19.08.2015 Views

VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesTexto de índole narrativa, FVL não é formalmente uma tragédia. Maso seu discurso caracteriza-se por numerosos traços que o aproximam detal clima. Não diremos, por exemplo, que FVL se inscreva rigorosamentena ortodoxia da «lei das três unidades» (acção, tempo e lugar), mas,como acabámos de observar (5.1.), a unidade de acção e (como veremosem 5.4.), em certo sentido, a unidade de espaço integram a peculiaridadedistintiva da obra. De algum modo também se pode considerar otempo como instância una, visto que a acção de FVL coincide com o ciclodo flagelo, desde o seu dealbar ao seu ocaso, passando pelo vértice doclimax trágico. Analisemos, pois, nas achegas subsequentes, como o trágicoconstitui um dos aspectos dominantes da acção de FVL.A obra assenta, efectivamente, sobre todo um lastro trágico, emergentea partir do próprio título. A situação de vítimas do flagelo elucidade imediato o leitor quer quanto à temática essencial quer quanto à passividadedo estatuto dos sujeitos do enunciado (6) .É que o fatalismo estrutura toda a narrativa, num afunilamento progressivode situações que, na maioria dos casos, depois do desespero, desaguamno aniquilamento das vitimas. E Aristóteles preconizara: «Quenela [na fábula] se não passe da infelicidade para a felicidade, mas, pelocontrário, da dita para a desdita» (7) .Um «prólogo oculto», contextualizador da acção trágica, abre o romance(pp. 13-17). Além deste elemento, salientada já a unidade de acçãoem que se envolvem os «actores» (no sentido greimasiano do termo),refiramos de seguida a singeleza e a sobriedade arquitectónica da obra,a concatenação meticulosamente estudada dos episódios, toda a contençãoexpressiva dos meios discursivos.O dilema (pp. 24-28), factor trágico de relevo, instaura-se relativamenteà oportunidade da sementeira; e ao contrário do que possaaparentar, é um problema que abrange integralmente o indivíduotanto na sua dimensão de responsável por uma actividade profissional(agrícola), como na de responsável pela sobrevivência alimentar da família,como ainda na de, em certo sentido, ‘mentor’ de uma pequenasociedade. Sabemos que a determinação de José da Cruz é uma forçamobilizadora; um erro (precipitação ou atraso) compromete intrinsecamentetoda uma comunidade (pp. 37-38). O dilema de José da Cruz772007 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!