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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopese «contradança») em que participam novos e velhos. É uma celebraçãolaica e profundamente religiosa no sentido de agregadora, comunicante.As águas abençoadas, as chuvas, é que de facto rompem o silêncio:a necessidade comunicativa satisfaz-se com um vaivém de pessoas cujaalegria extravasa (cf. FVL, p. 35) na tagarelice colorida do quotidiano ouem particular nos serões «de viola e cantiga».Como vemos, a vivência das populações inscreve-se pendularmenteentre as contingências bipolarizadas do vento (ao dizer «vento», é decertoa lestada que aqui temos em mente) e da chuva, isto é, entre o universoda fome e o de uma ventura mediana.Lestada e chuva ultrapassam, por isso, a sua denotativa importânciaprimeira de entidades geofísicas, para se avocarem, cada uma a seumodo, uma estatura mítica.O vento leste é, sim, a besta mítica, pelo facies agoirento, pela formaimplacavelmente agressiva como sopra. Por essa ‘actuação’ prepotente eimprevisível, ele é a contingência ameaçadora, domínio volúvel do incontrolável,portador de males terríveis, exterminador de humanos, animais,culturas, bens em geral. A lestada traz, avassaladora, o alastramentoletal do deserto: silêncio, vazio, morte. Também pelo calor excessivo,a lestada é o «Inferno» (FVL, p. 93), o «vento maligno» (FVL, p. 117). Porisso, na pág. 103 do presente trabalho concluíamos a caracterização destevento com a afirmação de que «A lestada consagrará o caos».No outro extremo do balouçar em que se joga o viver do ilhéu caboverdianositua-se a chuva, entidade antagónica da lestada. Como tal, elatambém mitizada, em tons obviamente promissores. A água há-de vir,louca, tumultuosa e irreprimível, «chuva braba»; há-de vir pôr fim às labaredas,mitigar todas as sedes, fazer rebentar nascentes, trazer o «papiarcrioulo, dançar morna e comer cachupa» (CB, p. 123), de que têmsaudades os que disso andaram longe. É a água o grito natural insubmissoda consagração do telurismo, factor primeiro da congregação doshomens, da sua ascensão plural à dignidade da cidadania, hossana daressurreição). A chuva, aditamos agora, consagrará a bem-aventurança.Todavia, entre uma realidade mais frequente — a seca — e uma realidademenos frequente do que desejada (a insegurança de uma probabilidade)— a chuva —, se insinuará o dilema: partir ou ficar; e com ele,1912007 E-BOOK CEAUP

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