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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopesdúvidas dos outros, dava-lhe extraordinária força de ânimo. E era comsince ridade que confiava na coragem que os outros, em tais circunstâncias,lhe transmitiam.— Tem algum mal que não tem remédio na vida? Esta perguntaguardava uma meia resposta.— Deus dá remédio pra tudo — respondeu-lhe José Felícia, e eraesta a resposta que José da Cruz queria.— Então tem remédio.João Felícia levantou a cara para o céu.— Quem tem filhos a criar tem pensar na cabeça, compadre Isé.Apertar lato na barriga é remédio?— Tambem é remédio.João Felícia era um homem sensível, de coração na mão. Tinha amulher e três meninos. Como o Isé. Mas o seu coração era mais fraco.Desatou a soluçar. Vendo que o compadre não dizia mais nada, desceupelo milharal destruído de regresso a casa.»A subsequência narrativa de FVL consagra o declive decorrentedas culminâncias da negatividade: o mal alastra, polifacetado, incoercível,total.Novembro é também o tempo em que se evoca (e não se comemora) afesta de Santo André, na hora em que só a desgraça preenche o horizonte(FVL, pp. 122-123). Novembro vê ainda instalar-se a fome em Terranegra.Principia o êxodo rumo à estrada, idealizado banquete de empregoque faria face à indigência geral: «Na terra de Canaan...» (FVL, p. 145).Em Dezembro sobrevém pela noite a agoirenta «quebrada» que um diaengolirá Zepa. Em Janeiro, nova passada temível do Fatum na intensificaçãodo cortejo dos retirantes com seu belíssimo ‘coro’ patético de «cadáveresadiados», uma colectiva via crucis, não única porém (FVL, pp.142-145) (18) . Destaquemos da vozearia amarga apenas um exemplo: «Euenterrei o pai de meus filhos na noite de quarta-feira. Meus filhos foramlogo depois dele. No domingo eu estava eu com eu e mais ninguém» (p.144). A morte dos filhos de José da Cruz carregará de mais negro o cenário.Fevereiro trará a maldição paterna sobre Leandro e a morte de Zepa.Entre este mês e os seguintes (talvez mesmo Maio), decorre um períodointercalar de alguma descompressão trágica: é o tempo efémero852007 E-BOOK CEAUP

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