19.08.2015 Views

A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Susana Dolores Machado Nunesproblemas apresentados comprovam que este reflecte sobre o que ouve.Contudo, ao mesmo tempo, todos os elementos da comunidade percebemos conflitos veiculados pelas narrativas.Percebe-se, ainda, nestes textos uma grande riqueza em termos de diversidade,cor, pintura dos factos e ambientes, permitindo-nos entrar no imagináriodas comunidades. As sociedades tradicionais africanas apresentam-sea favor da oralidade enquanto veículo de transmissão de conhecimentos ede uma comunicação social total. Em África, nada substitui a potência da palavra.A escrita, “é considerada um factor externo à pessoa, e por esta razão,impacta negativamente os processos de comunicação” (Leite, 1992: 87). Obinómio força vital 11 /palavra é, na África Negra, “o elemento primordialda personalidade da sociedade, desdobrando-se desde as instâncias maisabstractas até as práticas sociais” (Leite, 1992: 87/88).As narrativas são criadas pelo homem com determinados fins implícitos:divertir, moralização dos costumes, instrumentalização cultural epolítica, reiteração ritual; estas narrativas fazem parte de uma “memóriacolectiva”, em que coexistem duas imagens: uma diz respeito ao reconhecimentoe à conservação dos textos como património da comunidade, ooutro à sua acção modelizante nas consciências. Os contos obedecem a umaestrutura narrativa pré-definida, a considerada uniformidade estruturale monotonia orgânica. A estrutura destas narrativas obedece à estruturaarquetipal do conto popular, apresentando, no entanto, variantes enriquecedorastanto a nível temático como a nível organizacional.3.1. ORIGEM <strong>DA</strong>S NARRATIVAS DE TRADIÇÃO ORAL48A natureza intrínseca das histórias foi descrita em A palpable God(1978) por Reynolds Price, quando ele escreve: “Uma necessidade de11Força Vital, conceito difuso em toda a cosmologia e ontologia negro-africana. Como registra PlacideTempels (1949), o africano tradicional observa o universo como uma hierarquia de forças vitais,ocupando o homem o papel de elo de ligação entre as forças que habitam os seres animados e inanimadosdo universo tangível de baixo, com os poderosos poderes espirituais do alto. Placide Tempels é taxativoquanto à centralidade deste conceito no pensamento tradicional africano. O africano, no exercício desuas actividades, persegue incansavelmente o objectivo de “adquirir vida, força ou força vital para viverfortemente, para fortalecer a vida ou para garantir que a força perdure para sempre na posteridade de umindivíduo” (Tempels, 1949: 1).E-BOOK CEAUP 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!