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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Maria Luísa Baptista130directa. Mas o facto de o receptor do discurso epistolar ser uma entidadedistinta da do seu emissor, faz daqueles textos exemplares de umdiscurso directo híbrido mas mais próximo do diálogo (a resposta é diferida)do que do monólogo; de resto, é mais a factualidade do relato etalvez menos o intimismo (não a subjectividade) do discurso, a tónicadaquelas cartas.De um modo ou doutro, o que está em causa é o «espaço psicológico»do romance e não tanto o processo discursivo do monólogo tradicionalou interior (a que Genette prefere chamar «discurso imediato») (46) e seusparentes menos próximos.Retomando situações como uma das mencionadas acima, a meditaçãode José da Cruz no funco por exemplo (pp. 37-38), verificamosque, na sua funcionalidade, ela o compensa do investimento aleatório(e confiante) que tinha constituído a responsabilidade familiar e socialda «sementeira em pó», o ajuda a aguentar com optimismo os prejuízoscausados pela intensidade da precipitação, lhe proporciona um reforçoda esperança. A meditação faz, assim, convergir elementos dispersos deum perfil, mas elementos fundamentais, porque sumativamente reiteramuma caracterização individual e ampliam a informação sobre umaatmosfera que fora de ansiedade e era agora de confiança.Já o ‘mergulho’ analéptico de Zepa, perfeitamente enquadrado naatmosfera do serão, remete para tempos de juventude, de uma felicidadedespreocupada e incauta. Amplia o âmbito temporal da diegese. Amúsica, a dança, o luar desbloqueiam a divagação afectiva e fornecemo trampolim da associação para a evocação daquelas épocas distantes. Adigressão da memória não é, porém, optimistamente selectiva, visto quenela emerge também a problemática da condição da mulher, à disposiçãodiscricionária do filho do patrão. Trata-se, porém, apenas, de umapontamento documental, em tom magoado, não de um protesto.Discursivamente, estamos perante um monólogo tradicional, quenão abdica de uma «estrutura articulada» (47) nem da intervenção donarrador que se refere à personagem na terceira pessoa. Um caso decompromisso, pelo uso da primeira pessoa do plural, não anula entretantoaquela classificação. Vejamos: «Quando temos filhos, é o dia deamanhã que conta, e chão que os meninos hão-de pisar depois. Mas aE-book CEAUP 2007

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