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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Maria Luísa Baptista• «Quem olha para trás, vê a montanha majestosa cheia de coloridoe beleza, mas desconhece os atalhos íngremes e não distingue as ravinase os abismos. Quem pode avaliar as fadigas que sofremos [...] para chegara este lugar?» (CB, p. 85).Se nos dermos ao trabalho de observar a descrição dos traços fisionómicosou de certos gestos de José da Cruz, podemos de novo confirmarque a comparação e a metáfora despontam de um mundo telúrico,numa caracterização congruente, coerente e coesa de personagens e ambientes.Na tarefa paciente da criação estética de um cosmos, o Autornão descura os meios, quaisquer que sejam, mesmo aqueles que aparentamuma relevância menor. Vejamos:• «Como esses tamarindeiros do caminho do Porto Novo que osvendavais não derrubam, assim era ele.» (FVL, p. 17).• «O bigode “manso e caído como chorão,” [...]» (FVL, p. 18).• «[...] no rosto encovado as órbitas pareciam duas cavernas escuras[...]» (FVL, p. 68).• «Seu rosto, todo iluminado, era duro como rocha.» (FVL, p. 70).• «Havia nele[s] qualquer coisa de terroso, como se fossem raízesarrancadas à terra [...]» (FVL, pp. 78-79).• «Fez uma cova funda ao lado da casa, como se fosse a plantar umaárvore, naquele mesmo lugar onde, no ano passado, quisera meter umamangueira, e enterrou o filho.» (FVL, p. 148).162Observemos, aliás, que a linguagem da terra é utilizada já não na suamera funcionalidade denotativa. Assiste-se ao fenómeno da ressemantizaçãotípica da metáfora, meio descritivo ou de valorização expressiva;mas o que particularmente interessa sublinhar é que a significativa ampliaçãodas baterias léxico-semânticas correntes se obtém a partir de umléxico telúrico, rosto primeiro, imediato, do real feito linguagem.Informando o sistema veicular da comunicação, parece-nos que otelurismo, de instância referencial (como acima dissemos, relação parentalindissociável sujeito-natureza) se instituirá então em «estruturasignificativa» (diria Goldmann) ao nível do texto —, em marca deliberadada literariedade — ao nível do discurso: caracterização do dizer e doE-book CEAUP 2007

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