19.08.2015 Views

A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Susana Dolores Machado Nunes72Thomas Mann (1909) entende o conto como um verdadeiro géneroliterário (de origem francesa, e a referência é aos célebres Contes de fées,de Perrault) destinado às crianças, recolhido em alguns livros e que temessencialmente uma função pedagógica. Deste ponto de vista, a principalcaracterística do conto seria pôr em cena um mundo fantástico, povoadode seres fadados e dotado da possibilidade de contrapor à realidade quotidianauma outra realidade menos contaminada.Arthur Rimbaud (Une saison en enfer, 1873) insere o conto numacolecção de materiais dos menos «cultos» e «ilustres possíveis». EscreveRimbaud: Agradavam-me as pinturas idiotas, altos das portas, cenários,telas e saltimbancos, insígnias, iluminuras populares; literatura fora demoda, latim de igreja, livros eróticos sem ortografia, romances das bisavós,contos de fadas, livrinhos para crianças, velhas óperas, cantilenas simplórias,rimas ingénuas.Estas duas modalidades de encarar o conto popular põem em evidênciauma segunda oposição – entre cultura popular e cultura oficial, com basenum esquema que remonta aos românticos e no qual se insere a polémicaideológica e histórica entre o novo mundo surgido do iluminismo e o velhomundo da sociedade feudal. No caso do conto, os classicistas tenderão aver nele um produto que remonta a uma suposta elaboração intelectualda chamada cultura popular, mas cuja gestão, destinada a uma correctatransmissão do saber, será sempre confiada à literatura. Os românticospelo contrário, como acontece com Rimbaud, tenderão a privilegiar oconteúdo mais autenticamente popular considerando-o depositário devalores colectivos e, portanto, mais genuínos.O problema que se pôs ao longo dos tempos é a correcta definição doconto. Ela gira sobretudo em volta de duas teses: por um lado, afirma-seque no conto está contido um sentido alegórico, ou pelo menos simbólico,na medida em que a narrativa seria um vestígio cultural dos antigos mitoscuja memória se perdeu, posição imputável a Bacon (1609). Por outro lado,pensa-se que os contos são relatos verdadeiros, que assumiram entre ospovos primitivos uma função social específica e historicamente verificável,posição que remonta a Vico (1744).Segundo Bogatyrev e Jakobson (1929), a definição do conto residena própria natureza do produto folclórico. Este apresenta-se “do pontoE-BOOK CEAUP 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!