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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesO título do romance recobre globalmente uma unidade de acçãonarrativa, embora cada uma das grandes partes se caracterize por umaoutra unidade sua, peculiar. Em CB, entretanto, isso não acontece: otítulo é, para o narratário, um elemento motivante e em verdade só encontraráefectivamente justificação na parte final da obra. Terra viva, otítulo primitivo, teria, como em FVL, a vantagem de uma maior abrangência,mas é possível que ficasse aquém na sua função de estímulo aoconhecimento da solução perante a situação dilemática do herói. Naobra de que agora nos ocupamos o problema não se põe nesses termos:o que nos importa mais não é a ‘sorte’ de um protagonista, mas o modusfaciendi do flagelo e principalmente o do discurso sobre a ‘sorte’ colectivade um povo vitimado e progressivamente arrasado por uma calamidadee suas sequelas.O tónus característico — o do espectro da fome e o da fome instalada— é uma invariante, ainda que sujeita a agravamentos. Afigura-senosque o Autor pretende estetizar a situação limite a que é sujeita umapopulação, problematizando o flagelo natural gradativamente, nos seusvários rostos, até às consequências últimas. Veremos que Lopes exploraráas cores que propendem ao desencadear do êxtase trágico.Voltemos ao esquema fundamental da construção narrativa utilizadona análise de CB: poderemos observar que, em termos genéricos, emFVL o «conflito» consistirá na dúvida quanto à oportunidade da sementeirado milho, opção entre uma esperança confiante (se bem que, racionalmente,com pouco fundamento) e a indiferença (o cepticismo) deuma resignação imobilista, cedência aos imperativos da estiagem.«Havia ansiedade nos seus olhos, mas também dureza e persistência.E havia esperança e coragem e medo. A esperança nas águas e otemor da estiagem (2) faziam parte de um hábito secular transmitido degeração a geração. Todos os anos era assim: a esperança descia em socorrodaqueles que tinham o medo na alma; por isso ela era a última luza consumir-se. Sim, a chuva chegaria um dia. Esperavam por ela comose espera pela sorte, no jogo.» (p. 14).73Eis aqui contida a oposição semântica central da obra.2007 E-BOOK CEAUP

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