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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes90onde a vida é bastante mais complexa do que na aldeia africana, daí resultaramas modificações: o chefe da tribo transforma-se em governador dodistrito e os seus conselheiros em membros do município ou do tribunal,as palhotas são substituídas por grandes casas à europeia, cães e cavalosassumem papel preponderante, os negros usam nomes portugueses maisou menos deturpados, segundo Junod: Djiwaô (João), Bonauási (Bonifácioprovavelmente), Tonyi (António), a ogra torna-se uma mulherbranca com muitas cabeças; aparecem papagaios de papel, agulhas elinha, carpinteiros e pedreiros. Em suma, a acção já não se desenrola nopalco simples da vida tradicional, mas num porto de mar semicivilizadoonde africanos e europeus viviam em estreito contacto – como deve tersido o caso de Lourenço Marques, antes da cidade ter sido atingida peloseu actual desenvolvimento comercial. Referimo-nos, evidentemente, aotempo histórico em que viveu Junod. A maior parte dos protagonistas écem por cento ronga e fazem-se referências ocasionais aos pequenos reinosnegros vizinhos da cidade portuguesa. Segundo o autor da recolha, nestescontos os negros, em geral, ultrapassam os brancos em inteligência, entãoacredita que a inspiração que os ditou é mais nativa do que europeia. Estascaracterísticas verificam-se nas histórias de Djiwaô e Bonauási, obtidas porduas vias diferentes. O conto “Likanga” é uma amostra do folclore dos macuasde Moçambique: tem um carácter absolutamente banto, mas nada deronga em especial. Os dois últimos contos desta colecção, um muçulmanoe outro português, são verdadeiros contos estrangeiros, introduzidos comtodos os seus elementos no folclore ronga. Sob o ponto de vista de Junod,estas histórias são preciosas por ilustrarem o impacto que raças alienígenasproduziram em África. Demonstram a grande facilidade de assimilaçãodo povo negro e testemunham a flexibilidade do seu espírito.Sob esta aparente diversidade descobre-se facilmente a presença deuma ideia essencial na base de todo o folclore ronga e talvez africano. Éa do triunfo da sabedoria sobre a força, como já foi referido. Para ilustraresta tese os contistas põem em cena animais dos mais pequenos, dos maisfracos, como heróis das suas fábulas. Por exemplo, a lebre é o animal esperto,manhoso, espírito fértil em expedientes, o sapo da areia, calculistae ponderado e o camaleão, prudentemente cauteloso. A mesma ideiaaparece na sabedoria dos pequenos: aqueles que julgaríamos incapazes,E-BOOK CEAUP 2009

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