19.08.2015 Views

VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Maria Luísa Baptista– o «querer bipartido»– a religiosidade.150Não é em si cada uma destas instâncias, abstractamente consideradas,que individualiza a dimensão vivencial da insularidade caboverdiana:pode falar-se delas a propósito de outras regiões e suas culturas, apartir de emergências literárias que a essas culturas digam respeito. Éóbvio, por exemplo, que «telurismo» não é neologismo motivado pelocaso caboverdiano.Acrescentaremos ainda que não é também o conjunto das instânciasrelevadas, em abstracto, que ‘define’ a referida dimensão vivencial da insularidadecaboverdiana; mas é antes a especificidade de cada uma daquelasinstâncias e também, por conseguinte, a multiplicidade das suasinter-articulações específicas.De facto, só por um esforço de análise as isolamos, incorrendo deresto no perigo de uma esquematização quiçá deformadora em excesso(porque toda a análise consagra uma violência).Trata-se de áreas temáticas com autonomia conceptual mas em íntimaarticulação, procedentes todas, no plano literário, de uma fidelidadedeliberada no tratamento estético de um mundo referencial, um precisosubstrato geo-económico e sócio-cultural. Por isso, enquanto qualquerdas vertentes referidas poderia, eventualmente, assumir por si só umaexistência estética independente, isso não ocorre na realidade de ChuvaBraba ou de Os Flagelados do Vento Leste. A terra é o eixo textual das narrativas;a temática do partir que nelas se insere não é aventura ou sonho,devassa de pasárgadas (2) , mas antes uma premência, uma razão de forçamaior e arrasta um desenraizamento, muita dor, um desvio quase comoque uma traição do sujeito a si e à terra. Estabelece-se, assim, uma relaçãodialéctica entre evasão e identificação homem-terra. Parece claroque o «querer bipartido» surja justamente no vértice do dilema partir-ficar.«Querer bipartido» é o nome poético para o aparecer de uma fissuraindesejada, a da consciência da ansiedade, a emergência da instabilidadeque rouba a paz a um viver que em si continha, submerso e insuspeito,o fermento da intranquilidade. Uma religiosidade, natural como o respirar,sem igreja, hierarquia ou ritual, fundada na crença da vinda da chu-E-book CEAUP 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!