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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel Lopestenho nas costas. Tem um homem com uma faca na mão, quer matarme,e enterrar-me a faca aqui assim, tira a faca e torna a enterrá-la. Voupassar os dias deitado e é tão sabe sentir as tuas mãos a curar-me estamaldita ferida que não me deixa virar o corpo para nenhum lado. Meusbichos têm fome, todos nós temos fome. Mas agora tem comida paratodo o mundo. Foi uma pedra bem grande que aquele malvado me atirouàs costas. E outra aqui atrás da orelha que me dói bastante mas aferida da espinha é que me mete medo. O enfermeiro disse: se fizeresum grande esforço tás lixado. Tou lixado, Libânia. Mas não foi nenhummalvado. Foi uma pedra de bico. Caí de rocha e bati com as costas naquelamaldita pedra de bico. Acende o fogareiro, Libânia. Ui, que friezatá cá dentro. Se não vens não levanto o corpo mais daqui...».Discorrendo, agora em termos genéricos, sobre alguns meios dereferenciar o espaço, observamos, em primeira linha, a utilização explícitade topónimos (Terranegra, Lombinho, Covoada, Campo Grande,Bordeira, Topo de Coroa, ... , muitos deles indiciando a morfologia e/ou afertilidade do terreno) e a caracterização dos ambientes interiores ou não(a escola-casa de Maria Alice, o serão no terreiro de nhô Manuelinho),nas suas facetas física e social (nalguns casos também psicológica). Masoutros procedimentos discursivos convergem acessória e indirectamentepara a coerência dos quadros. Assim, as ocupações das personagens, ovestuário de cada um, os seus interesses e aspirações e, basilarmente, aprópria linguagem são, eventualmente entre outros, meios que ManuelLopes não descura ao serviço de uma descrição verosímil dos ambientes.Lembremos, por exemplo, os rurais e os outros (Miguel Alves, MariaAlice, os figurantes de Porto Novo) — sem laivos de qualquer perspectivadicotómica de análise; lembremos, por exemplo, dois apontamentosde representação da referencialidade aldeã: «Morava a uma pedrada defunda» (p. 16); «gordas terras do Lombinho» (p. 16). Onde, neste últimocaso, a redundância: no adjectivo ou no topónimo?A adequação do discurso pode mesmo permitir a demarcação doespaço social: observemos que o guia de Miguel Alves, Nhinhô, o tratacomo «o Senhor Miguel Alves», mas refere-se ao patrão como «nhô JaimeÁlvaro». Efectivamente, Miguel Alves não é do meio, é um estranho;e o tratamento, que não visa distinguir hierarquias (inexistentes), adap-1332007 E-BOOK CEAUP

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