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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Maria Luísa Baptista• «A tarde caía. Diante dele [José da Cruz], no extremo da linha domar, o Sol parecia uma enorme laranja tombada de podre, mergulhandonum charco.» (p. 146).Em suma, no que respeita ao espaço físico, verifica-se que, ao longoda obra, ele sublinha a desagregação progressiva e irreversível da comunidaderural de Terranegra. Do espaço convivencial e fértil que nos foidado conhecer no início de FVL, nada vai restar mais do que destroçosraros. Da montanha cresceu a rapinagem aparentemente impune dosdeserdados, na hora em que «no meio desta carestia só a desgraça eranossa.» (p. 165). O êxodo da população arranca-a do rincão natal, naprocura do pão mirífico da estrada («Na terra de Canaan...» p. 145). E aestrada será, pela debilidade a que os homens chegaram e pelo desenraizamento,uma forma adiada de morte.A pluralidade discreta de localizações produz, pois, um embricamentofuncional, necessário e significativo, no que respeita ao desenrolarda acção e às relações entre personagens («agentes»/«pacientes» e«pacientes» entre si). E, a despeito da pluralidade considerada ou até: àcusta dessa pluralidade, constrói-se a unidade plurifacetada do espaçofísico de FVL. Quanto à leitura trágica que o espaço viabiliza em FVL,remetemos o leitor para 5.1.1., p. 76 e segs.4.2. Do espaço social126A recriação de atmosferas sociais informa geralmente das relaçõesde solidariedade no mundo rural. São disso exemplo os casos seguintes:José da Cruz e seus pares na hora da perplexidade perante a incertezada evolução do tempo meteorológico, na hora da «sementeira em pó»,na do restauro do melador. Mas não só o trabalho se partilha: o serãono terreiro de nhô Manuelinho documenta a comunhão da alegria eda esperança. Toca-se, canta-se e dança-se num geral louvor à chuva,condição primordial da vida da Ilha. É uma manifestação peculiar deuma religiosidade essencial (43) . E, embora o êxodo das populações tragaum comum denominador ambiencial de pessimismo, parece-nos que aE-book CEAUP 2007

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