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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Maria Luísa Baptista88Como, pois, proceder ao levantamento de núcleos ou sequências,se, na realidade, nada se passa diegeticamente que não seja remissível auma coacção, directa ou menos próxima, da natureza?Manipulado por um destino implacável e insuperável, o homem hádeverificar com frequência que as suas decisões são antes, como atrásse disse (cf. p. 79), por trágica ironia, meios da sua própria condenação.A titulo de exemplo, é assim que José da Cruz opta pela «sementeira empó» (isto é, antes da vinda das chuvas) e, além de não chegar a ver gradoo milho investido, ficará sem sustento suficiente para a família e sem reservapara uma eventual nova sementeira; é assim também que o mesmoJosé da Cruz, para poupar o socalco («pilar) recentemente reconstruídoe as culturas, prefere não retirar a rocha que a «quebrada» deixara emequilíbrio instável e ela lhe tragará Zepa, a sua mulher.O que ocorre, o que avança, principalmente na «Primeira parte» deFVL, é a passagem do tempo, periodicamente marcado entre Setembroe Fevereiro: sucessiva negação da expectativa. Quanto à «Segunda parte»,em que a balizagem temporal se nos manifesta, aliás, menos precisado que na «Primeira» (porque textualmente menos relevante), é já maisplausível uma clarificação de núcleos e sequências, uma vez que a esperançajá foi quase aniquilada e, pensamos, o(s) flagelo(s) já actuara(m);e ainda que se mantenha(m) presente(s) como cenário e nas consequenciasgravíssimas que suscita(m), aparenta(m) permitir opções de condutaaos humanos. (São talvez, antes, mais subtis meios de iludir umaliberdade de actuação, e, de novo, a ironia trágica que acima se sugere,se voltará contra quem presume julgar e agir).FVL não é, pois, essencialmente, uma obra de representação de umafactualidade, em que os episódios constituam a trama subjacente à construçãoda narrativa. Já atrás (p. 74) opinámos tratar-se de uma narrativamuito mais indicial do que funcional, no sentido barthesiano dostermos. FVL é um romance de espaço, não um romance de acção ou depersonagem.FVL compõe-se de duas partes de tratamento discursivo algo distinto,e é contudo una. Na «Primeira», dir-se-ia que é sobretudo o cenárioque actua por acumulação de indícios menos ou mais claros, menos oumais subtis (omina) até à catástrofe que antecede o clímax, e em que aE-book CEAUP 2007

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