Maria Luísa Baptista34A partir da proposta desestabilizadora inicial (o despoletar do «conflito»)(sequência 1) (5) , sobrevém a vivência, melhor a consciência activae intensa do «querer bipartido» (sequência 2), numa tensão dilemáticado herói, em que o andamento da acção se processa a ritmo lento, Joquinhaquase inteiramente afastado (excepto sobretudo no capítulo I.8),Mané Quim entregue a si mesmo e à sua inquietação: como dado adquirido,a identificação do protagonista com a terra, a natureza; comoseu elemento perturbador, a possibilidade de ruptura de tal identidade,rasgão que equivaleria ao aniquilar da integridade do herói, «morte»ou melhor suicídio, visto que unicamente a si caberá a decisão. Lento,portanto, o decurso da acção, os vários capítulos componentes desta segundasequência não constituem, entretanto, propriamente momentosde pausa («catálises»); e instituem-se (além de assumirem outras funções)em elementos parcelares do delineamento de uma personalidade,síntese a inferir das várias facetas do seu intenso enraizamento telúrico:enamoramento (capítulos I.2, I.5 e I.9), responsabilidade familiar e sentimentofilial (capítulo I.3), paixão da terra (especialmente os capítulosI.2, I.4, I.5, I.6, I.7, l.11, I.12) (6) . Por outro lado, a busca de um conselho,por parte de Mané Quim, junto de amigos (capítulo I.7), no intuito defundamentar a sua própria decisão, é diligência que se revela inconclusiva,já que, divergindo as opiniões, Mané Quim terá de vir a defrontar-seconsigo mesmo. Esta própria disparidade de pareceres consubstancia-senum novo elemento oponente à hipótese de partir.Quer o amor, quer a relação com a mãe (ou a família), os amigos,quer a ligação à terra se conluiam numa convergência teluricista que seidentifica afinal com o traço eminentemente caracterizador do protagonista.A dúvida que se lhe instala, subsequente à proposta de nhô Joquinha,perturba, abala e reforçará, afinal, ao contrário do pretendido pelopadrinho de Mané Quim, os seus laços afectivos.Por isso se aludia acima a núcleos complexos, por poder considerarseque neles existem, numa perspectiva de micro-análise, outras entidadesmenores, determinantes de sequências menores.A decisão (sequência 3) ocorre como certa surpresa, pois inverte osentido da expectativa que a sequência anterior vinha construindo. Éuma atitude que o protagonista toma impulsivamente, como se preten-E-book CEAUP 2007
Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopesdesse esquivar a sua consciência à análise racional do acto, atitude quedecepciona o próprio, a mãe, Escolástica, de algum modo (quase paradoxalmente)o proponente e, com certeza, o narratário.Esta decisão, constitui, contudo, o ponto de inflexão do percursofeito. Subsequente a ela, a curta estadia em Porto Novo, na «Segundaparte» da obra, poderia proporcionar ao protagonista um recomeço devida (sequência 4), mas o contacto directo com organizações vivenciaiscompletamente distintas das que lhe eram (tinham sido) próprias produznele o mal-estar da inadaptação (sequência 5), que funcionará comocondicionalismo favorável à sua nova resolução, definitivamente determinadapela «chuva braba», verdadeira peripécia aristotélica: mover-seáa roda da Fortuna (sequência 6). Verificar-se-á, então, que a primeiraopção (final da «Primeira parte», sequência 3) correspondera a umafalsa decisão, epidérmica porque exógena relativamente ao sujeito: é opróprio Joquinha quem (sequência 6), arrancando uma certa máscara,quase sucumbindo, proporcionará o momento da anagnórisis, confessando-seresponsável pelos meios dolosos utilizados em Ribeira das Patas,com o objectivo de, desgostando Mané Quim, o forçar, precipitandoa decisão. É também o momento do reencontro de Mané Quim consigomesmo, do restabelecimento do equilíbrio fendido.Este novo ponto de inflexão corresponde ao da «Primeira parte»e a trajectória, em termos de construção da narrativa, afigura-se-nossimétrica.A sucessão de viragens que referimos constitui, segundo AndréNiel, a «alternância dramática» (7) , mola motivadora da curiosidadeacerca do ‘destino’ do herói, mola da emoção dramática que o «combate»deve instalar.Globalmente poderemos considerar enfim que à «Primeira parte»,mais estática, fornecendo o painel de uma sociedade rural, conviria umrótulo como Ficar ou Estar (ainda que em fermentação estejam os germesda instabilidade), enquanto, por outro lado, a «Segunda parte»,mais dinâmica, fornecendo embora ao herói os argumentos decisivos dasua opção definitiva (será definitiva?), caberia um rótulo como Partir.Expressas ficam, contudo, as reservas que distanciam as aparências das«realidades», sem o que melhor seria justamente inverter as hipóteses de352007 E-BOOK CEAUP
- Page 5 and 6: VERTENTES DA INSULARIDADE NANOVELÍ
- Page 7 and 8: ÍNDICEApresentação 9Nota prévi
- Page 9: Concorri ao Mestrado de Literaturas
- Page 12 and 13: Maria Luísa BaptistaNOTA PRÉVIAPa
- Page 14 and 15: Maria Luísa Baptista14go, pude con
- Page 16 and 17: Maria Luísa Baptista02.MANUEL LOPE
- Page 18 and 19: Maria Luísa Baptista18seus número
- Page 20 and 21: Maria Luísa Baptistapara os meteor
- Page 22 and 23: Maria Luísa Baptistae sofrendo um
- Page 24 and 25: Maria Luísa Baptista24para a franc
- Page 26 and 27: Maria Luísa Baptista26A relativa p
- Page 28 and 29: Maria Luísa Baptistade contextuali
- Page 30 and 31: Maria Luísa Baptista1. DA ACÇÃO3
- Page 32 and 33: Maria Luísa Baptistamo entre quere
- Page 36 and 37: Maria Luísa Baptista36títulos apo
- Page 38 and 39: Maria Luísa Baptistaremos a afirma
- Page 40 and 41: Maria Luísa Baptista40Notemos que
- Page 42 and 43: Maria Luísa Baptistasilenciaram. C
- Page 44 and 45: Maria Luísa Baptista44distintivos
- Page 46 and 47: Maria Luísa Baptista46insuficiente
- Page 48 and 49: Maria Luísa Baptista48(CB, p. 57).
- Page 50 and 51: Maria Luísa BaptistaA despeito dis
- Page 52 and 53: Maria Luísa Baptista52de interven
- Page 54 and 55: Maria Luísa Baptista4. DO ESPAÇO4
- Page 56 and 57: Maria Luísa Baptista56Porto Novo,
- Page 58 and 59: Maria Luísa Baptista58os elementos
- Page 60 and 61: Maria Luísa Baptista60lhe mina o s
- Page 62 and 63: Maria Luísa Baptista62Não encontr
- Page 64 and 65: Maria Luísa Baptistacontribuem par
- Page 66 and 67: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 68 and 69: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 70 and 71: Maria Luísa BaptistaAcontecimentos
- Page 72 and 73: Maria Luísa Baptista05.ANÁLISE DE
- Page 74 and 75: Maria Luísa BaptistaO «combate»
- Page 76 and 77: Maria Luísa Baptistaandro que, a d
- Page 78 and 79: Maria Luísa Baptistaconsigna-se, p
- Page 80 and 81: Maria Luísa Baptista80marido, uma
- Page 82 and 83: Maria Luísa BaptistaO acentuar dos
- Page 84 and 85:
Maria Luísa BaptistaO milharal, re
- Page 86 and 87:
Maria Luísa Baptista86do «Romance
- Page 88 and 89:
Maria Luísa Baptista88Como, pois,
- Page 90 and 91:
Maria Luísa Baptista- a acção do
- Page 92 and 93:
Maria Luísa Baptista92Sendo assim,
- Page 94 and 95:
Maria Luísa BaptistaAfigura-se, po
- Page 96 and 97:
Maria Luísa Baptista96ficos, mas a
- Page 98 and 99:
Maria Luísa Baptista(pp. 24-28); e
- Page 100 and 101:
Maria Luísa Baptistaa atmosfera es
- Page 102 and 103:
Maria Luísa Baptistalíngua de fog
- Page 104 and 105:
Maria Luísa Baptista104ção da su
- Page 106 and 107:
Maria Luísa Baptistaquando a árvo
- Page 108 and 109:
Maria Luísa Baptista108Actualizaç
- Page 110 and 111:
Maria Luísa Baptista• «O posto
- Page 112 and 113:
Maria Luísa Baptista112«Tem algum
- Page 114 and 115:
Maria Luísa Baptista114Inerente à
- Page 116 and 117:
Maria Luísa Baptista116Miguel Alve
- Page 118 and 119:
Maria Luísa Baptista118Gente das p
- Page 120 and 121:
Maria Luísa Baptista120a mão-de-o
- Page 122 and 123:
Maria Luísa Baptistalos ventos cor
- Page 124 and 125:
Maria Luísa Baptistadas a pique on
- Page 126 and 127:
Maria Luísa Baptista• «A tarde
- Page 128 and 129:
Maria Luísa Baptistasente embora,
- Page 130 and 131:
Maria Luísa Baptista130directa. Ma
- Page 132 and 133:
Maria Luísa Baptista«Fiz bem o qu
- Page 134 and 135:
Maria Luísa Baptistata-se devidame
- Page 136 and 137:
Maria Luísa Baptistatem-se os valo
- Page 138 and 139:
Maria Luísa Baptistanada mais. Zep
- Page 140 and 141:
Maria Luísa Baptista140Neste caso,
- Page 142 and 143:
Maria Luísa Baptistaos homens. E,
- Page 144 and 145:
Maria Luísa Baptista• a antevis
- Page 146 and 147:
Maria Luísa Baptistase fosse para
- Page 148 and 149:
Maria Luísa Baptista— Nem me lem
- Page 150 and 151:
Maria Luísa Baptista- o «querer b
- Page 152 and 153:
Maria Luísa Baptistacom bosques, c
- Page 154 and 155:
Maria Luísa Baptista— Homem nasc
- Page 156 and 157:
Maria Luísa BaptistaSupomos poder
- Page 158 and 159:
Maria Luísa Baptistaágua que se s
- Page 160 and 161:
Maria Luísa BaptistaO telurismo co
- Page 162 and 163:
Maria Luísa Baptista• «Quem olh
- Page 164 and 165:
Maria Luísa Baptistacimento da vul
- Page 166 and 167:
Maria Luísa BaptistaAssim, em FVL
- Page 168 and 169:
Maria Luísa Baptistadividual, de l
- Page 170 and 171:
Maria Luísa Baptista• «Mas lá
- Page 172 and 173:
Maria Luísa BaptistaTemos por form
- Page 174 and 175:
Maria Luísa Baptista«Parece exact
- Page 176 and 177:
Maria Luísa Baptistaa uma meia dú
- Page 178 and 179:
Maria Luísa Baptistarelacionais (2
- Page 180 and 181:
Maria Luísa Baptistapotencialidade
- Page 182 and 183:
Maria Luísa Baptista«— Sempre e
- Page 184 and 185:
Maria Luísa Baptista184Um como out
- Page 186 and 187:
Maria Luísa BaptistaO «querer bip
- Page 188 and 189:
Maria Luísa Baptista• «Era o qu
- Page 190 and 191:
Maria Luísa BaptistaNa verdade, a
- Page 192 and 193:
Maria Luísa Baptistaa partilha do
- Page 194 and 195:
Maria Luísa Baptistalocando o home
- Page 196 and 197:
Maria Luísa Baptistados longes tra
- Page 198 and 199:
Maria Luísa Baptista(solidariedade
- Page 200 and 201:
Maria Luísa Baptistaproduções qu
- Page 203 and 204:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 205 and 206:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 207 and 208:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 209 and 210:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 211 and 212:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 213 and 214:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 215 and 216:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 217 and 218:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 219 and 220:
Vertentes da insularidade na novel
- Page 221 and 222:
Vertentes da insularidade na novel