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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopessobre a iniquidade da sua situação e, carecentes de um esteio, admitema adversidade, não sem irem confiando em que outrem, omnisciente egeneroso, consiga a actuação eficiente para a solução do problema dasua própria existência. Delicadíssimas teias de compensação e de transferênciasem torno da condição humana e da sua dignidade conduzemtambém à esperança estóica de que a justiça — obviamente divina —seja concedida. Deus não desprotegerá os seus — crêem. É fundamentalnão perder a fé. Confrontem-se, por exemplo, os passos seguintes, entrenumerosos casos:• «O que digo a ocê é que um homem nunca deve perder a fé porquefé de homem dá força nas coisas. Nha-mãe fala assim, e nhô Lourencinho,que é um velho que tem muito pensar debaixo do boné, diz que sóperde a fé quem não tem alma.» (CB, p. 17).• «Pensas que a terra dá alguma coisa sem fé? Pensas? Sem fé aterra dá grama, e grama é maldição, ouviste?» (CB, p. 57).Se ‘ficar’ é, pois, um dever indiscutível para com a terra e a sociedade— não infringir os ditames do ‘destino’, ainda que ele sacrifique osseus cordeiros —, ‘partir’ será negar uma cumplicidade, um compromissocom uma conjuntura que se tornara insustentável, não pactuar com oconhecido, para tentar ir criar algures uma nova harmonia, gratificantede algum modo. É por isso que nhô Joquinha, procurando aliciar o afilhadoa acompanhá-lo para Manaus, lhe diz: «[...] feliz de quem encontraum caminho longe para fugir atrás da chuva que fugiu das ilhas»(CB, p. 14). É por isso também que, discorrendo a esse propósito comZé Viola, afirma:«Temos de saber aproveitar bem os anos que nos restam, não é assim?,lutar sempre para uma melhoria. Quando um homem não estábem num lugar, muda para outro lugar melhor.» (CB, p. 18).165Chuva Braba e Os Flagelados do Vento Leste ilustram a diversidade demodalidades de desenraizamento, multiplicidade remissível, mais umavez, a uma mesma unidade literária macrocósmica e a uma mesma referencialidade,a da insularidade caboverdiana.2007 E-BOOK CEAUP

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