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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopestodo um ‘estudo’ em torno das condições meteorológicas e climáticas. O«lunário perpétuo» de nhô Vital (GCB e CB) condensa esse saber acumuladoda observação de gerações e, como tal, constitui um apoio preciosopara a interpretação da conjunção dos factores e previsão do tempo atmosférico.Já em 6.1., «Do telurismo» (p. 151), procedemos à transcriçãoque de seguida ousamos recordar, por de novo nos parecer oportuna eparticularmente saborosa:«Sabe ocê, segredo das águas a gente estuda na feição do tempo, agente estuda no cariz das rochas, nas nuvens, na linha do mar, na corque o céu mostra, no anel da Lua, na endireitura do vento, no cheiro queele traz. Tem mil maneiras. Uns sabem estudar melhor que outros. O lunáriode nhô Vital não fala assim como ocê. Nhô Vital estuda no lunárioe sabe ver nos astros. Diz que vai chover — e quando ele diz que chove éporque chove — a não ser se Deus não quer» (CB, p. 16).Da relacionação que estabelecem entre os elementos observados éque «os velhos» — um saber de muita experiência feito — podem emitiras opiniões que os prestigiam pelo acerto dos prognósticos.Quando se somam os meses e os anos de estiagem e se vai assistindoao diminuir dos níveis dos recursos, sem que haja o quer que seja a adquirirpara mitigar a fome, então, ao «apertar o lato» (FVL, p. 16) — oseu e o da família —, é necessário que funcione, rijo, o carácter estóico,a têmpera férrea forjada por décadas de limitações e carências de todaa espécie.O silêncio, que pressupõe um isolamento voluntário, é, pela negativa,uma manifestação da; como tal, activo, equivalerá a um(23)estado de apreensão que, gradativamente, poderá transformar-se em ansiedade,inquietação ou medo, num crescendo consentâneo com o atrasoou a recusa dos sinais da chuva.187• «[...] pairava um tenso silêncio de receosa expectativa.» (FVL, p.13).• «Como que por pudor, o pudor de transmitirem uns aos outros asapreensões que lhes iam na alma, ou envergonhados da sua situação, oshomens começaram a isolar-se, a selar a boca, a evitar-se.» (FVL, p. 14).2007 E-BOOK CEAUP

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