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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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A Milenar Arte Da Oratura Angolana e MoçambicanaAspectos Estruturais e Receptividade dos Alunos Portugueses ao Conto AfricanoDe um modo geral, os papões não aparecem muito diferentes dosoutros seres humanos. Vivem, homens e mulheres, velhos e crianças, nassuas próprias aldeias, à maneira usual, estando, porém, sempre à espreitade carne humana que apreciam em extremo. Os folcloristas africanosvêem neles canibais puros e simples. Se bem que as tribos da África Australnunca tenham praticado a antropofagia em larga escala, tem havidoindivíduos e até clãs inteiros que a ela se entregam em tempos de fome eno seguimento de guerras que devastaram essas regiões. Durante o séculoXIX produziram-se casos semelhantes entre os basutos, os zulos e nasmontanhas do Transvaal. É bem provável que a notícia desses festins decarne humana tenha impressionado fortemente a imaginação dos nativos,pouco inclinados ao canibalismo, e que o horror que sentiram expliqueaté certo ponto o frequente aparecimento de comedores de homens nosseus contos. No entanto, identificar os papões dos contistas negros com ossimples canibais seria rebaixar e falsear a noção que têm dessas terríveiscriaturas que engolem pessoas e animais inteiros, totalmente crus, detal modo que basta abri-los ao meio para pôr em liberdade aqueles queengoliram. Não é suficiente uma capacidade estomacal superior à médiae apetites exagerados para consumar estes altos feitos. O mais selvagemdos canibais nunca tal conseguiu. É necessário ser-se uma aberração.Para a intuição dos rongas os Chitukulumukumba e outros indivíduosdeste jaez são aberrações. Alguns revestem a forma de seres humanosvulgares. 25 São também frequentemente representados como sendo apenassemi-humanos: “Têm, como disse Sofia [uma informadora] ao contara história de Namachukê (conto XV), só uma orelha, um braço, umaanca, uma perna. Para andar deixam-se cair para a frente e levantam-semais adiante”. Ou então saltam com a sua única perna. De início, HenriJunod imaginou que esta curiosa concepção fosse própria do folcloremoçambicano donde o conto de Namachukê parece provir. Mas depoisverificou que esta especificidade também se encontra entre os zulos,que chamam a essas metades ambulantes Amadlhungundlhebe e entreos basutos que atribuem a certos ma-tebelê essa estranha conformaçãofísica. Em ronga, os comedores de homens são por vezes designados por8725Nas histórias de Mutipi (conto X) e Dukuli os animais estão temporariamente metamorfoseadosem homens.2009 E-BOOK CEAUP

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