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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes58figuras, dependendo dos contextos. É importante analisar essas escolhas eo porquê de determinada opção. O estudo morfológico mostra-se, assim,insuficiente, é necessário ser complementado com o conhecimento etnográficoda comunidade que produz essas narrativas. O estudioso destasnarrativas não pode ficar indiferente a uma escolha contextual entre umbúfalo, um elefante e um hipopótamo para uma determinada função queexija uma personagem do mundo antropomórfico, com característicascomuns a esses três animais, a corpulência e a força, como também iráprocurar o valor simbólico e etnográfico que os distingue fora do contextoda narrativa, para tentar explicar o porquê da preferência deles. Outraquestão não contemplada é o valor simbólico das personagens possíveispara um mesmo motivo temático em duas variantes de uma mesma narrativaactualizada em duas realidades culturais diferentes.Segundo Lourenço do Rosário, seria impensável, por exemplo, encontrarno Vale do Zambeze, como narrativa local, contos como aqueles queHenry Junod, etnólogo suíço que viveu no sul de Moçambique em finsdo século XIX, recolheu, onde o coelho é enganado pela andorinha e pelagalinha. No norte de Moçambique, o coelho é o herói mais frequente nasnarrativas, representando a astúcia, a agilidade e a inteligência. Em outraspartes do mundo, podemos verificar que os povos fazem de outros animaisigualmente pequenos os seus heróis: na África Ocidental, é a aranha, noBrasil, é a tartaruga (o jabuti), em Portugal é geralmente a raposa. Osestudos formalistas não contemplariam estas dualidades simbólicas.Os estudos de V. Propp são fundamentais para a abordagem morfológicadas narrativas de tradição oral, no entanto devem ser encarados nãocomo um fim em si mesmo, mas sim como um meio para melhor compreenderos passos do espírito humano no acto de criar. Propp e Lévi-Straussparecem, todavia, concordar, embora com diferentes perspectivas, pelomenos numa questão de fundo: que o específico do conto é constituídopela narrativa nela incluída. “A substância do mito (e portanto da fábula)não reside no estilo, nem no modo de narração, nem na sintaxe, mas nahistória que nele se narra. O mito (como o conto) é linguagem; mas nalinguagem que age a um nível elevadíssimo, e onde o sentido consegue,por assim dizer, decolar do fundamento linguístico de que partiu” (Lévi-Strauss, 1958: 235-36).E-BOOK CEAUP 2009

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