Maria Luísa Baptista(pp. 24-28); e, depois da chuva (pp. 28-32), e apesar dos estragos nomelador (p. 43), o diálogo segue, da expressão da confiança dos humanosà da sua gratidão, manifestada através da alegria expansiva do serãoao luar (pp. 65-71). José da Cruz, entretanto, menos confiante em que achuva tenha continuidade, revela de novo a sua apreensão. Efectivamente,observava-se que «Novembro encontrou o céu cerrado, imóvel, cor decinza, e umas gotículas de água passeando no ar. A primeira quinzenade Novembro foi assim: ora escusas, ora promessas, negaças e sorrisos,a mangar com os homens. Borrifos no ar que cheiravam a pó.» (p. 64).Diálogo, modificação das atitudes dos homens, graças à acção da chuva,modificação todavia sem reciprocidade, porquanto a chuva não prossegueum ‘relacionamento compatível’: ter-se-á tratado da concretizaçãofugaz de uma esperança, sem continuidade. A posteriori, poder-se-ia vira dizer de um certo cinismo, tanto mais quanto, já depois dos primeirosmalefícios da lestada, a chuva virá a cair copiosamente... no mar (p.119); tanto mais quanto não se voltará a falar de chuva, condição primeirada vida em Santo Antão.Tal o rosto da chuva, a grande ausente de FVL.Mas a mais importante das dimensões da chuva, personagem «agente»,é a teleológica, porque é a que lhe confere um maior grau de ‘responsabilidade’perante os humanos:98«A esperança nas águas e o temor da estiagem faziam parte de umhábito secular transmitido de geração a geração. Todos os anos era assim:a esperança descia em socorro daqueles que tinham o medo naalma, por isso ela era a última luz a consumir-se. Sim, a chuva chegariaum dia. Esperavam por ela como se espera pela sorte, no jogo. Se nãoviesse, a alternativa seria apertar o cinto, meter a coragem no coraçãopara a luta, como qualquer homem pode fazer quando cai no meio daborrasca. Já estavam habituados. Vinha de trás, de longe, esta luta. Esperavamsempre: até o último momento. Até mesmo para lá do últimomomento. Mesmo aqueles que não sabiam esperar, e não acreditavamnas previsões dos homens, mesmo esses, não se atreviam a apagar,depressa, aquela luzinha; só no último minuto desesperavam, porquealguma coisa pode acontecer quando já ninguém pensa nela. A chuvaera um símbolo de Fé. Crer nela ou não crer nela, a enviada de NossoE-book CEAUP 2007
Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesSenhor. Entre esta fé e a escuridão, entre a coragem e o pânico, o povoescolhia a coragem e a fé porque eram tocadas pela luzinha da esperança.Perante a grandeza e o poder do Céu, a esperança era o melhorcompromisso dos homens para com a vida. Não seria a melhor forma defazer o Céu devedor dos homens?» (pp. 14 e 15).Tal, insistimos, o rosto da chuva. Não anotámos ocorrências discursivasespecíficas de animização — personificação da chuva, ocorrênciasque efectivamente sublinhariam de forma mais evidente o estatuto depersonagem desta força natural.Outras das personagens — «agentes», não rigorosamente antropomórficas(tanto quanto a chuva), embora concebidas com actuações(des)humanizadas, são os ventos. Símbolos de instabilidade, de inconstância,os ventos, tratados por vezes como personagens colectivas(«O nordeste é um exército invisível armado de vassouras.» — p. 26),desempenham um papel fulcral, motor primeiro da acção de FVL. Oraagem como oponentes entre si («Frente a frente, como irmãos inimigos,[...] (p. 26)), ora como adjuvantes nas adversidades que infligem aoshumanos e seu universo agrário. Estão no primeiro caso o alíseo de nordestee a monção húmida e no segundo aquele vento e a lestada.De fisionomias e actuações distintas, só a monção húmida de sul serápotencialmente benfazeja a homens e plantas. Contrariada pelo nordeste,ela só pode investir nos intervalos «de descuido» (p. 26) em que elese ausenta, «adormece, ou se esquece da sua missão de limpeza» (p. 26).Pertinaz lutadora contra o estatuto de clandestinidade que o nordeste‘pretende’ conferir-lhe, usa do savoir faire de invadir «a atmosfera comas cautelas de quem entra pela porta traseira» (p. 26) e consegue trazeras primeiras águas, por vezes atordoadamente, violentamente. «Chuvasbrabas» (diríamos), provocam enxurradas, desabamentos de terras, forteerosão do parco húmus que, descendo as vertentes, se espalha pelaspraias e pelo mar circundante das Ilhas.De algum modo como a monção húmida, o nordeste alia aspectospositivos a outros, neste caso mais numerosos, de sinal contrário. «Varreo ar, purifica-o. Leva para o mar os detritos suspensos nos espaços,arrasta os micróbios, os mosquitos. E as nuvens e a chuva também. Se992007 E-BOOK CEAUP
- Page 5 and 6:
VERTENTES DA INSULARIDADE NANOVELÍ
- Page 7 and 8:
ÍNDICEApresentação 9Nota prévi
- Page 9:
Concorri ao Mestrado de Literaturas
- Page 12 and 13:
Maria Luísa BaptistaNOTA PRÉVIAPa
- Page 14 and 15:
Maria Luísa Baptista14go, pude con
- Page 16 and 17:
Maria Luísa Baptista02.MANUEL LOPE
- Page 18 and 19:
Maria Luísa Baptista18seus número
- Page 20 and 21:
Maria Luísa Baptistapara os meteor
- Page 22 and 23:
Maria Luísa Baptistae sofrendo um
- Page 24 and 25:
Maria Luísa Baptista24para a franc
- Page 26 and 27:
Maria Luísa Baptista26A relativa p
- Page 28 and 29:
Maria Luísa Baptistade contextuali
- Page 30 and 31:
Maria Luísa Baptista1. DA ACÇÃO3
- Page 32 and 33:
Maria Luísa Baptistamo entre quere
- Page 34 and 35:
Maria Luísa Baptista34A partir da
- Page 36 and 37:
Maria Luísa Baptista36títulos apo
- Page 38 and 39:
Maria Luísa Baptistaremos a afirma
- Page 40 and 41:
Maria Luísa Baptista40Notemos que
- Page 42 and 43:
Maria Luísa Baptistasilenciaram. C
- Page 44 and 45:
Maria Luísa Baptista44distintivos
- Page 46 and 47:
Maria Luísa Baptista46insuficiente
- Page 48 and 49: Maria Luísa Baptista48(CB, p. 57).
- Page 50 and 51: Maria Luísa BaptistaA despeito dis
- Page 52 and 53: Maria Luísa Baptista52de interven
- Page 54 and 55: Maria Luísa Baptista4. DO ESPAÇO4
- Page 56 and 57: Maria Luísa Baptista56Porto Novo,
- Page 58 and 59: Maria Luísa Baptista58os elementos
- Page 60 and 61: Maria Luísa Baptista60lhe mina o s
- Page 62 and 63: Maria Luísa Baptista62Não encontr
- Page 64 and 65: Maria Luísa Baptistacontribuem par
- Page 66 and 67: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 68 and 69: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 70 and 71: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 72 and 73: Maria Luísa Baptista05.ANÁLISE DE
- Page 74 and 75: Maria Luísa BaptistaO «combate»
- Page 76 and 77: Maria Luísa Baptistaandro que, a d
- Page 78 and 79: Maria Luísa Baptistaconsigna-se, p
- Page 80 and 81: Maria Luísa Baptista80marido, uma
- Page 82 and 83: Maria Luísa BaptistaO acentuar dos
- Page 84 and 85: Maria Luísa BaptistaO milharal, re
- Page 86 and 87: Maria Luísa Baptista86do «Romance
- Page 88 and 89: Maria Luísa Baptista88Como, pois,
- Page 90 and 91: Maria Luísa Baptista- a acção do
- Page 92 and 93: Maria Luísa Baptista92Sendo assim,
- Page 94 and 95: Maria Luísa BaptistaAfigura-se, po
- Page 96 and 97: Maria Luísa Baptista96ficos, mas a
- Page 100 and 101: Maria Luísa Baptistaa atmosfera es
- Page 102 and 103: Maria Luísa Baptistalíngua de fog
- Page 104 and 105: Maria Luísa Baptista104ção da su
- Page 106 and 107: Maria Luísa Baptistaquando a árvo
- Page 108 and 109: Maria Luísa Baptista108Actualizaç
- Page 110 and 111: Maria Luísa Baptista• «O posto
- Page 112 and 113: Maria Luísa Baptista112«Tem algum
- Page 114 and 115: Maria Luísa Baptista114Inerente à
- Page 116 and 117: Maria Luísa Baptista116Miguel Alve
- Page 118 and 119: Maria Luísa Baptista118Gente das p
- Page 120 and 121: Maria Luísa Baptista120a mão-de-o
- Page 122 and 123: Maria Luísa Baptistalos ventos cor
- Page 124 and 125: Maria Luísa Baptistadas a pique on
- Page 126 and 127: Maria Luísa Baptista• «A tarde
- Page 128 and 129: Maria Luísa Baptistasente embora,
- Page 130 and 131: Maria Luísa Baptista130directa. Ma
- Page 132 and 133: Maria Luísa Baptista«Fiz bem o qu
- Page 134 and 135: Maria Luísa Baptistata-se devidame
- Page 136 and 137: Maria Luísa Baptistatem-se os valo
- Page 138 and 139: Maria Luísa Baptistanada mais. Zep
- Page 140 and 141: Maria Luísa Baptista140Neste caso,
- Page 142 and 143: Maria Luísa Baptistaos homens. E,
- Page 144 and 145: Maria Luísa Baptista• a antevis
- Page 146 and 147: Maria Luísa Baptistase fosse para
- Page 148 and 149:
Maria Luísa Baptista— Nem me lem
- Page 150 and 151:
Maria Luísa Baptista- o «querer b
- Page 152 and 153:
Maria Luísa Baptistacom bosques, c
- Page 154 and 155:
Maria Luísa Baptista— Homem nasc
- Page 156 and 157:
Maria Luísa BaptistaSupomos poder
- Page 158 and 159:
Maria Luísa Baptistaágua que se s
- Page 160 and 161:
Maria Luísa BaptistaO telurismo co
- Page 162 and 163:
Maria Luísa Baptista• «Quem olh
- Page 164 and 165:
Maria Luísa Baptistacimento da vul
- Page 166 and 167:
Maria Luísa BaptistaAssim, em FVL
- Page 168 and 169:
Maria Luísa Baptistadividual, de l
- Page 170 and 171:
Maria Luísa Baptista• «Mas lá
- Page 172 and 173:
Maria Luísa BaptistaTemos por form
- Page 174 and 175:
Maria Luísa Baptista«Parece exact
- Page 176 and 177:
Maria Luísa Baptistaa uma meia dú
- Page 178 and 179:
Maria Luísa Baptistarelacionais (2
- Page 180 and 181:
Maria Luísa Baptistapotencialidade
- Page 182 and 183:
Maria Luísa Baptista«— Sempre e
- Page 184 and 185:
Maria Luísa Baptista184Um como out
- Page 186 and 187:
Maria Luísa BaptistaO «querer bip
- Page 188 and 189:
Maria Luísa Baptista• «Era o qu
- Page 190 and 191:
Maria Luísa BaptistaNa verdade, a
- Page 192 and 193:
Maria Luísa Baptistaa partilha do
- Page 194 and 195:
Maria Luísa Baptistalocando o home
- Page 196 and 197:
Maria Luísa Baptistados longes tra
- Page 198 and 199:
Maria Luísa Baptista(solidariedade
- Page 200 and 201:
Maria Luísa Baptistaproduções qu
- Page 203 and 204:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 205 and 206:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 207 and 208:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 209 and 210:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 211 and 212:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 213 and 214:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 215 and 216:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 217 and 218:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 219 and 220:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 221 and 222:
Vertentes da insularidade na novel