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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes138verem entre os homens. O espanto provocado pela mensagem transmitidaé resultado de uma certa formatação cultural científica e tecnológica naexplicação de certos fenómenos e factos. O mundo actual está cada vezmais agarrado ao concreto, ao imediato, verificando-se um afastamentoprogressivamente acelerado dos mundos onírico, mitológico e alegórico.As crianças já não escutam contos, já não ouvem narrativas recitadas pelosmais velhos. Os momentos de “pausa” simplesmente para escutar foramsubstituídos por todas as tecnologias ao seu dispor (computador, telemóvel,televisão, vídeo jogos, mp3). Os momentos de magia que caracterizama transmissão destas narrativas perderam-se no tempo. Quanto à intriga,os alunos entenderam o seu desenrolar, no entanto não conseguiram penetrarno simbolismo inerente à mesma. Adequaram ditos populares, como“Vale mais um pássaro na mão que dois a voar” e “Quem procura sempreencontra”, na redacção apresentada da moralidade. Compreenderam aquestão de saber aproveitar as oportunidades como a que foi dada ao cão,oportunidade que este não desperdiçou.Em relação ao quarto conto, “O rapaz e o crânio”, poderíamos mencionaraspectos já referidos nos contos anteriores, como a questão dosdiferentes mecanismos de leitura da realidade. Este conto alerta-nospara uma outra diferença. Os alunos portugueses têm uma ideia e umrelacionamento com a natureza muito “suave” (menos problemática emais distanciada), pois esta não representa normalmente perigos nemconstitui uma ameaça nem aparece como estranha. Em África, a relaçãodo homem com a natureza é muito mais respeitosa e mágica, porque estacontém em si perigos reais, sendo verosímil a presença de um crânio numcaminho como acontece no conto. A natureza é a floresta, o deserto, osanimais selvagens, os espíritos, os seres irreais, o calor e o frio, a seca eas cheias. O homem incauto ou despreocupado, o homem desrespeitoso,é inevitavelmente castigado pela natureza. Não se entra na floresta deânimo leve, não se caminha na savana, sob o sol tórrido, de forma lúdica.A natureza tem assim um peso, como força, que há milénios está impressano “código genético cultural” do homem africano. No mundo ocidental,encontrar um crânio no caminho teria um carácter muito excepcional esempre artificial, pois a natureza, na maior parte dos casos, já não o é,foi assimilada pelo poder do homem. De salientar ainda que 88, 8% dosE-BOOK CEAUP 2009

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