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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopese a sua culinária adaptada à singeleza das suas exigências — o povocabo-verdiano, repito, aprendeu a esvaziar até à última gota a taça dafelicidade, e entrega-se todo a ela com a mesma desenvoltura do soldadoque sabe escolher a hora propícia para um sono tranquilo, um sonoapenas povoado de sonhos de esperança e generosidade, entre duas batalhassangrentas.»Tal afirmação de Manuel Lopes no Prefácio a Os Flagelados do VentoLeste (1960) confirma a consciência que já no início dos anos 30 aflorava,amadurecida, nos jovens intelectuais que se agregariam em tornodo projecto Claridade. Estavam então já reunidas as condições para que,«fincando os pés na terra» (8) , essa intelectualidade começasse a conceberesteticamente uma cosmovisão à medida caboverdiana e não mais numaperspectiva de tipo europeizante, desfocadamente.Com efeito, até então, a esfera cultural caboverdiana, desenvolvida àimagem e semelhança da da classe dirigente, de origem portuguesa, consideraradurante séculos dever girar incluída na esfera geral da cultura deLisboa, que pretendia ir conhecendo e acompanhando, sem que, todavia,da parte de Portugal houvesse qualquer efectiva política de planificaçãode uma difusão ou, muito menos, de um intercâmbio de culturas. A tipicidadeda expressão crioula, na multiplicidade das suas realizações (dança,música, dialecto (9) , culinária — para apenas respigar o levantamento deManuel Lopes) era oficialmente subaltemizada, manifestação de um regionalismoeuropeu, e manteve-se pela transmissão tradicional de umaprática. O mesmo silêncio se observava a propósito da peculiaridade dosprofundos problemas que afectavam o Arquipélago. Também aqui a negligênciado colonizador ou o desconhecimento (porque o desprezo indiciaa consciência subjectiva de uma superioridade) era responsável por umaoutra faceta do processo de insularização: a insularização espiritual.Ora, a partir do segundo quartel do século XX, por um conjunto decircunstâncias de que nomearemos apenas algumas, certos jovens intelectuaiscaboverdianos decidem organizar-se em torno de um novo projectocultural. Movidos pela preocupação ávida de constante informaçãoacerca da actualidade filosófica e sócio-política da sua época, mobilizavamconhecimentos principalmente na área das literaturas, com relevo232007 E-BOOK CEAUP

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