19.08.2015 Views

A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Susana Dolores Machado Nunes44um vasto manancial do saber autóctone se preserva: “A arte de contar éuma prática ritualística, um acto de iniciação ao universo da africanidade”(Padilha, 1995: 15). O griot submete-se a uma censura preventiva dacomunidade a favor das leis da tradição, o que confirma a tese segundoa qual a obra folclórica se insere no âmbito da criação colectiva. O queconta não é o acto da criação (parole, o individual), mas a socialização dacriação (quando se insere na langue, no social).A questão linguística, um problema crucial num continente comuma vastidão de línguas africanas, é uma preocupação directamenterelacionada com as tradições orais. Por razões históricas, em cada paísafricano coexistem pelo menos uma língua europeia, que funciona namaioria dos casos como língua oficial, e um número variável de línguasafricanas. Angola e Moçambique são países que se caracterizam por umsistema de multilinguismo, em que a língua oficial é o português. Estatem contribuído, na maioria dos casos, para a realização de uma coesãonacional nestes países pluriétnicos. “No que respeita à literatura, elatem-se desenvolvido, enquadrada dentro desta diversidade linguística.É ainda um princípio nostálgico, idealista e essencialista, pensar em termosestáticos na recuperação de uma mundividência pré-colonial, nãolevando em linha de conta as transformações sofridas nestas sociedadescom o colonialismo, as independências e a modernização” (Leite, 1998:23). Nos contos populares estudados, as transformações sofridas nas sociedadesangolana e moçambicana, fruto da colonização, são visíveis emdeterminados aspectos. Por exemplo, em termos lexicais, com a inclusãode vocabulário “estranho” e não compatível com a realidade africana. Noentanto, estas narrativas têm uma identidade inerente às culturas étnicasde base, como desenvolveremos na análise comparativa. “É praticamenteinsustentável qualquer generalização que conduza a elaborações teóricasque não levem em linha de conta as especificidades regionais e nacionaisafricanas” (Leite, 1998: 27). Ana Mafalda Leite, relativamente a este aspecto,apresenta a opinião de Isidore Okpewho 10 , ensaísta nigeriano comtrabalhos basilares publicados sobre oralidade e literatura, “While there arenumerous elements of the oral tradition available for use by our modern10Isidore Okpewho, The epic in Africa – towards a poetics of oral performance, New York, ColumbiaUniversity Press, 1979; Myth in Africa, Cambridge, Cambridge University Press, 1983.E-BOOK CEAUP 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!