19.08.2015 Views

VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Maria Luísa Baptista48(CB, p. 57). Nhô Lourencinho, energia telúrica em declínio, não cessade advertir que «quem vai longe não volta mais. O corpo pode um diavoltar, mas a alma, essa, não volta mais» (CB, p. 57).Mas enquanto nha Joja é a ‘resignação’, nhô Lourencinho é a ‘fé’. «Esuor do rosto todos os dias, toda a hora, e calos nas mãos, que fazem aalma aguentar aqui. Pensas que a terra dá alguma coisa sem fé? Pensas?Sem fé a terra dá grama, e grama é maldição, ouviste?» (CB, p. 57).Nhô Lourencinho é o tipo da personagem que, de certo modo, emalgo contraria a nossa afirmação de há pouco, segundo a qual, a maioriadas personagens brilha no momento que cabe a cada uma e, de seguida,se apaga. Com efeito, nhô Lourencinho não só dialoga amplamente comMané Quim, como está presente em referências frequentes de várias outraspersonagens e, inclusive, aparecerá no plano onírico, em estranhoe violento diálogo com Joquinha, já em Porto Novo. O pedido-ordem deque mate o afilhado visaria acabar nele, de uma vez por todas, radicalmente,com o dilema (que sobrevirá em recidivas iterativas, porque é ummal auto-imune).Mariano, «catraeiro, pescador, contrabandista» (CB, p. 140), congregaem torno de sio mundo da marginalidade portuária, o mundo dos pequenosque se arriscam sem garantias, com contrapartida aleatória, enquantona sombra, ao abrigo de perigos e coimas, os negociantes, sem nome esem rosto oficial, continuam a traficar, seguros e indiferentes a perigos efracassos dos que, por clara premência económica, aceitam sujeitar-se.Mariano é a face nocturna da vida difícil dos clandestinos, um dosque, com fremência e também quase sem hipóteses, alimenta o sonho departir, tendo de ficar; sonho megalómano, compensação idealizada de umviver esmagado: «Pois digo e torno a dizer, um dia salto do bote e nadopró largo, pra proa dum vapor. Tenho a certeza que o vapor me salvará eme levará pra longe. Ou senão vou pra S. Vicente e fujo como os outrostêm fugido; meto-me no paiol dum carvoeiro qualquer» (CB, p. 133).Mariano é a imagem invertida da sorte e do desejo de Mané Quim,a outra margem do «querer bipartido». Mariano é, pois, para o protagonista,a possibilidade concreta de viver o que não quer ou uma achega aconfirmar que, de facto, o seu lugar é em Ribeira das Patas, a sua opçãoé a de ficar.E-book CEAUP 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!