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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopes2. Se o serão ao luar parece manifestar a alegria convivial de umapopulação que, para festejar as primeiras chuvas, canta, toca, dança esonha, a verdade é que é também durante esse serão que se instalam fortesapreensões no espírito de José da Cruz: «Esse pessoal afoga em poucaágua» e «Eu te digo, Zepa, gosto de ver pessoal contente, mas primeiraságuas são conta de corvo.» (ambas as citações a p. 69).3. A chegada de Miguel Alves poderá fazer pensar ao mesmo temponum reatamento da sua relação amorosa com a professora Maria Alicee na sua (de Miguel Alves) identificação com um deus ex machina quepromovesse economicamente a pequena empresa rural que José da Cruzgeria. Ao contrário, observar-se-á a inconsistência dos planos do funcionáriopúblico que mais parece acabar por assumir o papel de portador dalestada e seu cortejo de calamidades.A sequência «Leandro enamorado» cria uma quase clareira na obliquituderecessiva que vem aumentando desde o início da lestada. Será quelá para onde são exilados os ‘malditos’, a natureza se lhes concede um diálogoe os protege? Será a montanha uma ilha da felicidade possível? (22)-(23) . Ocarácter extensivo desta sequência não terá, com efeito, seguimento (pelomenos intradiegético). Trata-se de um espaço de desanuviamento provisório,precário mas indispensável nesta economia romanesca, de um trágicoimplacavelmente crescente. A vastidão da desgraça é tal que ela atinge demodo indirecto e por arrastamento as populações urbanas da planície: carecentesde um bode expiatório, acham-no com facilidade em Leandro; e oleitor acabará por se interrogar sobre qual «O crime» de que se trata...Sobreponíveis, por conseguinte, um estrato superficial de leitura quefornece — passe a metáfora — o prazer suave de um clima temperado,e um outro estrato, subjacente, de leitura menos imediata, que conferiráuma nova (não única, obviamente) funcionalidade, mais ampla, a indíciospresentes no primeiro estrato. Prosseguindo na metáfora, o tempo éagora prognóstico de procela. A germinalidade de outras (as imediatase as novas) significações só será reconhecida, como é de prever, a posteriori.E será decerto sobretudo na estratégia narrativa da pluralidade deplanos de leitura que efectivamente parece residir uma forte motivaçãodo «prazer dramático»; não tanto quanto na «sequência de viragens combativasque preludiam o desenlace trágico e a catarse trágica» (24) .932007 E-BOOK CEAUP

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