19.08.2015 Views

A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A Milenar Arte Da Oratura Angolana e MoçambicanaAspectos Estruturais e Receptividade dos Alunos Portugueses ao Conto Africanociaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo)e Marcel Mauss. Os estudos orientaram-se para uma visão que procura napesquisa antropológica a inspiração para um novo humanismo.“Derrida critica a obra de Lévi-Strauss em De La Grammatologie. Segundoo autor, os povos não europeus são estudados “comme l´index d´unebonne nature enfouie, d´un sol recouvert, d´un degrée zéro par rapportauquel on pourrait dessiner la structure, le devenir et surtout la dégradationde notre société et de notre culture” (1967: 168). Derrida faz o percurso da« logocentricidade» na história europeia desde o desencanto de Rousseaucom a civilização moderna, passando por Husserl, Saussure, culminandona análise da obra de Lévi-Strauss, mostrando essa procura de ajustamentoda voz com a ideia de natureza, pureza e bondade” (Leite, 1998: 20).No que concerne ao campo da teoria literária, encontramos posiçõespreconceituosas de encarar a literatura oral, considerada um géneromenor. Na obra Introduction à la poésie orale (1983), de Paul Zumthor, estapostura é assumida. Ana Mafalda Leite comenta esta visão neo-romântica,referindo que o autor mistifica e mitologiza a oralidade, nomeadamente nasua bipolaridade com a escrita, e no confronto Europa-África. Mencionaainda um outro preconceito, o de que as tradições orais são acessíveis atodos, são universalmente mais igualitárias, pelo acesso à voz, ao passo quea escrita e a tecnologia a ela associada requerem uma preparação especiale, naturalmente, são mais selectivas. Este pressuposto não toma em linhade conta, por exemplo o secretismo e o elitismo envolvidos na aprendizageme recitação de certos géneros da oratura em que o bardo ou griot é umespecialista, escolhido ou por linhagem, ou por profissão, e só ele detém oconhecimento dos textos mais longos, como a epopeia, as genealogias oua crónica histórica: “Na festa do prazer colectivo da narração oral, entreos grupos iletrados africanos, é pela voz do contador, griot, que se põe acarga simbólica da cultura autóctone, permitindo-se a sua manutençãoe contribuindo-se para que esta mesma cultura possa resistir ao impactodaquela outra que lhe foi imposta pelo dominador branco-europeu e quetem na letra a sua mais forte aliada. A milenar arte da oralidade difundeas vozes ancestrais, procura manter a lei do grupo, fazendo-se, por isso,um exercício de sabedoria” (Padilha, 1995: 15). Entre o contador e os seusouvintes existe uma interacção, um ambiente de cumplicidade, em que432009 E-BOOK CEAUP

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!