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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes80conto (texto), para além dos aspectos relacionados com a performance.A repetição do acto de contar implica uma perda do arquétipo oral, desembocandonuma mediatização através da linguagem e do contar, queresulta na memorização do conto. A repetição do conto tem a intenção demanter a estrutura inicial intacta, mudando apenas aspectos secundários.A censura comunitária controla este processo, não permitindo alteraçõesde relevo. “O contar é determinado pelo conto, que se encontra numasituação trans-contextual, para além do processo transmissivo. É por essefacto da sua transcendência que o conto permanece na sua forma constante:ordem sequencial, diálogos, personagens” (Júdice, 2005: 40). Oselementos que permanecem constantes no conto são a sua lição e é nestaque reside o fundo narrativo de cada variação que aparece com o novoacto do contar. O contador torna-se um intérprete/transmissor de umalição inalterável, que apenas se transforma dentro dos limites autorizados.Assim, a repetição do conto permite o “reconhecimento” da sua estruturae da sua lição. A repetição implica o estatuto da memória como categoriado conto, que possibilita ao contador manter a linha sequencial da acção,não alterar a lógica ou o desfecho, permitindo não redundar no absurdonarrativo. Desta situação destacam-se três aspectos: “1. há um efeito dereal determinado pela repetição do conto; 2. esse efeito de real decorre doreconhecimento da estrutura e da lógica do conto; 3. o conto inscreve-senuma memória que obriga o processo transmissivo à sua conservação”(Júdice, 2005: 41).Gerald Prince usa a expressão «a grammar of stories» (uma gramáticados contos) para designar a especificidade das determinantes doconto. Esta designação vai além da característica morfológica referidapor Vladimir Propp, essencialmente substantiva. O conto tem um códigopróprio, como sucede com a língua, cujas regras devem ser apreendidaspelos falantes. Esta aprendizagem pode ser feita por qualquer pessoa,pois o conto na sua estrutura não encerra qualquer subjectividade, a suaestrutura está mais próxima do real do que do imaginário.Na realidade africana, o papel do contador não é atribuído a qualquerpessoa. O contador, griot, é detentor da arte de contar, uma práticaritualística, um acto de iniciação ao universo da africanidade. O modo doafricano conceber o mundo está ligado – como refere Honorat Aguessy, emE-BOOK CEAUP 2009

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