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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesSenhor. Entre esta fé e a escuridão, entre a coragem e o pânico, o povoescolhia a coragem e a fé porque eram tocadas pela luzinha da esperança.Perante a grandeza e o poder do Céu, a esperança era o melhorcompromisso dos homens para com a vida. Não seria a melhor forma defazer o Céu devedor dos homens?» (pp. 14 e 15).Tal, insistimos, o rosto da chuva. Não anotámos ocorrências discursivasespecíficas de animização — personificação da chuva, ocorrênciasque efectivamente sublinhariam de forma mais evidente o estatuto depersonagem desta força natural.Outras das personagens — «agentes», não rigorosamente antropomórficas(tanto quanto a chuva), embora concebidas com actuações(des)humanizadas, são os ventos. Símbolos de instabilidade, de inconstância,os ventos, tratados por vezes como personagens colectivas(«O nordeste é um exército invisível armado de vassouras.» — p. 26),desempenham um papel fulcral, motor primeiro da acção de FVL. Oraagem como oponentes entre si («Frente a frente, como irmãos inimigos,[...] (p. 26)), ora como adjuvantes nas adversidades que infligem aoshumanos e seu universo agrário. Estão no primeiro caso o alíseo de nordestee a monção húmida e no segundo aquele vento e a lestada.De fisionomias e actuações distintas, só a monção húmida de sul serápotencialmente benfazeja a homens e plantas. Contrariada pelo nordeste,ela só pode investir nos intervalos «de descuido» (p. 26) em que elese ausenta, «adormece, ou se esquece da sua missão de limpeza» (p. 26).Pertinaz lutadora contra o estatuto de clandestinidade que o nordeste‘pretende’ conferir-lhe, usa do savoir faire de invadir «a atmosfera comas cautelas de quem entra pela porta traseira» (p. 26) e consegue trazeras primeiras águas, por vezes atordoadamente, violentamente. «Chuvasbrabas» (diríamos), provocam enxurradas, desabamentos de terras, forteerosão do parco húmus que, descendo as vertentes, se espalha pelaspraias e pelo mar circundante das Ilhas.De algum modo como a monção húmida, o nordeste alia aspectospositivos a outros, neste caso mais numerosos, de sinal contrário. «Varreo ar, purifica-o. Leva para o mar os detritos suspensos nos espaços,arrasta os micróbios, os mosquitos. E as nuvens e a chuva também. Se992007 E-BOOK CEAUP

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