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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Maria Luísa Baptistase fosse para nunca mais, como se tivesse morrido. Ela acenou com olenço até desaparecer atrás do último morro. Ia, quase sentindo nostalgiada sua forçada solidão. Mas levou os olhos inchados de comoçãopela ternura daquele povo. E na saudade que o povo guardou, ficou aprincípio uma esperança, e depois um veemente desejo de que a professoratriste regressasse à casinha do morro de Norte de Meio. Em muitos,à ansiedade de chuva veio juntar-se a ansiedade de regresso da “meninaMaria Alice”. E de tal modo o povo pôs o coração nela que o seu regressopassou a ser uma questão de fé. Eu tenho fé que ela há-de vir. Ocês vãover. Houve quem fizesse promessa a Santo André.» (p. 59).Estes casos de anisocronia revelam, como revelariam quaisquer outrosno discurso de FVL, que o tempo do discurso é, nesta obra, semprereduzido relativamente ao tempo da história, ou sensivelmente idêntico.Não se observam casos em que a duração discursiva ultrapasse ada história.Um outro caso de redução temporal é o da elipse: lacuna, soluçãode continuidade temporal, é por vezes posteriormente colmatada comanalepses completivas («renvois»); doutras vezes é a própria sequênciadiscursiva que informa implicitamente do conteúdo elidido. No trechoseguinte (p. 147, l. 22 – p. 148, l. 20) além da elipse a observar entre aslinhas 23 e 24 da montagem seguinte, podemos também dar-nos contada finura da associação de ideias que introduz o apelo de Zepa, e da incredulidadeobstinada de José da Cruz.146«Assim falava aquela voz interior. Lembrou-se nesse momento docompadre João Felícia, a figura daquele homem de bom sentido quandopassou a caminho dos trabalhos do Estado, daquele homem agarradoà casa como poucos, e das palavras que lhe mexeram no coração comouma facada: “A gente não sabe até onde força de menino pode chegar”.Como de propósito, Zepa assomou à porta e chegou-se perto dele.A sua voz era um sopro.— Ó Isé, vem cá — gemeu ela debilmente. — O Jó. Vem ver o Jó.Depressa, Isé, depressa.— Mas o Jó deve tar dormindo. Deixa o Jó quieto, mulher. Deixa eledormir seu sono. Eu também gostava de dormir meu sono, mas não posso;ando sem sono estes dias; ocês não me deixam. Essas paredes de ca-E-book CEAUP 2007

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