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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes4.2.4. Valor etnográfico dos contos92Segundo os próprios rongas, a origem dos contos encontra-se nas “velhashistórias que aprendemos com os nossos pais. Ninguém pensaria hoje eminventar um conto!”. Na realidade, os contos bantos são muito antigos enotou-se, em estudos comparativos que se fizeram sobre contos recolhidos emdiferentes regiões de África meridional, que há entre eles grande semelhança.O folclore banto possui verdadeira unidade, sejam quais forem as diferençasque se lhe encontrem, segundo as várias tribos. Podemos mesmo generalizare afirmar que esta unidade se encontra nos contos populares de toda ahumanidade. Certas histórias parecem encontrar-se dum extremo ao outrodo planeta. René Basset mostrou na notícia que publicou do livro de HenriJunod, Les chants et les contes des baronga, na Revue des traditions populaires,em 1898, que certos episódios escritos a ditado dum narrador ronga, emLourenço Marques, se encontram no folclore dos antigos gregos e dos romanos,dos germanos modernos, dos franceses, dos gregos, dos italianos, doslituanos, dos siberianos, dos quirguizes, dos indianos, no Brasil, em Portugal,no Punjabe, na Escócia, na Roménia, Guatemala, Guiana inglesa, Marrocos,etc. Podemos sugerir três possíveis explicações para este fenómeno: estashistórias vêm de uma humanidade primitiva e todas as raças as conservam,através das suas migrações. Houve, num passado mais ou menos remoto,contacto directo entre as diversas raças humanas, graças ao qual os contosforam transmitidos de uma tribo a outra e assim se espalharam, no decursodas idades, pela terra. Há tal semelhança na mentalidade das diversas raças,durante a fase primitiva do seu desenvolvimento, que todas elas inventaramao mesmo tempo as mesmas histórias, independentemente umas das outras.Daí a unidade do folclore que por toda a parte se encontra.A antiguidade dos contos bantos não se põe em causa, porém, ela érelativizada, pois os contos são incessantemente alterados e transformadospelos narradores e, muitas vezes, as alterações vão mais longe do que ospróprios indígenas têm consciência. Cada narrador tem o seu estilo, o seuvocabulário, fala livremente, sem que se sinta de qualquer modo ligado àsexpressões empregadas pela pessoa que lhe ensinou o conto. As palavrasdos cantos que acompanham a narrativa são, provavelmente, o elementomais estável e mais antigo dos contos. São, muitas vezes, metade em zulo,E-BOOK CEAUP 2009

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