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VERTENTES DA INSULARIDADE NA NOVELÍSTICA DE MANUEL LOPES

Vertentes da Insularidade na Novelística de Manuel Lopes

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Maria Luísa Baptistaquando a árvore tombou e o tronco se desfez na escuridão, José da Cruzcaiu desamparado...» (p. 232).106É, assim, a falta de apoio telúrico que o vitima. José da Cruz morrede desenraizamento.Leandro, filho mais velho de José da Cruz, é talvez a personagemmais cuidadosamente elaborada. Toda a sua trajectória é ponderadacom minúcia, mesmo nas referências fornecidas por forma analéptica,que remetem para um tempo anterior ao da diegese. Não há traços redundantesgratuitos.Do mesmo modo que José da Cruz é o demiurgo da chuva, o antagonistada lestada, Leandro é ‘hoje’ a presença demiúrgica do mal. Comraízes no arquétipo romântico do super-homem («Um monstro saído dosromances de Vítor Hugo» — p. 244), ele é uma espécie de cavaleiro negro,misterioso, temível, insubmisso, capaz de enormidades, de figurahorrenda, marcada por um fatum implacável, portador de um segredo e,singularmente, um indivíduo inocente, sensível, capaz de comoção, comum peculiar sentido do bem, protector de indefesos, um incompreendido,um marginal(izado)). A maldição paterna há-de configurar nele olimite da rejeição social, a ruína afectiva absoluta.Sacerdote da lestada, o cenário em que se move coincide também jácom ele próprio. De resto, a sintonia caracterizadora habitat-homem quereferimos em José da Cruz repete-se aqui, num quadro de sinal diverso,quase contrário e todavia complementar, como teremos a seu tempooportunidade de analisar.Pastor, Leandro é o homem da solidão e do silêncio, das altitudesda montanha inóspita, próxima dos absolutos, caos primordial, agruraà margem das civilizações. Força natural autêntica, «sentia-se feliz entreas montanhas e as nuvens, entre as carquejas rasteiras e as aves solitáriasdo céu» (p. 113). Entretanto «poucos homens se fizeram seus amigos.Notavam, logo à primeira vista, que ele era arisco, rancoroso, desconfiado.Raros mereceram a sua confiança; [...]» (p. 115). É que, quando narravaa «história patética» (p. 115) da cicatriz no rosto, «o dó e o horrordos outros revoltavam-no. Virava as costas e esgueirava-se com desprezo,e no fundo, desesperado» (p. 116).E-book CEAUP 2007

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