lacustres40FTC EAD | GEOGRAFIA


Fonte: site do Ministério dos Transportes ( www.transportes.gov.br )Atividade Complementar1. Elabore um texto sobre o processo de formação das redes técnicas no Brasil.Organização do Espaço Brasileiro 41


2. Analise esse trecho: “O Brasil foi, durante muitos séculos, um grande arquipélago, formado porsubespaços que evoluíram, segundo lógicas próprias, ditadas em grande parte por suas relações com o mundoexterior”. Trecho retirado do livro do Prof. Milton Santos “A Cidade nos Países Subdesenvolvidos”.3. Comente a situação dos modais de transporte no Brasil.Indicação: discutir no texto os tipos deserviços que atuam nas cidades grandes.4. Analise os diferentes períodos do território brasileiro identificado por Milton Santos. Indicação:volte ao texto e reflita.5. Construa um texto relacionando Revolução Industrial no Brasil.UMA NOVA ORGANIZAÇÃO DOTERRITÓRIO BRASILEIROORGANIZAÇÃO PRODUTIVAA sociedade brasileira mudou muito nas últimas décadas e os espaços urbanos passaram a concentrara maioria das nossas contradições econômicas, políticas e sociais.No início da década de 1930 a industrialização dava seus primeiros passos através do capital nacionale já apontava para uma nova etapa de desenvolvimento econômico que o País seguiria.Com a entrada do capital internacional, a partir do final da década de 1950, o Brasil passou de naçãoessencialmente agrícola - exportadora de matéria-prima - a produtor de industrializados.42FTC EAD | GEOGRAFIA


Esse processo resultou numa alta concentração urbana, significando alteração no ritmo e no modode vida das pessoas. O espaço geográfico foi se transformando e somente uma análise crítica dessa dinâmicapode explicar a nova realidade que surgia.Observar a paisagem industrial pode nos dar uma idéia desse processo de transformação, mas ébuscando os “porquês” que vamos entender a indústria como o fenômeno econômico que caracteriza afase moderna da nossa sociedadeO desenvolvimento das atividades agrícolas, principalmente a cafeicultura no Centro-Sul, crioucondições de acumulação de capitais para o aparecimento e desenvolvimento das atividades industriais.As primeiras indústrias surgiram no País no início do século XX e eram basicamente indústrias de bens deconsumo não-duráveis (alimentícias, têxteis, etc). Impulsos de ordem econômica, como a dificuldade do País emimportar devido à crise do preço dos produtos agrícolas nacionais, favoreceram a industrialização após 1930.Essas dificuldades em importar, aliadas ainda mais à necessidade de manter a produção industrialdurante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), impulsionaram o aparecimento das primeirasindústrias de base, setor industrial que alimenta os demais , destacando-se a Companhia SiderúrgicaNacional de Volta Redonda (CSN) e a Petrobras.A partir da década de 1950 começou a ser montado no Brasil um importante e diversificado parqueindustrial. O País, que até então tinha basicamente indústrias tradicionais (que ocupam grandes contingentesde mão-de-obra e se apoiam em tecnologia atrasada) ou de bens de consumo não-duráveis (artigosde utilidade individual ou familiar), inaugurou indústrias de base, também chamadas de bens de produçãoou bens de capital, como siderúrgicas, energia, petroquímicas e mecânicas. Estas permitiram, nos anossubseqüentes, a ampliação das indústrias modernas ou de bens de consumo duráveis (automóveis eeletrodomésticos mais sofisticados), portadoras de tecnologia avançada, com operários especializados eelevada taxa de investimento por pessoa empregada.O Estado, com financiamento público e por meio de suas empresas, preencheu “vazios da economia”investindo na montagem da infra-estrutura básica - estradas, portos, usinas hidrelétricas e tornandoseempresário, controlando as principais indústrias de bens de produção, especialmente as siderúrgicas,hidrelétricas e petroquímicas.A política de incentivos fiscais, de câmbio e outras vantagens (mão-de-obra barata, mercado consumidorcativo e emergente, infra-estrutura já montada) oferecidas pelo governo atraíram investimentosdiretos das empresas transnacionais, que montaram no País suas subsidiárias, sobretudo no setor de indústriasmodernas ou de bens de consumo duráveis, a partir da segunda metade da década de 1950.Secundariamente, as empresas transnacionais investiram e controlaram indústrias de bens de consumonão-duráveis ou tradicionais, setor dominado por empresas privadas nacionais, em sua grandemaioria indústrias de pequeno e médio porte.Na década de 1980, tornou-se cada vez mais evidente o esgotamento de um padrão de desenvolvimentobas<strong>ead</strong>o na grande presença do Estado, não só como regulador e provedor, mas sobretudo comoempresário-produtor. O chamado modelo do Estado Nacional desenvolvimentista, que lançou as basesda industrialização do País com forte estatização da economia, encontrava-se falido.A crise da década de 1980 foi responsável pelo estrangulamento da capacidade de investimento doEstado. A falta de recursos refletiu-se no sucateamento de setores importantes da infra-estrutura produtiva(energia, transporte e comunicações). A desregulamentação da economia e o Programa Nacional dePrivatizações nasceram nesse contexto de crise.Paralisado pelas dívidas, o Estado empenha-se em transferir parte de seu aparelho produtivo à iniciativaprivada, caracterizando a inserção do Brasil no modelo neoliberal de economia, a partir de 1990.Apesar da diversidade e complexidade, a indústria brasileira ainda é muito dependente da importação debens de produção, insumos básicos e, sobretudo, de tecnologia estrangeira.Organização do Espaço Brasileiro 43


<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>As relações de trabalho e a urbanizaçãoA cidade é a expressão maior da sociedade contemporânea. Ela é natureza transformada, espaçogeográfico construído e dinâmico, lugar de ir e vir, do fluxo intenso de informações e de efervescênciacultural.A cidade não é uma paisagem estática, já que é a expressão da sociedade múltipla, especialmentequando age como pólo de atração de gente que carrega os contrastes regionais. A cidadepossui movimento: sobre um espaço construído, constrói-se e reconstrói-se.A urbanização é um processo que é parte de outros processos, de outras transformações de carátermais amplo. Transformações políticas, econômicas e culturais que atuaram na origem e na evoluçãodas cidades.Na sociedade contemporânea há inúmeros papéis urbanos, com acentuada divisão social eterritorial do trabalho, diferindo das comunidades primitivas onde não existia divisão do trabalho.Havia somente a divisão de tarefas em função das diferenças de papéis entre homens, mulheres,jovens e velhos. Assim como não havia a divisão social, não havia também a divisão territorialdo trabalho: a que existe entre a cidade e o campo.Divisão do trabalho - distribuição de tarefas entre os indivíduos ou agrupamentos sociais,de acordo com a posição que cada um deles ocupa na estrutura social e nas relações de propriedade.A divisão do trabalho ocorre em relação a tarefas econômicas, políticas e culturais. Algumaspessoas trabalham nas linhas de montagem das fábricas, outras na construção civil, outras aindasão médicos, escritores, professores ou empresários. Nesse processo as pessoas desempenham funçõesespecializadas e <strong>complementar</strong>es. Numa firma de construção, por exemplo, há engenheiros,arquitetos, funcionários administrativos, economistas e os pedreiros que trabalham diretamente naconstrução dos prédios. Cada um deles realiza determinado trabalho que resulta no acabamentofinal do edifício. Essa distribuição de tarefa ocorre mesmo numa pequena empresa, ampliando-seconsideravelmente numa grande indústria.No âmbito das nações, a divisão do trabalho ocorre na especialização da produção, que caracterizaa economia nacional. Assim, existem nações que produzem tecnologia sofisticada, bens decapital, ou fornecem capital para outras - é o caso das nações ricas. Outras nações são fornecedorasde matérias-primas para o mercado internacional; nesse grupo incluem-se principalmente as naçõesde passado colonial, que foram até recentemente dominadas pelas grandes metrópoles capitalistas.À medida que se desenvolvem novos processos tecnológicos, aumenta a divisão de tarefas e funçõesna elaboração de determinado produto. Esse fato resulta em maior produtividade do trabalho,menor custo com mão-de-obra e menos tempo na execução das tarefas.Nos primeiros agrupamentos sociais humanos a primeira divisão do trabalho foi entre a coletae a caça, e correspondia à divisão de papéis entre os sexos: o homem caçava e a mulher coletava.Posteriormente vieram outras atividades como o pastoreio e a agricultura e, com o surgimento dascidades no Oriente, desenvolveram-se funções como o artesanato e o comércio. Mas foi a partirda Revolução Industrial e do intenso desenvolvimento do modo de produção capitalista que seintensificou esse processo diferenciador de funções. Fragmentaram-se cada vez mais as tarefasprodutivas e as administrativas. Especializou-se também o trabalho intelectual. Ao mesmo tempoque essa repartição aumentou a produtividade do trabalho, trouxe também graves conseqüênciassociais para a vida do indivíduo e das classes.Dicionário de Economia. SP: Editora Best Seller, 199444FTC EAD | GEOGRAFIA


As primeiras cidades fundadas pelos portugueses na nossa faixa litorânea eram essencialmentemercantis, cidades-portos, por onde escoavam o pau-brasil, depois a cana-de-açúcar e depois o café. Apartir delas, o Brasil se articulava à economia capitalista mundial como colônia agro-exportadora.Na sua forma de construção eram também cidades-fortes, para garantir o controle do poder português sobrea colônia, com um caráter político que se expressava em inúmeros papéis burocráticos e administrativos.Com a independência do País, o papel mercantil de nossas cidades se reforçou. Os interesses dareprodução capitalista com a ampliação da capacidade de produção industrial, a partir da Inglaterra e emdesenvolvimento na Europa, exigiam mercados consumidores. Continuamos a exportar, mas o comérciode importados ampliou-se.A faixa litorânea ficou bem mais densa e a rede urbana estendeu-se para o interior.Esse processo foi mais acentuado em São Paulo. Os ingleses e os fazendeiros de café começaram aconstruir ferrovias para agilizar o leva e traz de matérias-primas ou manufaturados. Em torno das grandesfazendas de café formaram-se novos povoados - embriões de cidades - mas, até 1930, o Brasil continuou suaexpansão territorial bas<strong>ead</strong>a na agricultura para exportação - na monocultura (cana-de-açúcar, cacau, café).A partir da década de 1930, com a aceleração do processo de industrialização, as funções urbanas seampliaram devido à grande concentração das unidades produtivas e das várias atividades necessárias parao próprio funcionamento industrial. Por exemplo, o setor de serviços, que conferiu ao espaço urbanouma crescente importância na divisão social e técnica do trabalho.A partir daí desenvolveu-se no País o binômio urbanização - industrialização. Imprimiu-se um ritmo nervosode crescimento às cidades, multiplicando-se as funções e atividades urbanas necessárias ao próprio desenvolvimentoindustrial: comércio, setor de serviços, transporte coletivo. Redefinia-se o eixo de nossa urbanização.Com a industrialização abriu-se uma nova era urbana: a da formação de um mercado consumidornacional para uma industrialização predominantemente apoiada na produção de bens de consumo.O perfil de urbanização que se construiu para o Brasil, entre 1930 e 1955, reforçou-se com o governoJK - Juscelino Kubitschek - que, com o slogan “50 anos em 5”, promoveu a industrialização e a modernizaçãoda economia do País, além de transferir a capital federal para o Planalto Central, com a construção de Brasília.Os governos militares pós 1964 continuaram a propiciar condições favoráveis aos investimentosestrangeiros no País - por meio da instalação de unidades industriais ligadas a conglomerados econômicostransnacionais - como as indústrias automobilísticas do ABC paulista.Nos anos seguintes à Segunda GuerraMundial surgiram políticas liberais nos paísessubdesenvolvidos que facilitaram a associaçãoentre o capital internacional e o nacional.Essa associação ofereceu ao capital estrangeirogarantias para a instalação de indústrias,caracterizando as políticas desenvolvimentistasde JK e dos governos militares, até a décadade 1970.Com isso, ampliaram-se ainda mais ospapéis urbanos na divisão territorial do trabalho.As cidades não são mais apenas um espaçodo poder político comercial e um espaçoda produção industrial e do seu consumo.As cidades atuais são o lugar da reproduçãofinanceira do capital; o lugar onde circulamas idéias e as informações. É o lugar ondeOrganização do Espaço Brasileiro 45


habitam, se educam e se preparam, onde circulam aqueles que se integram ao Brasil urbano-industrialenquanto força de trabalho.A concentração de gente e de riquezas nas cidades trouxe seus efeitos para o campo:• O processo de concentração fundiária não se reverteu. Em 1985, apenas 1% dos estabelecimentosagrícolas ocupava 40% da área total agrícola.• Por outro lado, a agropecuária ficou totalmente subordinada ao capital industrial e financeiro.Uma das formas dessa subordinação é o aumento do consumo dos produtos industriais, como máquinasagrícolas, sementes, fertilizantes.• Outra forma de subordinação do campo à cidade revela-se pela expansão da produção agrícola destinadadiretamente ao beneficiamento industrial. É o caso típico da cana-de-açúcar para a produção do álcool.• Uma outra forma de subordinação é que o próprio trabalhador do campo tornou-se consumidorda produção urbana.A divisão de papéis inverteu-se. Atualmente as atividades do campo dependem das atividades e dasdecisões que se desenvolvem nas cidades.Descentralização industrialMilton Santos chama atenção que graças aos progressos da ciência e da técnica e à circulação aceleradade informações, geram-se as condições materiais e imateriais para aumentar a especialização dotrabalho nos lugares. Cada ponto do território modernizado é chamado a oferecer aptidões específicas àprodução. É uma nova divisão terrritorial, fundada na ocupação de áreas até então periféricas e na remodelagemde regiões já ocupadas.Amplia-se a descentralização industrial, despontam belts modernos e novos fronts na agricultura e especializaçõescomerciais e de serviços se desenvolvem em porções do País que apenas no período atual puderamacolher vetores da modernidade. Torna-se mais densa a divisão territorial do trabalho, que se aprofunda aindamais nas áreas já portadoras de densidades técnicas. É o caso da Região Concentrada do Brasil.Você sabe o que é Região Concentrada?Região Concentrada é a área onde os acréscimos de ciência e tecnologia ao território se verificamde modo contínuo. Expressão mais intensa do meio técnico-científicoinformacional,essa Região abrange os Estados do Sudeste (Espírito Santo,Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo), os Estados do Sul (Paraná, SantaCatarina e Rio Grande do Sul) e dois Estados do Centro-Oeste (Mato Grossodo Sul e Goiás), tendo como pólo as metrópoles de São Paulo e do Rio deJaneiro.Nessa Região, a modernizaçãogeneralizada e a intensa circulação interna e comoutras regiões e países correspondem a uma marcadadivisão territorial do trabalho. Sede da agricultura maismoderna do Brasil e do mais expansivo desenvolvimentoindustrial e financeiro, essa área concentra, também,os níveis superiores dos sistemas de saúde, educação,lazer e serviços modernos, como a publicidade, cujasdemandas são garantidas pelo consumo dessa grandeconcentração produtiva e populacional.46FTC EAD | GEOGRAFIA


As metrópoles de São Paulo e do Rio de Janeiro sediam os escritórios das mais poderosasfirmas nacionais e das filiais das empresas globais, que têm um papel de controle do mercado nacionale de comando do respectivo território. É em São Paulo que se elabora e concentra a maiorparcela das informações sobre a economia, a sociedade e o território. A acumulação de atividadesintelectuais assegura a essa metrópole o predomínio das atividades produtivas de ponta, a funçãode suporte aos segmentos modernos da economia do País e, em decorrência, um caráter de encruzilhadana expansão do meio técnico-científico-informacional. Como o território deve ser usado,hoje, com o conhecimento simultâneo das ações empreendidas em lugares distantes, a sua funçãode centro informacional lhe concede uma nova hierarquia no sistema urbano brasileiro.Maria Laura SilveiraAlém de condicionar a construção de especializações, essa nova estruturação segmenta o território.Os compartimentos mais ativos são aqueles mais aptos aos produtos exigidos pelo chamado mercadomundial. Porque é preciso ligar num único processo as parcelas do trabalho desenvolvidas em lugaresdistantes, impõe-se mais cooperação entre pontos do território e a circulação ganha um novo ímpeto.Alargam-se os contextos ao mesmo tempo em que as regiões perdem o comando sobre o que nelas acontece,contribuindo para uma verdadeira fragmentação territorial. As novas vocações regionais são amiúdeprodutoras de alienação, pela pressão da ordem global sobre as populações locais.Dois processos importantes na economia brasileira passaram a ocorrer nos anos 1990: as privatizaçõesde empresas estatais e arelativa desconcentração da atividade industrial (que, na verdade, já vinhamocorrendo desde os anos 1970, mas se intensificam bastante na década de 1990.Em 1991 iniciou-se no Brasil o Programa Nacional de desestatização, com o objetivo de diminuira participação do Estado na produção de bens e no fornecimento de serviços.Na visão do governo brasileiro, de alguns dirigentes dos países desenvolvidos e do empresariadonacional e também estrangeiro, essa diminuição da participação estatal na economia seria importante paraque o Estado pudesse concentrar seus esforços no atendimento de serviços essenciais, como saúde eeducação, à população. Entendiam também que, como algumas empresas geravam prejuízo, seria melhoro Estado vendê-las e investir o dinheiro arrecadado em saúde, educação, enfim, na área social.Passaram, então, a ser vendidas empresas estatais produtoras de aço (siderúrgicas), fornecedoras deenergia elétrica, de serviços telefônicos, de transporte ferroviário, de produção de fertilizantes e matériasprimasderivadas do petróleo, de extração de minérios, de produção de aviões, etc.Além dos grupos favoráveis à privatização, havia também os que a ela se opunham. Esses grupos,formados em parte por sindicatos de trabalhadores, argumentavam que o Estado estava vendendo a umpreço baixo empresas nas quais fez grandes investimentos e que deram lucro. Entendiam também que,principalmente no caso dos serviços, as empresas estatais, como as de telefonia e de fornecimento deenergia, ofereciam um serviço de boa qualidade.De qualquer forma, os setores da sociedade contrários ao processo de privatizações nada puderamfazer para impedi-lo, pois a decisão estava completamente a cargo do poder político.Vale ressaltar que grande parte do dinheiro arrecadado foi utilizada para pagar dívidas do governobrasileiro e não para a área social. Além disso, houve fortalecimento do poder econômio, já que grandes gruposempresariais do Brasil adquiriram empresas de grande porte. Houve também participação significativade empresas estrangeiras na compra das estatais, o que pode contribuir para um aumento da saída de dinheirodo País, uma vez que essas empresas têm liberdade para enviar parte de seus lucros a outros lugaresNa década de 1990, indústrias de áreas que tradicionalmente concentraram grande parte daprodução industrial brasileira, como a região da Grande São Paulo (incluindo o ABC), passaram ase deslocar para outras regiões.Organização do Espaço Brasileiro 47


Com isso, buscavam se livrar dos problemas de transporte, dos prédios com instalações que impedema modernização, dos equipamentos de produção e da pressão de sindicatos bastante organizadose atuantes. Assim, muitas indústrias dirigiram-se para o interior de São Paulo, de Minas Gerais, do Riode Janeiro ou para outros Estados, como Paraná (principalmente a região de Curitiba) e Bahia, onde encontrammão-de-obra mais barata e incentivos dos governos municipais e estaduais (doação de terrenos,impostos mais baixos ou longos prazos sem pagar impostos).Muitas empresas estrangeiras que se instalam no País não procuram mais as áreas industriais tradicionais,próximas às grandes capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), seguindo o mesmorumo das que já estavam estabelecidas no País.As maiores facilidades proporcionadas pelo avanço nos transportes e nas comunicações vêm permitindoessa transformação espacial na distribuição das indústrias.A agricultura também se modernizouA industrialização também modernizou a agricultura, com a introdução de produtos químicos (fertilizantes,agrotóxicos e outros produtos que corrigem deficiências do solo) e máquinas.Grandes grupos empresariais nacionais e estrangeiros passaram a controlar a produção, a comercializaçãoe a industrialização de gêneros agrícolas. Isso sem considerar a presença das multinacionais nossetores de produção e distribuição de agrotóxicos, fertilizantes e adubos, além de sementes selecionadas.A modernização da agricultura, assim como ocorreu com a indústria, deu-se em algumas áreas doPaís, principalmente nos Estados do Centro-Sul. Mas também nessa região a modernização não foi uniforme,havendo áreas de agricultura mais mecanizadas, fortemente integradas às indústrias alimentícias, eoutras tecnologicamente mais atrasadas.Além de intensificar a dependência dos agricultores em relação às indústrias alimentícias, a modernizaçãono campo criou uma nova situação de dependência: a dos produtores rurais em relação àsempresas fabricantes de máquinas agrícolas, de agrotóxicos, adubos e fertilizantes.Em compensação, os ganhos de produtividade obtidos com a modernização e o aumento significativoda produção de alguns gêneros agropecuários e agroindustriais (soja, laranja, milho, algodão, laticínios,óleos vegetais, açúcar) favoreceram uma expansão na exportação de alguns produtos, como soja eaçúcar, e uma redução nas importações de outros, como laticínios. Conforme dados do IBGE, em 1996o Brasil gastou 9,12 bilhões de dólares em importações de produtos agropecuários e agroindustriais; em2001, esse valor caiu para 4,93 bilhões de dólares.De qualquer forma, os médios e principalmente os pequenos agricultores encontram bastante dificuldadepara acompanhar a modernização, uma vez que a maior parte dos financiamentos para o setoragropecuário acaba sendo destinada aos grandes produtores.A mecanização da agricultura proporcionou, por um lado, o aumento da produtividade. Porém, poroutro lado, provocou uma diminuição da quantidade de mão-de-obra empregada.Outro fator que contribuiu para o desemprego no campo foi a introdução dos encargos trabalhistas(salário mínimo, férias, 13º salário), estendendo os direitos dos trabalhadores urbanos aos rurais, em 1964.Como muitos proprietários de terras não queriam ou não podiam assumir esses encargos, passarama dispensar os trabalhadores rurais. A partir de então, surgiu a figura do bóia-fria, que trabalha no campo,mas mora na periferia das cidades.A maior parte dos bóias-frias são trabalhadores temporários, que recebem por dia e não desfrutamde nenhum benefício trabalhista. A falta de incentivo governamental às pequenas propriedades fez comque muitos agricultores precisassem vender suas terras às grandes empresas agropecuárias. Com isso, aconcentração da propriedade rural nas mãos de poucos aumentou.48FTC EAD | GEOGRAFIA


<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>O MSTA foto ao lado mostra uma ocupação de terraspromovida pelo Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST), criado em 1984.0 MST éum movimento que promove ocupações de terrascom o objetivo de pressionar o governo a aceleraro processo de reforma agrária (distribuição deterras). Além disso, ampara o pequeno agricultor eluta pelo fim do latifúndio — grande propriedaderural no campo. Também organiza em cooperativasde produção as famílias que recebem terras do governo, de modo que os pequenos produtorespossam comprar máquinas, equipamentos, agrotóxicos, adubos e fertilizantes e tenham condiçõesde inserir seus produtos no mercado de forma competitiva.FLUXOS DO TERRITÓRIO BRASILEIROOs fluxos aéreosO Brasil, com sua posição geográfica, era, como ainda é, a grande porta aberta sobre o oceanoAtlântico e à época apresentava-se como uma imensidão de território desprovido de qualquer tipo deapoio aos pioneiros das grandes travessias aéreas. Não havia naqueles tempos uma organização quemobilizasse as nações no Brasil no sentido de se organizarem para permitir que o incipiente tráfego aéreotranscontinental fosse mais seguro e confiável. Esta tarefa era então responsabilidade dos própriosoperadores das linhas aéreas, que tratavam de buscar permissão para instalar nos territórios estrangeirosestações de radio telegrafia que pudessem apoiar os vôos das companhias aéreas da época.No Brasil a pioneira dessas estações foi a de Belém do Pará que, já em 1938 cumpria esta tarefa, apoiandoos vôos provenientes dos continentes europeu e africano que se destinavam ao Brasil. Mais tarde, e ainda nadécada de 30, a Air France viria a instalar sua estação pioneira no Brasil em Pernambuco, Recife.Em 1941 ocorre a criação do Ministério da Aeronáutica que reunia em um único ministério tudo quedizia respeito à atividade aérea congregando os setores públicos envolvidos com a aviação e herdando o acervodo Ministério de Viação e Obras Públicas, doExército e da Marinha do Brasil. Reconheciaassim, o Brasil, a importância de organizarsepara fazer face às dificuldades naturaisinerentes à sua grande extensão territorial eem função de apostar no crescimento da atividadeaeronáutica no País como forma deintegrar-se territorialmente, até por questõesde soberania e de estreitamento comercial epolítico com outras nações.A partir daí começa então a nossa história.A gênese do Controle do Espaço AéreoBrasileiro dá-se quase simultaneamenteOrganização do Espaço Brasileiro 49


com a criação da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), em 1946, o Brasil vai figurar entre os10 países mais importantes para a navegação aérea internacional em função exatamente de nossa posição geoestratégica.Este destaque dado ao Brasil mantém-se desde 1946 até os dias atuais.Começamos, por assim dizer, praticamente intimados a tomar posição no cenário da navegação aéreaglobal em face da nossa posição geográfica. Estava lançado o Sistema de Proteção ao Vôo (SPV) que, assimcomo o Correio Aéreo Nacional (CAN), viria a escrever uma das mais heróicas páginas de nossa história.O órgão encarregado de conduzir o SPV recebeu o nome de Diretoria de Rotas Aéreas (DR) eficou diretamente subordinada ao Ministro da Aeronáutica. Seu primeiro diretor foi o insigne MarechalEduardo Gomes, hoje patrono da Força Aérea Brasileira.Saiba mais!• Apesar dos percalços atuais, o Sistema de Transporte Aéreo Civil Brasileiro tem expectativasde acentuado crescimento da demanda nos próximos anos, com conseqüente intensificação doscarregamentos na sua estrutura operacional.• O transporte de passageiros e de cargas através do Sistema de Transporte Aéreo Civil Brasileiroem 1996 e projetado para este inicio de milênio é:Fonte: Kasarda, J.D., 2002, “Competitive Advantage Based On New Logistics and Supply Chain Processes”. Seminário na FGV-EAESP.A partir daí começam a ser instalados os primeiros auxílios à navegação aérea, aproximação e pousono litoral e interior do País. Um auxílio à navegação aérea é um equipamento que emite sinais eletromagnéticospara o espaço e que são captados por instrumentos instalados a bordo das aeronaves. Os sinaiseletromagnéticos convertidos em marcações servem para orientar as aeronaves em suas rotas, permitindotambém que executem operações de aproximação e pouso mesmo estando sem visibilidade, como ocorreem condições de mau tempo ou em operações noturnas.50FTC EAD | GEOGRAFIA


Com os auxílios à navegação aérea sendo sucessivamente instalados em áreas mais movimentadas eas conseqüentes melhorias na comunicações terra avião, começa então a se delinear a primeira possibilidadede organização dos movimentos aéreos ou, no mínimo, garantir-lhes alguma segurança, na medida em queo órgão de controle, conhecendo a posição e a distância em que as aeronaves em contato estão de um determinadoauxílio à navegação aérea, poderá orientá-las, mantendo entre elas uma separação confortável.Transporte marítimo de cargas!No Brasil:• 93% das cargas internacionais passam pelo transporte marítimo de longo curso, sendo que nomundo a média é de 80%;• Na navegação de cabotagem, 99% são granéis, sendo 74% líquidos (petróleo e álcool) e 26% sólidos.;• O transporte fluvial representa 1% dos transportesTráfego Regular (linhas regulares):• Navios atuam sistematicamente entre portos pré-estabelecidos;• Carga geral, normalmente constituída por produtos manufaturados, semi-manufaturados e alimentos;• Rotas permanentes.Tráfego não Regular:• Navios atendem portos de interesse dos embarcadores de cargas, constituindo um serviço spot;• Cargas, em geral, são granéis (commodities);• Rotas variáveis sazonalmente;• Mercado spot com fretes bas<strong>ead</strong>os em bolsas de afretamento.Organização do Espaço Brasileiro 51


ASPECTOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS ESOCIAISA população brasileira!Os meios de comunicação repetem com muita freqüência que o Brasil é um país jovem. Porém, issonão significa que ele seja uma nação recém-nascida ou de pouca idade, pois já se passaram mais de 500anos desde o início de sua ocupação pelos europeus. É importante lembrar que os índios, segundo muitosantropólogos, já habitavam o País há mais de 15 mil anos. A afirmação de que o Brasil é um país jovemprende-se ao fato de que predominavam numericamente entre nós, até recentemente, as pessoas de idadeinferior a 20 anos. Ainda hoje, quase metade da população constitui-se de pessoas nessa faixa etária, oque significa, aproximadamente, a existência de cerca de 80 milhões de jovens, embora o último Censodo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tenha revelado uma diminuição do número dejovens (O a 18 anos) e aumento da expectativa de vida média no País.Nossa juventude desperta entusiasmo e esperança porque ser jovem, em princípio, é estar aberto àsmudanças, ao trabalho, às inovações. Entretanto, se de um lado o quadro é otimista, de outro a situaçãoé profundamente diferente. A presença de um número significativo de jovens no conjunto da populaçãoconstitui-se num problema complexo, com sérias implicações para a economia nacional.Considerando que os jovens, sobretudo os de O a 14 anos, não participam da chamada PEA(População Economicamente Ativa), essa parcela dapopulação demanda inúmeros investimentos estataispara sua proteção e formação - vacinas, creches, escolas,programas de assistência social, etc, diminuindo,portanto, os recursos do Estado para investimentosem áreas como pesquisa, ciência e tecnologia, infraestruturaeconômica, saneamento, etc.De acordo com a contagem feita pelo IBGEem 2000, o Brasil tem uma população que já ultrapassoua casa dos 169 milhões de habitantes,ocupando o quinto lugar no mundo entre os paísesmais populosos, o que corresponde a cerca de 3%da população mundial. Em termos de populaçãoabsoluta, o contingente brasileiro é menor que oda China, da índia, dos Estados Unidos, da Indonésiae da Rússia.Os brasileiros são maioria na América Latina, constituindo mais de 1/3 da população do continenteamericano.Os cinco países mais populosos do mundo (ano 2000)Países Pop. em milhões de hab.China 1.300índia 1.000EUA 282,3Indonésia 206,3Brasil 169,8Fontes: IBGE e World Bank.52FTC EAD | GEOGRAFIA


Crescimento da população brasileiraPara conhecer a população de um país devemos, primeiramente, definir dois conceitos demográficosbásicos.População absoluta: corresponde ao número total de pessoas de uma área. No Brasil, por exemplo,a população absoluta era de 169.799.170 habitantes, pelo Censo de 2000.População relativa: é também chamada de densidade demográfica e é dada pelo número de habitantespor quilômetro quadrado de uma determinada região.A população brasileira, a exemplo do que ocorre em outros países subdesenvolvidos, apresenta umcrescimento bastante acelerado, embora o último Censo tenha revelado uma tendência de retração.Fonte: IBGE.A urbanização brasileiraSegundo Milton Santos, o Brasil foi, durante muitos séculos, um grande arquipélago formado porsubespaços que evoluíram, segundo lógicas próprias, ditadas em grande parte por suas relações com omundo exterior. Havia, sem dúvida, para cada um desses subespaços, pólos dinâmicos internos. Estes,porém, tinham entre si escassa relação, não sendo interdependentes.A partir dos anos 1940-1950 é essa lógica da industrialização que prevalece: o termo industrializaçãoOrganização do Espaço Brasileiro 53


não pode ser tomado, aqui, em seu sentido estrito, isto é, como criação de atividades industriais nos lugares,mas em sua mais ampla significação, como processo social complexo, que tanto inclui a formação de ummercado nacional quanto os esforços de equipamento do território para torná-lo integrado, como a expansãodo consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações e ativa o próprio processo de urbanização.Essa nova base econômica ultrapassa o nível regional, para situar-se na escala do País; por isso, apartir daí uma urbanização cada vez mais envolvente e mais presente no território dá-se com o crescimentodemográfico sustentado das cidades médias e maiores, incluídas, naturalmente, as capitais de Estados.Entre 1940 e 1980 dá-se verdadeira inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira. Hámeio século atrás (1940), a taxa de urbanização era de 26,35% ; em 1980 alcança 68,86%. Nesses quarenta anos,triplica a população total do Brasil, ao passo que a população urbana se multiplica por sete vezes e meia.E, na década de 70-80, o crescimento numérico da população urbana já era maior que o da população total.O processo de urbanização conhece uma aceleração e ganha novo patamar, consolidado na década seguinte.O forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da Segunda Guerra Mundial écontemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de umamortalidade em descenso, cujas causas essências são os progressos sanitários, a melhoria relativa nospadrões de vida e a própria urbanização.Esse período duraria até fins dos anos 60. Ogolpe de Estado de 1964, todavia, aparece comoum marco, pois foi o movimento militar que criouas condições de uma rápida integração do País aum movimento de internacionalização que apareciacomo irresistível, em escala mundial. A economiase desenvolve, seja para atender a um mercado consumidorem célere expansão, seja para responder auma demanda exterior. O País se torna grande exportador,tanto de produtos agrícolas não tradicionais(soja cítricos) parcialmente beneficiados antesde se dirigirem ao estrangeiro quanto de produtosindustrializados. A modernização agrícola, aliás,atinge também produções tradicionais, como ocafé, o cacau, o algodão; alcança produtos como otrigo, cujo volume plantado e colhido se multiplica,implanta-se em muitos outros setores e se beneficia da expansão da classe média e das novas equações d eum consumo popular, intermitente, com o desenvolvimento da produção de frutas, verdura e hortaliças.A população aumentada, a classe média ampliada, a sedução dos pobres por um consumo diversificado eajudado por sistemas extensivos de crédito servem como impulsão à expansão industrial.Neste período, no caso brasileiro, alguns fatos têm que ser resultados:1.Há um desenvolvimento muito grande da configuração territorial. A configuração territorial éformada pelo conjunto de sistemas de engenharia que o homem vai superpondo à natureza, verdadeiraspróteses, de maneira a permitir que se criem as condições de trabalho próprias de cada época. O desenvolvimentoda configuração territorial na fase atual vem com um desenvolvimento exponencial do sistemade transportes e de telecomunicações e da produção de energia.2.Outro aspecto importante a levar em conta é o enorme desenvolvimento da produção material. Aprodução material brasileira, industrial e agrícola, muda de estrutura; a estrutura da circulação e da distribuiçãomuda; a do consumo muda exponencialmente; todos esses dados da vida material conhecem transformaçõesextraordinárias, ao mesmo tempo em que há disseminação no território dessas novas formas produtivas.3.Outro dado importante a considerar é o desenvolvimento de novas formas econômicas: não apenas há54FTC EAD | GEOGRAFIA


um desenvolvimento das formas de produção material, há também uma grande expansão das formas de produçãonão-material: da saúde, da educação, do lazer, da informação e até mesmo das esperanças.Esse movimento de fundo no territórioe na sociedade vai dar, em conseqüência, umanova urbanização brasileira. Um dos elementosfundamentais de sua explicação é o fato deque aumentou no Brasil, exponencialmente, aquantidade de trabalho intelectual. Não se dirá,com isso, que a população brasileira se haja tornadoculta, mas ela se tornou mais letrada. Ofato de que se tenha tornado mais letrada estáem relação direta com a realidade que vivemosneste período científico-técnico, em que a ciênciae a técnica estão presentes em todas as atividadeshumanas. Houve, ao longo da históriabrasileira, quatro momentos, do ponto de vistado papel e da significação das metrópoles.Quando o Brasil urbano era um arquipélago,com ausência de comunicações fáceis entre asmetrópoles, estas apenas comandavam uma fraçãodo território, sua chamada zona de influência.Num segundo, há esforços pela formação de ummercado único, mas a integração territorial é, praticamente,limitada ao Sudeste e Sul. Um terceiromomento é quando um mercado único nacionalse constitui. E o quarto momento é quando conheceum ajustamento: primeiro à expansão e, depois, à crise desse mercado, que é um mercado único, massegmentado, e diferente; um mercado hierarquizado e articulado pelas firmas hegemônicas, nacionais e estrangeiras,que comandam o território com apoio do Estado. Não é demais lembrar que mercado e espaço, ouainda melhor, mercado e território, são sinônimos. Um não se entende sem, o outro.Com o fim da Segunda GuerraMundial, a integração do espaço brasileiroe a modernização capitalistaensejam, em primeiro lugar, uma difusãosocial e geográfica do consumoem suas diversas modalidades e, posteriormente,a desconcentração da produçãomoderna, tanto agrícola quantoindustrial. Em outro sentido, todavia,há um movimento de concentração dasformas de intercâmbio, em nível nacionale estadual ou regional, tanto no âmbitomaterial quanto no intelectual. Acomercialização tende a se concentrareconomica e geograficamente, aindaque a pobreza persistente da populaçãoassegure a permanência de pequenoscomércios e serviços, com estabelecimentosdispersos. As novas formas deum trabalho intelectual mais sofistica-Organização do Espaço Brasileiro 55


do, de que dependem a concepção e o controle da produção são, também, concentrada,ainda que outrasformas de trabalho intelectual cada vez mais numerosas,ligadas ao processo direto da produção mastambém à sua circulação, sejam objeto de dispersão geográfica, atribuindo novas funções às cidades detodos os tamanhos.A nova divisão do trabalhoterritorial atinge, também,a própria região concentrada,privilegiando a cidade de SãoPaulo, a respectiva região metropolitanae seu entorno, ondea acumulação de atividades intelectuaisligadas à nova modernidadeassegura a possibilidadede criação de numerosas atividadesprodutivas garantindolhepreeminência em relação àsdemais áreas e lhe atribuindo,por isso mesmo, novas condiçõesde polarização. Atividadesmodernas presentes em diversospontos do País necessitamse apoiar em São Paulo para um número crescente de tarefas. São Paulo fica presente em todo o territóriobrasileiro graças a esses novos nexos, geradores de fluxos de informação indispensáveis ao trabalhoprodutivo. É desse modo que São Paulo se impõe como metrópole onipresente e, por isso mesmo, e aomesmo tempo como metrópole irrecusável pata todo o território brasileiro.Agora, a metrópole está presente em toda partee no mesmo momento. A definição do lugar é cadavez mais, no período atual, a de um lugar funcional àsociedade como um todo. E, paralelamente, atravésdas metrópoles todas as localizações tornam-se hojefuncionalmente centrais. Os lugares seriam, mesmo,lugares funcionais da metrópole.Com diferença de grau e de intensidade, todasas cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas.O seu tamanho, tipo de atividade, região em que seinserem, etc. São elementos de diferenciação, mas emtodas elas problemas como emprego, habitação, transportes,lazer, água, esgotos, educação e saúde, são genéricose revelam enormes carências. Quanto maior aidade, mais visíveis se tornam essas mazelas que estão56FTC EAD | GEOGRAFIA


em toda parte. Isso era menos verdade na primeira metade do século passado, mas a urbanização corporativa,isto é, empreendida sob o comando dos interesses das grandes firmas, constitui um receptáculo dasconseqüências de uma expansão capitalista devoradoura dos recursos públicos, uma vez que estes são orientadospara os investimentos econômicos em detrimento dos gastos sociais.No Brasil contemporâneo, a mobilidade das pessoas aumenta paralelamente a muitas outras formasde exacerbação do movimento e como resultado de uma divisão social do trabalho mais intensa. Eram8,5% de brasileiros ausentes de seu Estado de nascimento, em 1940; 10,3%, em 1959; 18,25, em 1960;31,6% em 1970, 38,9% em 1980. Mais da metade dos brasileiros estariam vivendo, no fim do decênio,fora dos seus lugares de origem.A urbanização crescente é uma fatalidade neste País, ainda que essa urbanização se de com o aumentodo desemprego, do subemprego e do emprego mal pago e a presença de volantes nas cidadesmédias e pequenas. Este último é um dado ‘normal’ do novo mercado de trabalho unificado, bóias-frias,etc. não são recrutados por intermediários. Esse mercado urbano unificado e segmentado leva a novopatamar a questão salarial, tanto no campo como na cidade. O fato de que os volantes, vivendo na cidade,sejam ativos na busca por melhores salários constitui também dado dinâmico na evolução do processo deurbanização,como no processo político do País.Por conseguinte, os próximos anos, quem sabe até os próximos decênios, marcarão ainda um fluxocrescente de pobres para as grandes cidades, ao passo que as cidades médias serão o lugar dos fluxoscrescentes das classes médias. Em resumo, a metropolização se dará também como ‘ involução’, enquantoa qualidade de vida melhorará nas cidades médias.Por outro lado, o futuro urbano também vai depender da forma que tomará a flexibilização tropicalem nossas cidades, em contraponto à decantada flexibilização oriunda do progresso tecnológico, criadora,aliás, de rigidez. Em nosso País, já conhecemos desde muito uma flexibilização tropical do trabalho,que é o mecanismo pelo qual se criam tantos empregos urbanos, evitando a explosão das cidades. A formacomo se dá o processo de involução urbana assegura trabalho para centenas de milhares de pessoasdentro das cidades. Essa é uma pergunta crucial: como será o trabalho nos próximos anos? Da formacomo ele for, dependerá a forma como a urbanização se dará, também porque aí pode estar a semente denova consciência política. Ora, a vontade política é o fator por excelência das transfusões sociais. Nesseparticular, as tendências que assume a urbanização neste fim de século aparecem como dado fundamentalpara admitirmos que o processo irá adquirir dinâmica política própria, estrutural, apontando para umaevolução que poderá ser positiva se não for brutalmente interrompida.<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>Emprego nas Regiões MetropolitanasNas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Salvadormais da metade da população está ocupada nos serviços, e essa participação vem aumentando nasúltimas décadas. Mas o significado dos números absolutos ou relativos é diverso, segundo os lugares.Em 1981, a Região Metropolitana de São Paulo empregava 41,5% da sua população ativa em serviços(2.278.609 pessoas); em 1999 essa porcentagem havia passado para 52,9% (3.658.794 pessoas) (acréscimopróximo de 60% em 16 anos).O setor de comércio torna-se importante contratador de mão-de-obra nas grandes cidades,mostrando um crescimento em números absolutos e relativos nas cinco regiões metropolitanascitadas. Mas não podemos esquecer o papel fundamental do circuito inferior da economia urbana,criador de trabalho e não inteiramente computado pelas estatísticas.Organização do Espaço Brasileiro 57


Por outro lado, a participação dos empregados na construção civil nessas cinco metrópoles— superior a 6% da população ocupada — vem diminuindo, ainda que se haja registrado umligeiro crescimento em números absolutos em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Recife. Umareativação das operações imobiliárias, decorrente das custosas remodelações dos centros históricose da ampliação da oferta residencial, comercial e de lazer, comandadas com êxito por bancosglobais, é responsável, em boa parte, por esse aumento na contratação de empregados. Em 1999eram 253.806 empregos na construção civil na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e 459.608na Região Metropolitana de São Paulo (6,1% e 6,6% do total da população ocupada na respectivaregião metropolitana).Santos, M.; Silveira M. L O Brasil Território e Sociedade no Início do Século XXI. 9ª ed. Riode Janeiro: Record, 2006.Atividade Complementar1. Com suas palavras, defina o período técnico-científico-informacional.2. Explique as principais bases materiais existentes no Brasil.3. Comente o processo de urbanização no Brasil, segundo Milton Santos.4. Comente os principais fluxos existentes no Brasil.58FTC EAD | GEOGRAFIA


5. Escreva um texto com 4 (quatro) linhas sobre os principais problemas do sistema rodoviário no Brasil.O BRASIL EM SÍNTESEA COMPLEXIDADE BRASILEIRABRASIL DE ANTES E DE HOJEO Brasil é um país de dimensões continentais, ambientalmente bastante diversificado (8,5 milhõesde km², 17 vezes maior que a Espanha, por exemplo) e com uma grande população, econômica e socialmentemuito diferenciada (170 milhões de habitantes, 4,2 vezes maior que a Espanha). Devido a essagrande extensão territórial o Brasil possui diferenças entre as macro, meso e micro-unidades espaciais,mas não as fortes desigualdades socioeconômicas, tais como as conhecemos no Brasil de hoje.Tais desigualdades são fruto também do sistema de exploração imposto ao Brasil no período colonial.Segundo o seu modelo teórico o Brasil, enquanto colônia, deveria ser um local de consumo (mercado)para os produtos metropolitanos, de fornecimento de artigos para a metrópole e de ocupação paraos trabalhadores da mesma. Em outras palavras, dentro da lógica do “Sistema Colonial Mercantilista”tradicional, o Brasil existia para desenvolver a metrópole (Portugal), principalmente através do acúmulode riquezas, seja através do extrativismo ou de práticas agrícolas mais ou menos sofisticadas.Atualmente, com o processo de mundialização da economia e a eclosão de uma nova revoluçãotecnológica, classificada por Santos (1994) como período técnico-científico-informacional, tem se estimuladonovas formas de organização da produção no território brasileiro, devido a uma nova divisãointernacional do trabalho, que tem como característica a abertura das fronteiras nacionais para a livrecirculação de mercadorias e investimentos em torno da lógica dos espaços de fluxos. Seus reflexos diretosrecaem sobre a dinâmica dos espaços regionais, reestruturando a sua organização produtiva.A reestruturação produtiva, segundo Oliveira (2003), é resultado de um conjunto de mudanças que flexibilizamas relações e estruturas produtivas, complementadas pelo aprimoramento dos sistemas de comunicaçãoe informação. Esta, no entanto, não prescinde de uma maior aproximação com as organizações e instituiçõeslocais, e, sim, com a sua forma de construir as relações necessárias para se instalar e usar os territórios.Neste sentido, existe um enfraquecimento dos territórios nacionais em prol de uma regionalizaçãoem escala mundial. Significa dizer que as fronteiras nacionais tornam-se mais amenas com o surgimentode blocos de países nos vários continentes. O que assistimos hoje não é mais aquela regionalização característicada geografia tradicional, que teve tanta importância no início do século XX, bas<strong>ead</strong>a, sobretudo,nas condições naturais, mas uma regionalização geopolítica.Organização do Espaço Brasileiro 59


Ultimamente, no Brasil, existe uma relação de dependência de um conjunto nacional, internacionalou mesmo global. Essa relação, por sua vez, desempenha um papel fundamental, pois o poder financeiro,político e administrativo geralmente escapa às regiões; estas são sempre dependentes de algum tipo dedominação vinculada à difusão de idéias neoliberais valorizadas desde 1979 no Reino Unido e nos EUA- que pregam o chamado Estado Mínimo -, com a redução da participação do Estado na economia e aabertura para o exterior, facilitando a circulação de investimentos e de produtos. Portanto, vivencia-seatualmente a desterritorialização – ou seja, a universalização dos estilos de vida, do comportamento e doconsumo acima dos grupos sociais, das etnias, crenças, idiomas e ideologias – que passa a ser a norma eevidencia um esgotamento da idéia de Estado-Nação. Dentro deste paradigma, Santos (2000) afirma queo território fica ainda mais importante, ainda que uma propaganda insidiosa teime em declarar que asfronteiras entre Estados já não funcionam e que tudo, ou quase, se desterritorializa.<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>O espaço nacional da economia internacionalO caso brasileiro ilustra perfeitamente a idéia segundo a qual, com a presente globalização,o território de um país pode tornar-se um espaço nacional da economia internacional (M. Santos,1996). Michel Chossudowsky (1997, p.77), a respeito do que chamam desterritorialização, nos fala deespaços econômicos abertos. Apesar das sugestões pós-modernas, a que tantos especialistas se rendem,o território continua sendo uma realidade atuante (M. Santos e M. L. Silveira, 1997), ainda que oEstado nacional, igualmente sobrevivente, tenha mudado de figura e de definição segundo os países.A economia de todos os países conhece um processo mais vasto e profundo de internacionalização,mas este tem como base um espaço que é nacional e cuja regulação continua sendo nacional, aindaque guiada em função dos interesses de empresas globais. Essa é a razão pela qual se pode falar legitimamentede espaço nacional da economia internacional.Segundo os países, é diverso o número e a importância de tais empresas globais, cuja data dechegada e cujo ritmo de expansão também variam de uma nação para outra. Variam também ossetores e ramos presentes. Isso está ligado ao grau de maturidade de cada economia e ao grau deinserção de cada país na nova divisão internacional do trabalho.Dentro do território, podemos admitir a existência de áreas em que se pode falar de uma globalização“absoluta” e de outras em que essa globalização é apenas “relativizada”. As primeiras sãoáreas de presença mais plena da globalização. Nelas há concentração, com pequena contrapartida,de vetores da modernidade atual, o que leva à possibilidade de ação conjunta de atores “globais” ou“globalizados”. Nessas áreas, a tendência é que a produção, a circulação, a distribuição e a informaçãosejam corporativas, isto é, que a respectiva demanda principal seja de tais empresas.Nessas áreas de presença mais plena da globalização há uma espécie de rendilhado mais densode vetores ótimos da globalização, isto é, conduzidos por atores predispostos a uma lógica e aum movimento que dão primazia aos processos técnicos e políticos derivados. São, em última análise,vetores do dinheiro puro, subservientes aos seus desígnios: cadeias produtivas modernas, produtosexportáveis, atividades especulativas, etc. Nas áreas de menor presença da globalização, essascaracterísticas desaparecem ou se reduzem segundo toda uma gama de extensão e intensidade.Com efeito, a economia globalizada reclama condições territoriais indispensáveis para a suaprodução e regulação. Esses espaços globalizados tanto são espaços agrícolas como industriais e deserviços, e caracterizam-se pela sua inserção numa cadeia produtiva global, pelas relações distantese, freqüentemente, estrangeiras que criam e também pela sua lógica extrovertida. Mas o territórionão é “global”, ele não é completamente globalizado. No entanto, e seja como for, o comporta-60FTC EAD | GEOGRAFIA


mento dos agentes e dos lugares que não são globalizados é, direta ou indiretamente, influenciadoe, em muitos casos, subordinado, acarretando com isso efeitos não desejados e não previsíveis.Produz-se um efeito de entropia das empresas globais e das grandes empresas sobre as nações e oslugares, na medida em que, para melhor funcionarem, tais .empresas criam ordem para si mesmase desordem para o resto. De modo geral, e como resultado da globalização da economia, o espaçonacional é organizado para servir às grandes empresas hegemônicas e paga por isso um preço,tornando-se fragmentado, incoerente, anárquico para todos os demais atores.No momento atual da globalização, e com o avanço do processo de fusões, as lógicas ditasglobais ampliam e aprofundam sua força. Quando examinamos o processo de adoção dessas lógicasplanetárias, o chamado imperativo de exportação é outro dado a ser levado em conta na medidaem que acelera a necessidade de adoção dos modelos da economia global.É também possível algumas empresas estrangeiras participarem de lógicas nacionais, quando sebeneficiam dessa participação no mercado interno. Mas as diferenças entre empresas nacionais e estrangeirasparalelamente se reduz, desse ponto de vista, quando grandes empresas nacionais se tornamtambém multinacionais, sendo levadas a adotar lógicas globais dentro e fora do território brasileiro.Santos, M.; Silveira M. L O Brasil Território e Sociedade no Início do Século XXI. 9ª ed. Riode Janeiro: Record, 2006.DESIGUALDADES TERRITORIAISNo Brasil, a questão regional é caracterizada pelos desequilíbrios nas mais diversas esferas (econômica,social, ambiental, etc.), pois a política desigual de distribuição de renda tem favorecido o aumentodas diferenças nas mais diferentes regiões do País. Neste sentido Silva; Silva, (2003) destacou que:A mais importante constatação que deve ser feita é que os desequilíbrios regionais brasileirosainda são muito expressivos, e cada vez mais associados em diferentes escalas e intensidade, aosdesequilíbrios sociais e ambientais e não mais somente aos desequilíbrios econômicos. Esses desequilíbriosafetam fortemente a dinâmica dos indicadores sociais e ambientais do país como umtodo, especialmente quando colocados no contexto internacional (SILVA; SILVA, 2003, p. 50).Constitui lugar comum afirmar que o Brasil é um país caracterizado por desigualdades. Qualquer políticoou acadêmico, quando afirma ou quando aborda o problema dos desequilíbrios do País, cita o desequilíbrio entreindivíduos, isto é, o problema da desigualdade interpessoal de renda, e o desequilíbrio entre regiões, vale dizer,o problema da desigualdade inter-regional de renda. Dir-se-ia que é ‘politicamente correto’ mencionar um apóso outro. Como duplas que não podem ter existência própria. Esta pequena nota argumenta que provavelmenteo problema regional é muito menor do que seimagina, não justificando que a ele seja dado omesmo grau de importância do problema da desigualdadeinterpessoal de renda.Há dois enfoques ao problema da desigualdaderegional de renda. O primeiro refereseao problema da desigualdade regional derenda per capita entre regiões. Neste enfoque,deseja-se investigar e propor políticas que reduzamas diferenças de renda per capita entreOrganização do Espaço Brasileiro 61


egiões. O segundo refere-se ao problema da desigualdade regional da renda total, isto é da concentraçãoda produção ou da distribuição espacial da produção. É comum a produção não ser distribuída uniformementeentre as regiões. Neste caso, há desigualdade na renda absoluta de cada região: em geral uma regiãopequena e altamente industrializada produz uma fração substancial do PIB nacional.A literatura sobre o assunto atribui tal fato a uma questão distributiva de grande escala, isto é, àadoção de um modelo de desenvolvimento que não foi capaz, nas últimas quatro décadas, de eliminar asdesigualdades entre regiões.A economia brasileira, segundo Neto (1997), se caracteriza por apresentar os níveis mais altos dedesigualdade no contexto internacional. Aqui estão presentes estruturas produtivas, relações de trabalho,condições de vida e possibilidades de acesso da população aos bens e serviços básicos os mais diferenciados.Desta forma, pode-se afirmar que o Brasil é um país bastante fragmentado, onde, dentro do mesmoespaço, convivem realidades bastante contrastantes. Isso é válido tanto se são consideradas as grandesregiões brasileiras tradicionais (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste) quanto se consideram asdesigualdades no interior da cada uma dessas regiões (NETO, 1997).62FTC EAD | GEOGRAFIA


A desigualdade regional vem se reproduzindo ao longo de diferentes períodos históricos. Apesar dacriação de instituições governamentais voltadas especificamente para o seu combate, as diferenças entreregiões continuam em planos elevados quaisquer que sejam os critérios utilizados para a sua mensuração.Toma-se como exemplo o tamanho do Produto Interno Bruto das diferentes unidades da federação.Apesar da participação decrescente da Região Sudeste no PIB nacional, ainda assim esta se constituinuma região concentradora na produção de riquezas. Nas duas principais regiões do País (Sul e Sudeste)somadas, o PIB chega a 75,36% do montante nacional, o que denota o mosaico de desigualdadeexistente entre as diferentes regiões.Portanto, no que se refere à desigualdade de renda per capita, proponho que seja considerada a distinçãoentre dois problemas de natureza totalmente diversa. O problema da baixa renda per capita por motivoregional do problema da baixa renda per capital por motivo social. No primeiro caso uma região apresentabaixa renda per capita por características embutidas na região, enquanto que no segundo caso a região épobre por características embutidas nos moradores da região. Empiricamente, a maneira de distinguir entreo problema regional e o social é estudar os diferenciais de renda entre trabalhadores de diversas regiões, controlandopelas características do trabalhador. Para um dado diferencial de produto per capita entre regiões,dizemos que há um problema regional se o diferencial de renda entre trabalhadores com as mesmas características,em diferentes regiões, explicar uma parcela elevada dos diferenciais de produto per capita. Por outrolado, se, após controlarmos pelas características do trabalhador, o diferencial regional de renda reduzir-semuito ou desaparecer, dizemos que não há problema genuinamente regional, mas sim há um problemasocial que é altamente correlacionado com a região. Em outras palavras, a região pobre é majoritariamentepovoada por indivíduos com características que se correlacionam com baixa renda.Organização do Espaço Brasileiro 63


<strong>Texto</strong> <strong>complementar</strong>Novas lógicas centro-periferiaQue fazer, então, de expressões constantes do vocabulário das ciências territoriais, como asnoções de centro, centralidade, centro-periferia, etc.? Que é ser um centro? Que fenômenos tal centroregula? Onde estão os centros? Que é hoje a centralidade e que relações ela mantém com a capacidadede estabelecer normas? Qual o papel do próprio espaço geográfico no exercício das regulações?Ao longo da história brasileira, cada uma dessas palavras foi adquirindo significações novas. Desseponto de vista podemos, grosso modo, admitir a existência de três grandes períodos da história territorialbrasileira. O primeiro, que dura até a Segunda Guerra Mundial, é anterior à unificação do território e domercado. O segundo, com o Brasil unificado, teria como fator dinâmico a indústria e como objetivo aconstrução nacional. O terceiro coincide com o processo de globalização e vige até nossos dias.No primeiro período, tratava-se de um Brasil policêntrico. O poder encarnado no GovernoGeral e depois no Vice-reinado e no Império era, sem dúvida, centralizador, mas a fraca capacidadede controle do território e a realização fragmentária da economia não permitiam ir além da construçãode um Brasil arquipélago. Cada região produtora se ligava a um centro litorâneo, ou próximodele, que assegurava as suas relações externas, enquanto as relações internas eram limitadas.No século XIX, sobretudo na sua segunda metade, as coisas começam a tomar uma feiçãodiferente, na medida em que a introdução da estrada de ferro vai permitir um uso mais dinâmicodo território. Criam-se aí duas lógicas. Exceto na área hoje nucl<strong>ead</strong>a por Rio de Janeiro e SãoPaulo, a estrada de ferro reforça os laços privilegiados entre metrópoles regionais e sua respectivahinterlândia, mas sem estabelecer, entre tais metrópoles, relações outras que não as permitidas pelanavegação marítima. Todavia, no Sudeste criam-se, de um lado, uma rede localizada de ferrovias e,de outro, um intercâmbio bas<strong>ead</strong>o numa divisão territorial do trabalho. É esse o embrião do queatualmente podemos chamar de área concentrada.Essa nova modalidade de organização do território erige Rio e São Paulo como um pólocuja relação com a periferia do país era, todavia, num primeiro momento, incompleta. Aumentamas relações dentro dessa área polarizada, enquanto as relações com o resto do país não crescem namesma proporção. Pode-se, assim, dizer que estão lançadas as sementes não apenas de uma disparidaderegional, mas também de seu aprofundamento.Dentro da própria área concentrada, o crescimento é desigual e combinado. O Rio de Janeiro,que num primeiro momento reunia a maior parte da produção industrial, acaba por ceder64 FTC EAD | GEOGRAFIA


esse lugar a São Paulo, onde uma atividade fabril mais diversificada não só garante um crescimentomaior do conjunto, como lhe assegura uma posição hierárquica.Como já vimos, a Segunda Guerra Mundial revela com grande força as fragilidades da organizaçãodo território, na medida em que a vulnerabilidade de uma frota marítima insuficiente e afalta de integração dos transportes terrestres criam problemas muito graves para a vida econômicae social nas diferentes regiões do país. A idéia de unificar o território pelos transportes ganha força,é objeto de uma planificação sistemática e acaba por se realizar mediante a interligação das estradasde ferro e a construção acelerada de uma rede nacional de rodovias. O crescimento industrial deSão Paulo constitui a outra peça indispensável a esse processo de integração nacional. Estavamsubjacentes a essas realizações toda uma teoria de desenvolvimento e uma vontade de emancipaçãonacional que iriam desembocar num processo de unificação do Brasil, unificação para dentro.A construção de Brasília acarreta, de forma direta ou indireta, juntamente com a ascensão industrialde São Paulo, a emergência de uma nova arquitetura territorial e de novas centralidades. Pouco apouco Brasília vai retirando do Rio de Janeiro a centralidade do poder, isto é, das ordens e da naturezapública com as quais o território deveria ser regulado. São Paulo, por sua vez, vai subtraindo ao Rio deJaneiro o comando da economia, assumindo, graças a uma indústria capaz de abastecer e equipar umBrasil relativamente unificado pelos transportes, a produção das ordens econômicas e a regulação econômicado território. Brasília tende a se instalar como metrópole política e São Paulo como metrópoleeconômica, enquanto ambos esses papéis vão minguando na antiga capital imperial e republicana.Na verdade, ainda que vista superficialmente, instala-se uma relação conflitiva entre Brasília e oRio de Janeiro e uma relação de colaboração entre Brasília e São Paulo na medida em que uma economiade âmbito nacional necessita, para sua afirmação e expansão, da cumplicidade do poder público.Tal cooperação e tal conflito, no nível dos centros dirigentes, eram todavia balizados porentidades nacionais: o território nacional, o equipamento do país, o mercado nacional, etc.Num terceiro período, o fator motor deixa de ser a indústria e passa a ser a informação, comoafirmamos no final da década de 1970 (M. Santos, 1979), ainda que os estudiosos, num primeiroe longo momento, tenham relutado em reconhecer tal mudança. Essa demora na interpretaçãodo movimento histórico deve-se, em parte, ao fato de que a cidade de São Paulo continua sendo,neste novo período, o pólo nacional. Por outro lado, enquanto ascendem as atividades terciárias, deserviço, ainda mal reconhecidas e avaliadas, a indústria continua crescendo em terra paulista, aindaque isto se dê em velocidade menor. Nesse último período, sobretudo nas fases mais recentes, asprincipais atividades econômicas parecem moldar-se ao sabor de forças centrífugas, e o próprioEstado federal, que na fase anterior era marcadamente unificador, torna-se centrifugador.A centralidade política, de certo modo, se fortalece em Brasília, a centralidade econômica seafirma mais fortemente em São Paulo. Todavia, a chamada abertura da economia permite a São Pauloe Brasília exercer apenas “regulação delegada”, isto é, uma regulação cujas “ordens” se situam fora decompetência territorial e deixam pequena margem para a escolha de caminhos suscetíveis de atribuir,de dentro, um destino ao próprio território nacional. Nas condições atuais, o modelo econômicoincidente sobre o território confere maior peso às forças centrífugas. Na medida em que a eficácia demodelo passa por uma estreita cooperação por parte do Estado, este também se torna centrifugador ea sua regulação acaba por ser desreguladora. Trata-se de uma centralidade criadora de conflitos. Qualé então, nessas condições, o papel dos centros? Uma coisa é certa: nas condições atuais, tanto Brasíliaquanto São Paulo vêem comprometido o seu papel de regulação, tornando-se, desse ponto de vista,menos “centrais”, enquanto o país como um todo se torna ainda mais periférico.Santos, M.; Silveira M. L O Brasil Território e Sociedade no Início do Século XXI. 9ª ed. Riode Janeiro: Record, 2006.Organização do Espaço Brasileiro 65


ORGANIZAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRAAs condições de vida da população e o modo como a sociedade brasileira está organizada no territórionacional são reflexo dos processos que se desenvolveram ao longo da história do Brasil, principalmenteno século XX.No decorrer do século XX, sobretudo na segunda metade, a atividade industrial se expandiu e disseminoupara diversos lugares do globo, a partir dos países que primeiramente se industrializaram (ReinoUnido, França, Alemanha, Holanda, Itália, EUA, Japão).Esse processo foi marcado pela expansão das empresas multinacionais, grandes grupos empresariaisque haviam acumulado enormes quantias de capital com a venda de seus produtos nos países desenvolvidose queriam ampliar ainda mais seus lucros.Multinacionais de diversos ramos instalaram-se nos países subdesenvolvidos, que criaram condições,com investimentos do Estado em variados setores e com inúmeros tipos de incentivos, para queessas empresas ingressassem.No Brasil foram instaladas indústrias têxteis, alimentícias, de eletrodomésticos, de cigarros, de bebidas,químicas, farmacêuticas e de máquinas. O grande destaque ficou para a indústria automobilística.A PARTICIPAÇÃO DO ESTADOO Estado brasileiro, assim como todos os países subdesenvolvidos que se industrializaram, teveparticipação significativa nesse processo, pois estimulou a vinda das multinacionais por meio de uma sériede incentivos, como a diminuição ou a não-cobrança de impostos e a doação de terrenos.Além disso, garantiu:• O fornecimento de energia, por meio da construção de usinas hidrelétricas;• O fornecimento de matérias-primas para a indústria, como o aço, por meio da construção devárias indústrias siderúrgicas;• A criação de uma infra-estrutura no setor dos transportes, com modernização de portos e aeroportos,mas principalmente rodovias;• A produção de combustíveis e matérias-primas para as indústrias químicas, com a formação daPetrobras — empresa responsável pela extração e distribuição de petróleo — e com a construção dediversas refinarias;66FTC EAD | GEOGRAFIA


• Proteção em relação à concorrência externa, por meio de impostos altos de importação e cotas,ou seja, limites para a entrada de produtos importados.A falta de produtos importados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as quedas do preço docafé no mercado internacional nos anos 1930 e a forte dependência da economia nacional em relação a esseproduto também contribuíram para que o governo estimulasse intensamente o processo de industrialização.Havia também um mercado consumidor formado por pessoas de renda mais elevada e de rendamédia, que tinham condições de adquirir produtos industrializados, como eletrodomésticos e automóveis,além de desfrutar os benefícios da energia elétrica.Dessa forma, o Brasil — que era um país de economia agrária, dependente basicamente das exportaçõesde um único produto (café) — foi, a partir da década de 1930 e mais intensamente a partir dadécada de 1950, conhecendo uma mudança na estrutura de sua economia.A concentração das atividades industriais no Centro-Sul foi uma característica marcante do processode industrialização. Essa Região, principalmente os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, era a ár<strong>ead</strong>o País que reunia melhores condições de infra-estrutura (portos, ferrovias, estradas, usinas hidrelétricas),mão-de-obra qualificada e mercado de consumo amplo. A conjunção desses fatores nessa Região se deve,em boa parte, ao desenvolvimento da atividade cafeeira e à concentração da mão-de-obra imigrante.A industrialização brasileira foi acompanhada por profundas desigualdades regionais e pela efetivaçãodo Centro-Sul como centro econômico do País, especialmente a partir dos anos 1951 quando seconfigura um mercado interno integrado no País.Até m<strong>ead</strong>os da década de 1960, praticamente todas as multinacionais, empresas siderúrgicas, refinariasde petróleo e boa parte das usinas hidrelétricas que se instalaram no País concentraram-se nosEstados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.O espaço geográfico brasileiro, principalmente o Centro-Sul, conheceu, desde os anos 1950, profundasmodificações, entre elas o aumento da concentração populacional nas cidades, o aumento do número cmunicípios, o estabelecimento de áreas industriais e construção de estradas, de portos, de aeroportos.A urbanização — processo caracterizado, entre outros fatores, por um ritmo maior de crescimentoda população das cidades do que o da população do campo — é conseqüência imediata da industrialização,apesar de não ser causada exclusivamente por ela.A integração entre os mercados das diversas regiões do Paíse a própria integração da economia brasileira com a economiamundial foram possíveis em virtude dos avanços nos setores detransportes e telecomunicações. Esses avanços são caracterizados:pela ampliação das rodovias; pelo melhor aparelhamento de portose aeroportos; pelo uso de grandes caminhões (carretas), contêineres,caminhões frigoríficos; pela invenção de satélites artificiais;pela expansão dos cabos telefônicos (inclusive de fibra óptica);pelo desenvolvimento da informática e da eletrônica (rádio, TV);pela ampliação das redes de TV e rádio; pelo aumento no volumede circulação de jornais e revistas.DESCONCENTRAÇÃO ESPACIAL DAS INDÚSTRIASDois processos importantes na economia brasileira passaram a ocorrer nos anos 1990: as privatizaçõesde empresas estatais e a relativa desconcentração da atividade industrial (que, na verdade, já vinhamocorrendo desde os anos 1970, mas se intensificaram bastante na década de 1990).Em 1991 iniciou-se no Brasil o Programa Desestatização, com o objetivo de diminuir a participaçãodo Estado na produção de bens e no fornecimento de serviços.Organização do Espaço Brasileiro 67


Na visão do governo brasileiro, de alguns dirigentes dos países desenvolvidos e do empresariadonacional e também estrangeiro, essa diminuição da participação estatal na economia seria importante paraque o Estado pudesse concentrar seus esforços no atendimento de serviços essenciais, como saúde eeducação, à população. Entendiam também que, como algumas empresas geravam prejuízo, seria melhoro Estado vendê-las e investir o dinheiro arrecadado em saúde, educação, enfim, na área social.Passaram, então, a ser vendidas empresas estatais produtoras de aço (siderúrgicas), fornecedoras deenergia elétrica, de serviços telefônicos, de transporte ferroviário, de produção de fertilizantes e matériasprimasderivadas do petróleo, de extração de minérios, de produção de aviões, etc.Além dos grupos favoráveis à privatização, havia também os que a ela se opunham. Esses grupos,formados em parte por sindicatos de trabalhadores, argumentavam que o Estado estava vendendo a umpreço baixo empresas nas quais fez grandes investimentos e que deram lucro. Entendiam também que,principalmente no caso dos serviços, as empresas estatais, como as de telefonia e de fornecimento deenergia, ofereciam um serviço de boa qualidade.De qualquer forma, os setores da sociedade contrários ao processo de privatizações nada puderamfazer para impedi-lo, pois a decisão estava completamente a cargo do poder político.Vale ressaltar que grande parte do dinheiro arrecadado foi utilizada para pagar dívidas do governo brasileiroe não para a área social. Além disso, houve fortalecimento do poder econômico, já que grandes gruposempresariais do Brasil adquiriram empresas de grande porte. Houve também participação significativa de empresasestrangeiras na compra das estatais, o que pode contribuir para um aumento da saída de dinheiro doPaís, uma vez que essas empresas têm liberdade para enviar parte de seus lucros a outros lugares.Na década de 1990, indústrias de áreas que tradicionalmente concentraram grande parte da produçãoindustrial brasileira, como a região da Grande São Paulo (incluindo o ABC), passaram a se deslocarpara outras regiões.Com isso, buscavam se livrar dos problemas de transporte, dos prédios com instalações que impedema modernização dos equipamentos de produção e da pressão de sindicatos bastante organizadose atuantes. Assim, muitas indústrias dirigiram-se para o interior de São Paulo, de Minas Gerais, do Riode Janeiro ou para outros Estados, como Paraná (principalmente a região de Curitiba) e Bahia, onde encontrammão-de-obra mais barata e incentivos dos governos municipais e estaduais (doação de terrenos,impostos mais baixos ou longos prazos sem pagar impostos).Muitas empresas estrangeiras que se instalam no País não procuram mais as áreas industriais tradicionais,próximas às grandes capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), seguindo o mesmorumo das que já estavam estabelecidas no País.As maiores facilidades proporcionadas pelo avanço nos transportes e nas comunicações vêm permitindoessa transformação espacial na distribuição das indústrias.A internacionalização do território brasileiroA internacionalização do território brasileiro se intensifica no atual período histórico, convivendocontraditoriamente com as potencialidades e perversidades da globalização. A alienação de empresasestatais brasileiras de telecomunicações, ocorrida nas últimas décadas, fundamenta uma reflexão queobjetiva discutir o incentivo estatal aos usos corporativos do território brasileiro, concomitantementeao abandono do território como abrigo. Propomos que a privatização de empresas não é uma políticasetorial, mas uma ação nacional vinculada a interesses internacionais que impõem a todo o território umprojeto de alteração da realidade, devendo ser apreendida simultaneamente em sua dimensão técnica epolítica. A partir da primeira, discute-se a organização do território e a transferência das redes estatais àsempresas privadas. Já no seu aspecto político, trata-se de discutir as mudanças normativas implementadaspelo Estado no território nacional. No entanto, a alienação das empresas incluiu um artifício também68FTC EAD | GEOGRAFIA


fundamental, que foi a criação de uma psicoesfera que disseminou os ideários que convenciam que aprivatização era a única escolha possível, o melhor projeto para todo o território. Assim, partimos doespaço geográfico como totalidade, ou seja, como a indissociabilidade de objetos e ações, permitindo aconstituição de uma visão crítica ao discurso hegemônico da privatização. Trata-se, finalmente, de discutira própria privatização do território, ou seja, sua organização, regulação e uso solidarizados para promovero benefício da reprodução do capital, coroando uma política pública direcionada às empresas e esquecidadas necessidades da totalidade dos lugares, que incorpora o território como um recurso e não comoabrigo. A privatização é imposta como um modelo para toda a sociedade a partir dos interesses da reproduçãodo capital. Mas, como o território não é um dado inerte da vida, tal projeto tem que se ver com asdinâmicas de todos os agentes usando o território. Dessa relação dialética resultam sucessivas crises que,combinando as possibilidades do período, podem caminhar tanto para um rearranjo das estruturas hegemônicascomo também podem dar existência a outros projetos possíveis, que surjam das necessidades davida e que se fundamentem não no capital, mas na política, a partir do respeito ao território usadoAtividade Complementar1. Com suas palavras explique as causas das desigualdades regionais existentes no Brasil.2. Como ocorre o processo de internacionalização da economia brasileira?3. Explique as novas lógicas existentes entre centro e periferia.4. Como são geradas as desigualdades intra-regionais do Brasil?Organização do Espaço Brasileiro 69


5. Elabore um texto sobre relações econômicas, políticas e sociais existentem em sua região.ENSINO DA ORGANIZAÇÃO ESPACIALNO BRASILORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO NOENSINO FUNDAMENTALNa sociedade do conhecimento em que estamos começando a viver a Educação e o livro passama ter grande importância.“A medida da educação de uma sociedade toma como referência o grau de analfabetismoda população. Ler e escrever, hoje – não se perca de vista que nem sempre foi assim – é parteintegrante da realidade humana. Em princípio, é menos homem quem não sabe ler e escrever”(isso, evidentemente, em se tratando de uma avaliação social; há, porém, níveis mais profundosde ser mais ou menos homem). Uma nova forma de pensar.Sylvio Roque de G. Horta in: Educação e Cultura. DLO – FFLCH/USP. 1996.O professor deve desenvolver com o aluno uma Geografia que não seja apenas centrada na explicaçãoempírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente pela explicação política e econômica domundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como os elementos físicos e biológicosque dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição doslugares e dos territórios.Os Parâmetros Curriculares Nacionais citam os objetivos que norteiamos educadores de Geografia, para que sejam alcançados pelos alunosno ensino fundamental. Entre os quais se destacam:• Compreender que os conhecimentos geográficos que adquiriram aolongo da escolaridade são parte da construção da sua cidadania, pois os homensconstroem, se apropriam e interagem com o espaço geográfico nemsempre de forma igual;• Criar uma linguagem comunicativa, apropriando-se de elementos dalinguagem gráfica utilizada nas representações cartográficas;• Reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidadocom o meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se devem ter na preservaçãoe na conservação da natureza;• Compreender as múltiplas interações entre sociedade e natureza nos conceitos de território, lugare região, explicitando que de sua interação resulta a identidade das paisagens e lugares;70FTC EAD | GEOGRAFIA


• Compreender a espacialidade e a temporalidade dos fenômenos geográficos, estudados em suasdinâmicas e interações;• Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modoque interprete, analise e relacione informações sobre o território e os lugares e as diferentes paisagens.Dentro desta concepção o tema 4 tem como objetivo fornecer elementos didático-pedagógicos,para o futuro docente desenvolver uma prática pedagógica em sala de aula.Os temas trabalhados ao longo da disciplina Organização doEspaço Brasileiro, expressam os saberes necessários para que os estudantese futuros professores de Geografia possam participar ativamenteda sociedade, atuando produtivamente na vida social, políticae econômica do País.Para tanto, seguem alguns pressupostos metodológicos quepriorizam o diálogo e a atividade intelectual do aluno, estimulando-oa selecionar e a interpretar informações, a estabelecer relações e comparaçõesentre fatos, a raciocinar e expressar-se com criatividade ecoerência acerca do território brasileiro.Proposta de atividade!Conteúdo• A circulação de mercadorias no Brasil• Os meios de transporte: ferroviário, rodoviário, hidroviário, aeroviário, dutoviário• A infra-estrutura viária• A política de transportes• A privatização no setorObjetivosCompreender a circulação de mercadorias por meio da rede rodoviária, ferroviária, hidroviária ouaeroviária, utilizando-se mapas e textos. (O)Analisar a política de transportes atual e sua evolução no contexto histórico. (G)Sugestão de estratégiasComparar o transporte rodoviário com o ferroviário, dandoexemplos da eficácia de cada um no Brasil, como:A Transamazônica, projeto rodoviário ufanista e grandioso dogoverno Médici, em 1970, que pretendia ligar a Amazônia ao Nordestejunto a um programa amplo de atração de imigrantes, ocupaçãoplanejada e incentivo à instalação de empresas na Amazônia. Tratavasedo Plano de Integração Nacional, com o lema “integrar para nãoentregar”, já que os governos militares queriam garantir a ocupaçãopopulacional na região.Organização do Espaço Brasileiro 71


Os resultados concretos desse projeto foram um verdadeiro fracasso, visto que os assentados nas agrovilasficaram sem assistência e sem condição de comercializar os produtos locais. A mata voltava constantemente acobrir o leito da estrada, impedindo a circulação, e os projetos que “deram certo” - os grandes empreendimentosmadeireiros e agropecuários - passaram a ser um grande problema no que se refere à questão ambiental.O trajeto, inicialmente projetado para ligar as rodovias do NE à fronteira com o Peru, com 5240 km, não foiconcretizado. Hoje, o que temos é uma rodovia abandonada, pejorativamente chamada de “transamargura”.A Estrada de Ferro Carajás é outra história, pois foi projetada para escoar minérios de Carajás enisso tem sido eficiente.O registro da pesquisa poderá ser apresentado com mapas, localizando hidrovia e região beneficiadaou prejudicada.• Localizar no mapa os “corredores de exportação”, visualizando a circulação das nossasriquezas para exportação.• Além desses, outros trajetos interligados podem ser considerados e localizados no mapa.Exemplos:A maior parte da madeira da Amazônia e da produção industrial (equipamentos eletrônicos) daZona Franca de Manaus é transportada pelo rio Amazonas até o porto de Belém, e daí sai para o oceanoem direção aos países importadores.Outra ferrovia, a Estrada de Ferro Carajás, escoa o minério de ferro da Serra do Carajás até o portode Itaqui, em São Luís, no Maranhão.A produção de carvão de Santa Catarina é transportada por ferrovias até ao porto de Imbituba.A hidrovia Tietê-Paraná pode ser considerada como um corredor de exportação, pois possibilitaescoar principalmente a produção agropecuária e minérios das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul paraos países vizinhos do Mercosul.Debater com os alunos a política de transportes no Brasil, analisando o contexto histórico em queela se desenvolveu, identificando causas e conseqüências dos procedimentos e da situação atual.• Debater a questão das privatizações, da cobrança de pedágios e do estado de conservação denossas ferrovias e rodovias.Dica: buscar informações na mídia.Para “esquentar” o debate, considerar um tema constantemente em pauta na política brasileira: oprocesso de licitação de obras públicas.Em especial, focalizar um problema que não é novo na área do transporte rodoviário: a pavimentaçãodas castigadas estradas brasileiras. Para isso, buscam-se recursos externos, endividando-se os Estadosque, há muito, têm operado no vermelho.Não seria o caso de se optar pela privatização das rodovias brasileiras, experiência que já está sendocolocada em prática em alguns Estados?ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO NOENSINO MÉDIOConsiderando a produção do espaço geográfico como referencial que fundamenta a concepçãoteórico-metodológica do ensino de Geografia, os temas aqui debatidos colocam-se como uma propostapara orientação do trabalho do professor.72FTC EAD | GEOGRAFIA


A discussão de tais temas deve ter a preocupação de conter, constantemente, os procedimentosno dia-a-dia do trabalho docente, relativos aos pressupostos educacionais e aos específicos do ensino daGeografia, como foram enunciados na apresentação.Nesse sentido, é importante que o trabalho docente tenha a intenção de levar o aluno à construçãoe reflexão de conceitos, noções e categorias. pois é desse modo que se pode chegar a um conhecimentoconcreto, a partir da realidade própria de cada um.Proposta de atividade!Conteúdo• O comércio exterior• A balança comercial• O balanço de pagamentos• A dívida externa• A posição do Brasil no contexto econômico mundialObjetivos• Analisar, por meio de gráficos e tabelas, a evolução da balança comercial brasileira ao longo do tempo.• Analisar as condições econômicas do Brasil em relação aos países desenvolvidos.Sugestão de estratégias• Identificar os principais produtos exportados pelo Brasil, pesquisando as regiões produtoras dentrodo País e localizando no planisfério os países que importam cada um desses produtos.• Identificar os principais produtos que importamos, localizando no planisfério os países de origem.• Comparar o valor dos produtos importados e exportados.• Debater o significado da relação de dependência do Brasil.• Analisar a situação do Brasil na economia latino-americana:• Pode-se fazer um trabalho integrado com História do Brasil,analisando períodos e contextos econômicos através de pesquisase questões como esta, por exemplo:“Em outubro de 1969, assumiu a presidência do Brasil EmílioGarrastazu Médiei. No seu governo, o general tentou o estilopopulista. É a fase do “Brasil Grande”, do “Milagre Econômico”,com o crescimento industrial e execução de obras grandiosas,como o Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói, etc...Organização do Espaço Brasileiro 73


O “Milagre Econômico” do governo Mediei, bas<strong>ead</strong>o no arrocho salarial e em incentivos fiscaisa determinados setores empresariais, agravou a desigualdade da sociedade brasileira, aumentando a concentraçãode renda e acentuando a pauperização das camadas mais baixas na pirâmide social.”a) Descreva o que os anos 70 representaram para o Brasil, em termos de balança comercial e dívida externa.b) Analise a influência dos transportes na recuperação econômica do Brasil.Subsídio para as respostas:a)O Brasil teve o crescimento econômico bas<strong>ead</strong>o em empréstimos que contraiu no exterior. Oque deu uma primeira impressão de salto para o desenvolvimento, também chamado de “milagre econômico”,transformou-se em sacrifícios e decepção, em virtude do endividamento do País e conseqüentesintervenções posteriores do FMI (Fundo Monetário Internacional) na política econômica brasileira.b)O transporte no Brasil está predominante bas<strong>ead</strong>o no rodoviário, fruto da política adotada na décadade 60. Por se tratar de transporte caro, apesar de ágil, não nos favorece quanto a resultados globais.TÉCNICAS DE PESQUISA SOBRE O TERRITÓRIONACIONAL.Um dos aspectos do novo paradigma do mundo contemporâneo é a aceleração do processo deintegração mundial realizado por intermédio das novas tecnologias da informação. Estas afetam de formaincisiva nosso cotidiano, fazendo emergir uma nova organização social, econômica, política e cultural.As telecomunicações integram os diferentes lugares e reduzem o tempo necessário para produzir ecircular informações. Seja quando você entra na cabine de um banco eletrônico e, com um cartão magnético,é capaz de retirar instantaneamente uma certa quantidade de dinheiro. Seja quando o caixa de umacadeia de supermercados faz a leitura do código de barras de um determinado produto ou mercadoria, eesse código entra numa rede de informações que permite o surgimento instantâneo, no caixa eletrônico,do preço do produto, assim como informa simultaneamente para o setor de estoque a redução de umaunidade daquele produto para posterior reposição.Dentro da perspectiva educacional, a invasão da tecnologia impõe novos desafios aos professorese alunos. O próprio papel da escola na sociedade está sendo repensado. A tecnologia não pára de evoluir,um produto pode ficar obsoleto por vezes antes mesmo de chegar às lojas. Os jovens de hoje não sabemo que é ter crescido sem uma televisão em casa, sem telefone, até mesmo sem celular (Tapscott, 1997,apud Assumpção, 2002). Como preparar professores para dar aula para um público alvo que cresceu deforma tão diferente da sua própria formação?74FTC EAD | GEOGRAFIA


A era digital tira da escola e da educação formal o privilégio de ser o pólo disseminador do conhecimento:competências podem ser forjadas da interação on-line de pessoas que compartilham um projetocomum. Em contraste com a maneira de como se organiza a escola, a internet gerencia a informação deforma descentralizada (Castells, 2003), agregando nodos de conhecimento de qualquer parte do planeta,sujeitos a diferentes estruturas e valores sociais. Castells (2003) reforça que a natureza da internet fornecemeios para que se fortaleça a cultura do código aberto (open source), do copyleft (abdicação dos direitosautorais), do software livre (livre da cobrança de licença de uso) e da arte hipermidiática de autoria públicainserida em sites de livre acesso, tais como Youtube.Desta forma, os métodos e as teorias da Geografia tradicional tornaram-se insuficientes para apreendera complexidade e a nova dinâmica do território. O levantamento feito por meio de estudos apenas empíricostornou-se insuficiente. Era preciso realizar estudos voltados para a análise das relações mundiais, análises essastambém de ordem econômica, social, política e ideológica. Por outro lado, o meio técnico e científico passoua exercer forte influência nas pesquisas realizadas no campo da Geografia. Para estudar o espaço geográficoglobalizado, começou-se a recorrer às tecnologias tais como o sensoriamento remoto, as fotos de satélite e ocomputador como articulador de massa de dados: surgem os SIG (Sistemas de Informação Geográfica).O professor precisa se tornar um modelo do novo tipo de aluno que está surgindo nesta era dainformação (Maia 2001), na qua, para poder ajudar seus alunos em um mundo altamente mutável, eleprecisa se tornar aprendiz e pesquisador. A capacitação deve ajudá-lo a adquirir estas novas habilidades.Estas novas competências são exigidas do professor para que possa fazeruso conveniente dos instrumentos que a tecnologia tem oferecido para aeducação, em que se inclui um acompanhamento contínuo do desenvolvimentodos recursos do ciberespaço. Segundo Silva (2005), cabe à escola buscar damesma fonte os meios para discernir o seu papel vindouro enquanto pólo dereferência de formação, organização e disseminação do conhecimento, nãocom a disposição somente de usufruir as novas tecnologias, mas, também,de se remodelar administrativa e pedagogicamente, quando necessário for;e a cada etapa conseguir, ainda, respirar revigorada para enfrentar os novosdesafios que lhe serão apresentados sempre.Atividade Complementar1. Qual a relação entre Geografia e cidadania?2. Qual o papel do professor diante do atual período técnico-científico-informacional?.Organização do Espaço Brasileiro 75


3. Descreva uma atividade relacionada aos conteúdos trabalhados na disciplina Organização doEspaço Mundial para o ensino fundamental.4. Descreva uma atividade relacionada aos conteúdos trabalhados na disciplina Organização doEspaço Mundial para o ensino médio .5. Redija um texto sobre a importância do ensino da organização do espaço brasileiro para a formaçãode cidadões críticos e reflexivos.76FTC EAD | GEOGRAFIA


Glossário▄ Bens de consumo não-duráveis - Produtos alimentícios; bebidas; tabaco; produtos de toucador;vestuário e outras confecções de têxteis; produtos farmacêuticos e outros. Conceito segundo aClassificação Segundo Uso e Destino Econômico (CUODE).▄ Capital – Qualquer bem econômico que pode ser aplicado à produção, a fim de gerar lucros.▄ Capitalismo –Organização econômica em que as atividades de produção e distribuição, obedecendoaos princípios da propriedade privada, da competição livre e do lucro, produzem uma divisãoda sociedade em duas classes antagônicas, porém vinculadas pelo mecanismo do mercado: a dospossuidores dos meios de produção e a do proletariado industrial e rural.▄ Imigração – Estabelecimento de indivíduos em país estranho.▄ Infra-estrutura – Base e condições indispensáveis a uma economia avançada (existência de amplasredes ferroviárias ou rodoviárias, de abundantes fontes de energia, de mão-de-obra especializada,de serviços sanitários eficientes, etc.).▄ Latifúndio – Grande propriedade rural.▄ Meio técnico-científico-informacional – É um meio geográfico no qual o território inclui obrigatoriomenteciência, tecnologia e informação que fazem parte dos afazeres humanos do cotidiano.▄ Monopólio – Privilégio que um indivíduo, uma companhia ou um Governo tem de fabricar ouvender, sem concorrência de outrem, certas mercadorias.▄ Neoliberalismo – Uma prática político-econômica que defende, portanto, uma redução da ação doEstado na economia.▄ Periferia – No Brasil, freqüentemente se associa à periferia as regiões urbanas de infra-estruturaprecária e baixa renda, sendo tomada freqüentemente como sinônimo de zona suburbana.▄ PIB (Produto Interno Bruto) – Indicador econômico que representa a soma dos valores de todosos bens produzidos dentro de um país, em determinado período.▄ Renda per capita – É um indicador que ajuda a saber o grau de desenvolvimento de um país econsiste na divisão da renda nacional (produto nacional bruto menos os gastos de depreciação docapital e os impostos indiretos) pela sua população.▄ Transnacionais – São grandes grupos econômicos que não têm seus capitais originários especificadamentedeste ou daquele país. As corporações (empresas) buscam a redução de seus custos (demão-de-obra, de impostos, de acesso a financiamentos mesmo em países mais pobres do que aqueleda qual ela se originou, etc) com o objetivo de se tornarem mais competitivas e de dominaremamplo percentual do mercado a que se destinam seus produtos e/ou serviços.Organização do Espaço Brasileiro 77


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