19.08.2015 Views

VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopesgico decisivo da dilaceração irreparável da totalidade homem-terra: elaconsagra a morte da terra e, desenraizando o homem, viabiliza tambémo aniquilamento do outro constituinte daquela totalidade (e parecerauma esperança).O caminhar do destino antevê-se já mesmo no Setembro seco em quese inicia a narrativa. É o tempo ambíguo do pressentimento das águas,atmosfera carregada do dilema entre o «tenso silêncio de receosa expectativa»(FVL, p. 13) e o sonho de José da Cruz; tempo de apreensões eincertezas quanto à decisão de semear.O tempo, aliás, continuará a balizar a fábula trágica do vento, pendularmente,mês a mês: O «vento rijo» (FVL, p. 63) do início de Outubro— «a fúria do nordeste» (FVL, p. 63) — poderia secar excessivamente asterras «antes que novas chuvas sobreviessem» (FVL, p. 63). Efectivamente«Outubro era a encruzilhada que levava a dois destinos: fartura ouestiagem. Nesse ano não se sabia bem. Até meados do mês ventou. Agorao vento parara de repente» (FVL, p. 64). Tal paragem («calmaria» (FVL,p. 65)) significaria, na melhor hipótese, «a ofensiva das monções, dasgrandes humidades do sul» (FVL, p. 64).Novembro, indeciso ainda a princípio, parecia confirmar a probabilidadeoptimista da aproximação das chuvas; até que o vento se instale:«Depois mais acentuado a nordeste. Sempre com tendência apuxar para leste. Descia dos cabeços do Campo Grande e da Ribeira dasPatas, vindo dos lados do Canal, retalhando e dispersando as nuvens.Estas fugiram despedaçadas para o mar, batidas pelo bafo ressequidoda costa africana, contrariadas nas suas intenções, destruídas na sua essência.O céu começou a desnudar-se, à medida que o manto cinzento serompia, como tecido podre, aqui e ali, sem remédio. José da Cruz ouvirade madrugada o estalar de madeira queimada nos tabuados das janelase da porta, nos caixilhos, na armação da cobertura. Escutara o mexerde coisas secas na rua. Era o suão a morder. Na manhã nascente o Solmostrou a face amarelenta e suja. Fiapos de nuvens pairavam longe, umpouco ensanguentados como restos duma carnificina. A grande ofensivado céu falhara dessa vez.» (pp. 64-65).812007 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!