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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesJá referimos atrás, em 5.1.1., p. 76, ser possível «considerar o tempocomo instância una, visto que a acção de FVL coincide com o ciclo doflagelo, desde o seu dealbar ao seu ocaso, passando pelo vértice do clímaxtrágico».As balizas temporais de FVL inscrevem-se em Setembro, termo a quo,e possivelmente em Abril — possivelmente em Maio (49) , termo ad quem.Decorrem, assim, cerca de oito/nove meses, âmbito paradoxal da gestaçãodo aniquilamento. Já atrás (5.1.1.) referimos a marcação pendular dos meses,um a um, de Setembro a Fevereiro, durante a «Primeira parte» do romance.É que entretanto era a expectativa e a implícita esperança que iamdominando os homens, sempre crentes (apesar do agravamento sensível,paulatinamente implacável, da situação atmosférica) de que uma decisivaviragem poderia acontecer a todo o momento. Nesta «Primeira parte» é,com efeito, difícil isolar ocorrências e por isso dizíamos (5.2., p. 88): «Oque ocorre, o que avança, principalmente na «Primeira parte» de FVL, é apassagem do tempo, [...]». Deste modo, o tempo quase assume o volumede uma outra, virtual, personagem, unindo, conferindo uma significaçãoaos ‘mosaicos’ que se vão justapondo. Depois, «peripécia» e «reconhecimento»tão próximos (na boa lição da tragédia, segundo a Poética aristotélica)(50) , tão iniludíveis, são imediatamente seguidos da «catástrofe» quese instala em Novembro (ainda na «Primeira parte»). Com a catástrofe, anecessidade de sucessivas adaptações dos homens às carências crescentes.A passagem do tempo em tais circunstâncias modifica o comportamentoindividual. O que são, por exemplo, Leandro e Libânia se não aquilo a quea extrema carência os obrigou a ser? Maria Alice, a professora, comentarápara a irmã, na segunda carta que lhe dirige: «Homem na falta é diferentede homem na fartura. Não quero confundir o primeiro com o segundo,porque cheguei à conclusão de que um esquece o que o outro foi» (p. 130).Esta afirmação é já, de resto, a reiteração de uma ideia expressa na cartaanterior: «Como a fome torna os homens tão maus! E tão bonzinhos quetodos eles são quando Deus manda a chuva do céu!» (p. 121). Assim sendo,o tempo é personagem virtual e entidade modeladora dos humanos.Molda-se daí em diante um tempo colectivo quase estático (se assimse pode dizer), no sentido em que quase já não se esperam hipóteses demelhoria. Com o tempo parado, petrificam-se os humanos, isto é, inver-1352007 E-BOOK CEAUP

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