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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Vertentes da insularidade na novelística de Manuel LopesNa ausência das chuvas, porém:• «A canícula passeava os campos pelados. Aragem preguiçosadescia, de raro a raro, em curtos vagabundeios, dos cimos da serrania,redemoinhava à roda das casas e dos arbustos esguedelhados, roçavaa poeira vermelha do chão puído que flutuava aquecida pelos raios doSol, impregnando a atmosfera de um odor a colorau ardido.» (p. 13).• «Sob o céu ensanguentado, a lestada devorava a superfície verdedos campos... dança de roda, aqui e ali.» (p. 94).E o mar? Ele é, em FVL, uma presença longínqua, quase ausente, aindaque por vezes bela, ainda que por vezes ‘cínica’. O mar é, por exemplo,o que, por ironia trágica, eventualmente recebe a precipitação dasnuvens, de que a terra tanto necessitaria, o que, depois, se alimenta dohúmus erodido das chuvadas; e a ilha fica mais descarnada.• «[...]as enxurradas abrem fendas, arrastam a terra vermelha nasvertentes, as ribeiras derramam no oceano o sangue rico da terra. Dosdesmoronamentos só ossos ficam nos caminhos; o resto é devorado pelomar, que envolve as ilhas de larga faixa cor de barro, como sinal derradeirode uma carnificina sangrenta. O lento naufrágio da carne viva dasIlhas é o preço da generosidade do Céu...» (p. 27).• «Sobre o mar choveu copiosamente, por vezes. Os rabos de águaeram bem visíveis e causavam ansiedade e comoção em quem os contemplava.Cortinas de chuva, prateadas, aproximavam-se do litoral eantes de tocarem a terra desvaneciam-se ou faziam meia volta, desenhandoarabescos pálidos no mar.» (p. 119).Relembremos que FVL é o romance da terra e, assim, a vertente litoral/marítimado viver caboverdiano parece, aqui, praticamente ignorada.Respigamos, todavia, entre outros, os passos seguintes:125• «[...] Simplesmente [Miguel Alves] olhava o panorama que seavistava para lá da porta, até o mar, e achava bonito. A vista estendia-sepor léguas e léguas sobre campos de verdura ondulante. Sim, senhores,muito bonito. [...] A vista era realmente soberba. Em face dessa constataçãoirrefutável, [...]» (p. 78).2007 E-BOOK CEAUP

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