Maria Luísa Baptista60lhe mina o sossego do espírito e lhe provoca um estado de ansiedade.Assim, encontrámo-lo com frequência confuso, perplexo, dividido. Esseestado de espírito aparece documentado em numerosas passagens, nomeadamenteno início do capítulo I.2, pp. 19 e 21, e no início do capítuloI.7, pp. 55-56.Também por sua parte Escolástica conversa com os seus botões, devaneiasobre a liberdade de caminhar pelos montes, fora do alcance deuma mãe autoritária, enche-se de medo ao imaginar que alguém (ManéQuim) a observa depois do banho matinal no ribeiro. Vejam-se, a títulode exemplo, os trechos das páginas 41 («Ah! gostava das longas jornadas[...]»), pp. 43-44 («Desamparada na sua nudez, [...]». Este último passoilustra o cuidado de verosimilhança na representação dos sentimentoscontraditórios de desejo-recusa — «decepção e frustração» (p. 44) quecaracterizam o psiquismo juvenil feminino.Mas o espaço psicológico não se processa apenas no âmbito do monólogo,de que é ainda exemplo a reflexão de Joquinha depois de admoestadopor nhô Lourencinho (pp. 98-99), ou a sua larga retrospecção que,numa analepse externa, proporciona o percurso da personagem (pp.82-85); com efeito, a rememoração que Joquinha, de visita a nha Joja,com ela faz do passado comum (pp. 101-105), constitui um novo caso dealargamento do campo diegético, através de uma nova analepse externa.Neste passo, aliás, atesta-se uma outra particular incursão no tempo passado,através do aspecto, agora ruinoso, da casa de nha Joja e ambientecircundante (p. 102).O espaço da diegese estende-se ainda pelas zonas virtuais do domínioonírico, em que associações de imagens e de ideias se conjugam deforma não inteiramente lógica. Do repositório do subconsciente emergeno sonho a interpretação literal da asserção tomada como símbolo, quenhô Lourencinho repete no seu jeito de gritar o apego à terra:«Sabes, nos momentos decisivos o homem vira dois. O que mandae o que desobedece, o que aceita e o que nega, o que vai e o que fica. Épreciso decidir: um lado ou outro; cá ou lá. Mas para isso um dos doisserá aniquilado.» (p. 144).E-book CEAUP 2007
Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesSerá de interesse, a este propósito, observar que o mesmo sonhose instala, em contiguidade, no sono de Mané Quim que sofre «golpesfuriosos na cabeça» que um homem lhe desferia «com a sua faca fria efina» (p. 146).Através do sonho, Joquinha visualiza mais nítida a própria responsabilidadee Mané Quim pressente que o perigo o vitima: cada um rejeitao conteúdo do sonho-pesadelo que o atormenta, cada um ‘recebe’ umaviso premonitório de que a partida não vai ter êxito.A polivalência dos recursos discursivos analisados revela a funcionalidadedo «espaço psicológico», numa complementaridade, esteticamenteconseguida, da informação da linha diegética axial, que modeliza.5. DO TEMPOChuva Braba é uma história não datada em que, todavia, alguns informantestemporais, algumas referências ao estádio sócio-económiconos dão indirectamente conta de que a diegese se instala numa épocapróxima da da produção do presente texto, isto é, provavelmente entreos anos 40-50. (A 1.ª edição de Chuva Braba data — lembra-se — de 1956e calcula-se que a obra estaria já em elaboração por volta de 1947) (27) .Como exemplo, mencionaremos:• a alusão aos navios «carvoeiros» que faziam escala em S. Vicente(cf. CB, p. 133);• a influência inglesa dos homens do mar, na linguagem de Mariano:«Um bom captain deve gostar de mim...» (CB, p. 133), ou na de Joquinha:«Um wonderkind» (CB, p. 84);• a carência em Santo Antão de infra-estruturas como a iluminaçãoeléctrica: «A vela de purgueira, em equilíbrio num graveto espetado nointerstício da parede, junto da janelinha das arrecadações, espalhavauma claridade suja e espessa.» (CB, p. 38). Em Porto Novo, no quarto deMariano: «Mariano assoprou a vela e deitou-se.» (CB, p. 131); na pensãode Maria Lé, Joquinha: «Assoprou a vela e ficou de olhos abertos no escuro.»(CB, p. 141); e, ainda em Porto Novo, no exterior: «Três homenspenetraram na ruela a correr. O primeiro levava um foco.» (CB, p. 125).612007 E-BOOK CEAUP
- Page 5 and 6:
VERTENTES DA INSULARIDADE NANOVELÍ
- Page 7 and 8:
ÍNDICEApresentação 9Nota prévi
- Page 9: Concorri ao Mestrado de Literaturas
- Page 12 and 13: Maria Luísa BaptistaNOTA PRÉVIAPa
- Page 14 and 15: Maria Luísa Baptista14go, pude con
- Page 16 and 17: Maria Luísa Baptista02.MANUEL LOPE
- Page 18 and 19: Maria Luísa Baptista18seus número
- Page 20 and 21: Maria Luísa Baptistapara os meteor
- Page 22 and 23: Maria Luísa Baptistae sofrendo um
- Page 24 and 25: Maria Luísa Baptista24para a franc
- Page 26 and 27: Maria Luísa Baptista26A relativa p
- Page 28 and 29: Maria Luísa Baptistade contextuali
- Page 30 and 31: Maria Luísa Baptista1. DA ACÇÃO3
- Page 32 and 33: Maria Luísa Baptistamo entre quere
- Page 34 and 35: Maria Luísa Baptista34A partir da
- Page 36 and 37: Maria Luísa Baptista36títulos apo
- Page 38 and 39: Maria Luísa Baptistaremos a afirma
- Page 40 and 41: Maria Luísa Baptista40Notemos que
- Page 42 and 43: Maria Luísa Baptistasilenciaram. C
- Page 44 and 45: Maria Luísa Baptista44distintivos
- Page 46 and 47: Maria Luísa Baptista46insuficiente
- Page 48 and 49: Maria Luísa Baptista48(CB, p. 57).
- Page 50 and 51: Maria Luísa BaptistaA despeito dis
- Page 52 and 53: Maria Luísa Baptista52de interven
- Page 54 and 55: Maria Luísa Baptista4. DO ESPAÇO4
- Page 56 and 57: Maria Luísa Baptista56Porto Novo,
- Page 58 and 59: Maria Luísa Baptista58os elementos
- Page 62 and 63: Maria Luísa Baptista62Não encontr
- Page 64 and 65: Maria Luísa Baptistacontribuem par
- Page 66 and 67: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 68 and 69: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 70 and 71: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 72 and 73: Maria Luísa Baptista05.ANÁLISE DE
- Page 74 and 75: Maria Luísa BaptistaO «combate»
- Page 76 and 77: Maria Luísa Baptistaandro que, a d
- Page 78 and 79: Maria Luísa Baptistaconsigna-se, p
- Page 80 and 81: Maria Luísa Baptista80marido, uma
- Page 82 and 83: Maria Luísa BaptistaO acentuar dos
- Page 84 and 85: Maria Luísa BaptistaO milharal, re
- Page 86 and 87: Maria Luísa Baptista86do «Romance
- Page 88 and 89: Maria Luísa Baptista88Como, pois,
- Page 90 and 91: Maria Luísa Baptista- a acção do
- Page 92 and 93: Maria Luísa Baptista92Sendo assim,
- Page 94 and 95: Maria Luísa BaptistaAfigura-se, po
- Page 96 and 97: Maria Luísa Baptista96ficos, mas a
- Page 98 and 99: Maria Luísa Baptista(pp. 24-28); e
- Page 100 and 101: Maria Luísa Baptistaa atmosfera es
- Page 102 and 103: Maria Luísa Baptistalíngua de fog
- Page 104 and 105: Maria Luísa Baptista104ção da su
- Page 106 and 107: Maria Luísa Baptistaquando a árvo
- Page 108 and 109: Maria Luísa Baptista108Actualizaç
- Page 110 and 111:
Maria Luísa Baptista• «O posto
- Page 112 and 113:
Maria Luísa Baptista112«Tem algum
- Page 114 and 115:
Maria Luísa Baptista114Inerente à
- Page 116 and 117:
Maria Luísa Baptista116Miguel Alve
- Page 118 and 119:
Maria Luísa Baptista118Gente das p
- Page 120 and 121:
Maria Luísa Baptista120a mão-de-o
- Page 122 and 123:
Maria Luísa Baptistalos ventos cor
- Page 124 and 125:
Maria Luísa Baptistadas a pique on
- Page 126 and 127:
Maria Luísa Baptista• «A tarde
- Page 128 and 129:
Maria Luísa Baptistasente embora,
- Page 130 and 131:
Maria Luísa Baptista130directa. Ma
- Page 132 and 133:
Maria Luísa Baptista«Fiz bem o qu
- Page 134 and 135:
Maria Luísa Baptistata-se devidame
- Page 136 and 137:
Maria Luísa Baptistatem-se os valo
- Page 138 and 139:
Maria Luísa Baptistanada mais. Zep
- Page 140 and 141:
Maria Luísa Baptista140Neste caso,
- Page 142 and 143:
Maria Luísa Baptistaos homens. E,
- Page 144 and 145:
Maria Luísa Baptista• a antevis
- Page 146 and 147:
Maria Luísa Baptistase fosse para
- Page 148 and 149:
Maria Luísa Baptista— Nem me lem
- Page 150 and 151:
Maria Luísa Baptista- o «querer b
- Page 152 and 153:
Maria Luísa Baptistacom bosques, c
- Page 154 and 155:
Maria Luísa Baptista— Homem nasc
- Page 156 and 157:
Maria Luísa BaptistaSupomos poder
- Page 158 and 159:
Maria Luísa Baptistaágua que se s
- Page 160 and 161:
Maria Luísa BaptistaO telurismo co
- Page 162 and 163:
Maria Luísa Baptista• «Quem olh
- Page 164 and 165:
Maria Luísa Baptistacimento da vul
- Page 166 and 167:
Maria Luísa BaptistaAssim, em FVL
- Page 168 and 169:
Maria Luísa Baptistadividual, de l
- Page 170 and 171:
Maria Luísa Baptista• «Mas lá
- Page 172 and 173:
Maria Luísa BaptistaTemos por form
- Page 174 and 175:
Maria Luísa Baptista«Parece exact
- Page 176 and 177:
Maria Luísa Baptistaa uma meia dú
- Page 178 and 179:
Maria Luísa Baptistarelacionais (2
- Page 180 and 181:
Maria Luísa Baptistapotencialidade
- Page 182 and 183:
Maria Luísa Baptista«— Sempre e
- Page 184 and 185:
Maria Luísa Baptista184Um como out
- Page 186 and 187:
Maria Luísa BaptistaO «querer bip
- Page 188 and 189:
Maria Luísa Baptista• «Era o qu
- Page 190 and 191:
Maria Luísa BaptistaNa verdade, a
- Page 192 and 193:
Maria Luísa Baptistaa partilha do
- Page 194 and 195:
Maria Luísa Baptistalocando o home
- Page 196 and 197:
Maria Luísa Baptistados longes tra
- Page 198 and 199:
Maria Luísa Baptista(solidariedade
- Page 200 and 201:
Maria Luísa Baptistaproduções qu
- Page 203 and 204:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 205 and 206:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 207 and 208:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 209 and 210:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 211 and 212:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 213 and 214:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 215 and 216:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 217 and 218:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 219 and 220:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 221 and 222:
Vertentes da insularidade na novel