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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes78lhosas. O texto dito/ouvido levanta problemas não equacionados no textoque visa apenas a leitura. A presença do receptor, singular ou colectivo,na emissão do conto, condiciona a formulação da mensagem em funçãodessa transmissão oral. Assim, o griot suprime tudo o que é acessório, compredomínio do objectivo e da acção. Ao nível morfológico, o ornamentoartístico, o adjectivo e o advérbio são secundários, enquanto o substantivoe o verbo adquirem relevo na narrativa.O texto literário e o conto aduzem um aspecto comum: apresentamum modelo comunicacional bifurcado, em que há dois tipos de recepção.Isto vai de encontro à característica plurissémica do signo literário: háum sentido primeiro, literal, decorrente da compreensão imediata dotexto, e um sentido figurado, dedutível do primeiro, através de um jogosemântico que o leitor/receptor terá de fazer para atingir esse nível. Istovai ao encontro da cultura popular, da característica carnavalesca, habituadaao jogo das máscaras que significam um personagem outro pordetrás do que se apresenta. Cabe então ao receptor fazer o corte entre,primeiro, o real e a ficção, e segundo, entre o plano objectivo dos factosnarrados e subjectivo da sua significação simbólica ou metafórica. “Essadiferença decorre, em substância, da oposição entre um mundo real e ummundo ideal, em que ambos apresentam coincidências e oposições, quedeverão ser vividas simbolicamente, ritualmente, no instante em que seconta e em que se instala uma simultaneidade entre os dois momentos,real e ficcional, segundo o modelo proposto por Genette de que a frase emforma de asserção «Era uma vez uma menina que vivia com a mãe à beirade uma floresta» significaria na realidade (…) ‘Queira imaginar comigoque era uma vez uma menina, etc.’ 22 (Júdice, 2005: 38).A variabilidade do conto popular pode explicar-se dada esta adaptação,ajustamento, entre o mundo e a linguagem do conto ao mundo real. Estavariação não se concretiza em termos estruturais, já que no plano dosconteúdos as transformações consistem na permutação de um elementopor outro equivalente, os traços essenciais permanecem constantes. Esteaspecto deriva do modo de transmissão do conto popular: a oralidade.Dois aspectos caracterizam a oralidade: uma “temporalidade”, em que sedistingue dois momentos – o momento prévio ao contar, em que os dois22Gérard Genette, Forme et diction, Paris, Seuil, 1991, pp. 49-50.E-BOOK CEAUP 2009

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