19.08.2015 Views

VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesMané Quim havia de pisar o limiar do expediente que João Joanaproporciona.Uma última manifestação da evasão alienante encontra-se na actuaçãoespeculativa de Artur, o comerciante de Porto Novo. A esta personagemreserva Manuel Lopes um tratamento secundário. É, como vimosem 4.3. «Sistema de personagens» (p. 43 e segs.), o sôfrego comerciantevesgo, simbolicamente vesgo, pela sua visão plana, irrelevante ou distorcidado mundo e dos outros.«— Me lembro bem; antigamente chovia em Junho ou Julho. Já estamosem Setembro e não vejo chuva cair. É medonho...— Não é tão medonho, assim, senhor Joquinha — disse Artur, comacento sibilino.— Que me diz! Então não é uma coisa feia? Estão lá para a Ribeiradas Patas cheios de cagaço. Pudera, amigo senhor Artur!— Eu lhe digo; é bom de vez em quando uma secazinha. O nossopovo é muito soberbo, precisa baixar a crista um pouco. Nos anos defartura não se encontra uma mulher nesses campos para transportar umsaco. Os homens sentam-se nos terreiros das casas a tocar viola e a fumarcanhoto, e não querem saber do resto. Se a gente anda em negóciosno interior, vemo-nos à rasca para carretear os produtos...— Bem, mas isso não é razão. Quem não precisa trabalhar trabalhase quiser, naturalmente. A estiagem é mal para todos... Não é um castigo,é uma desgraça, amigo. E nem sempre aqueles que se salvam sãomelhores que os que sucumbem...— Eu lhe digo — atalhou o comerciante, com um olho na rua e ooutro no Joquinha. Não desejo mal ao povo. Sou comerciante. O senhorconhece bem o que são estas coisas. Faço cá a minha vida, mas franquezafranquezinha a chuva que é bem para uns pode também ser mal paraoutros. Cada um se vai governando como pode. A seca pode beneficiara muita gente...Pareceu a Joquinha que algo estava errado naquele homem. Seusolhos desencontrados não viam as coisas com clareza. Ou talvez o comercianteArtur estivesse exagerando para o experimentar, para saberaté que ponto as aventuras e a ausência teriam secado a ternura no seucoração. Joquinha falou com prudência:— Não quero lembrar o bem ou o mal que estas calamidades trazem1752007 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!