19.08.2015 Views

VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Maria Luísa Baptista26A relativa pequenez da superfície arável e o regime de ventos e chuvasvão promover a hipervalorização da terra como bem inalienávelpelo valor económico que representa e como componente essencial deuma identidade antropológica. Reflexo de uma tradicional actividadesedentário-agrária, o telurismo caboverdiano — assim esperamos demonstrá-lo— consubstancia-se numa intensa força anímica que visaultrapassar, assumindo-a, a precaridade dos recursos insulares, dadaa contingência quer das águas quer das secas e decorrente cortejo dedesgraças. A terra é simultânea e paradoxalmente a mãe que sustenta, amulher que se ama, a morte inexorável que extermina.Entretanto, os valores telúricos são menos relevantes para o caboverdianoda beira-mar, para quem o estatuto de vida permanece, todavia,igualmente duro, pois que a organização social em que se enquadra,de tipo urbano ou piscatório, não é pródiga em trabalho (actividadecomercial, de serviços e marítima) que remunere satisfatoriamente ouque cubra a totalidade das necessidades (nem mesmo quando eram ostempos da gesta dos baleeiros). Daí a maior mobilidade potencial destaspopulações.Sendo o horizonte omnipresente o mar (13) , ele exerce o fascínio doapelo, o anelo da distância e do desconhecido, como fé na terra prometidaou eldorado, projecção dos sonhos que cumpririam as respostas atodas as carências ressentidas, «uma oportunidade de se compensar avida estreita das ilhas» (14) .A migração interna, do interior para o litoral e inter-ilhas, quando aseca assola o Arquipélago, é outra variedade de evasão. As populaçõesatingidas acabam por ceder à prepotência inclemente dos elementos,formando procissões de «retirantes» como no Nordeste brasileiro (defortes afinidades na má sorte), em busca de um mínimo que mitigue asede e a fome.Mas pode viajar-se sem sair do quarto — já o viram Xavier de Maistre(Voyage autour de ma chambre) e Garrett que no-lo disse na suaoutra grande e polifónica divagação das Viagens na minha terra —,mesmo no comezinho âmbito da referencialidade. É assim que o álcool,como a demência ou a usura se arrolam entre os casos de evasãomarginalizadora, numa sociedade esmagada pela incapacidade de,E-book CEAUP 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!