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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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A Milenar Arte Da Oratura Angolana e MoçambicanaAspectos Estruturais e Receptividade dos Alunos Portugueses ao Conto AfricanoAlguns costumes estão associados à narração de contos: é tabu fazê-lodurante o dia, trata-se de um entretenimento da noite. Acredita-se que oque transgredir esta regra fica calvo. Outro costume curioso é quando onarrador chega ao fim da sua história, concluindo pelas palavras seguintes:Tphu-tphu… famba ka Gwambe na Dzavana! – Vai-te para casa de Gwambee Dzavana. Nos clãs do norte, estas duas personagens são consideradascomo tendo sido o primeiro homem e a primeira mulher. O fim destaespécie de encantamento é impedir a maravilhosa história de obsidiar,ou seja, envolver os seus auditores, durante a noite, e de lhes perturbaro sono com sonhos desagradáveis. Todos estes pormenores mostram aimportância dos contos na vida indígena e a sua popularidade na tribo.Henri Junod descreve o ambiente que se vivia aquando da narraçãodos contos: “à noite e na palhota, em volta do fogo, (...) os habitantes daaldeia reúnem-se. (...) É ali que velhos e novos, (...), se põem a contarhistórias. Começam frequentemente por apresentar uns aos outros enigmasmuitas vezes bem subtis; mas terminam invariavelmente com o contopropriamente dito, a história maravilhosa que ora faz rir ora tremer dereceio”. O africano sente um prazer único em evocar cenas humorísticasou terríveis das tradições dos velhos tempos: “é esse o prazer literário dospovos sem escrita, o seu retrato e o seu livro, e os rongas são extremamentesensíveis a esse divertimento intelectual que amam apaixonadamente”. Éincontestável o valor pedagógico, moral e social destes serões literários.Estas sessões são para as crianças uma espécie de escola onde formam amemória e se habituam a falar em público. Talvez seja esta a explicaçãopara que as raças 23 da África meridional tenham uma extrema facilidadeem se exprimirem em público, num tribunal, nas discussões políticas eaté no púlpito cristão (de acordo com o etnólogo). “É a religião deles!dizia-me um dia Lois, uma das nossas neófitas mais inteligentes, ela próprianarradora de talento. Todas as noites, eles ‘alegram os ouvidos’ com8323Termo usado por Junod e Chatelain. O conceito de “raça” é controverso e questionámo-nos sobrea pertinência da sua utilização. Acabámos por manter o termo, primeiro, porque é usado pelos dois investigadores(sem o especificarem), segundo, dado que a sua substituição implicaria a escolha de outrotermo (cultura, espécie, género, etnia…) que não sabemos se designaria o que é aqui pretendido pelosautores. Etimologicamente, o conceito de raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio,que significa sorte, categoria, espécie. Na história das ciências naturais, o conceito de raça foi primeiramenteusado na Zoologia e na Botânica para classificar as espécies animais e vegetais. Como a maioria dosconceitos, o de raça tem o seu campo semântico e uma dimensão temporal e espacial.2009 E-BOOK CEAUP

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