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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes120contos moçambicanos, a abertura dos contos é semelhante: “A Lebre e aAndorinha eram boas amigas”, “Ora o senhor Nhandzumula-ndenguelaencontrou um belo dia um rapazinho a guardar bois”, “A mãe mandoua sua bonita filha buscar água ao poço”. Nestes três contos, o narradorcaracteriza a relação de amizade que une a lebre e a andorinha, “boasamigas”, o que contrasta com o fim do conto. Descreve o dia como “belo”ao referir o encontro do comedor de homens com o rapazinho, o que érevelador, pois este facto por si só é sinal de instabilidade. Apelida a filhamais velha de “bonita” e indicia-a como heroína da história, o que nãoé usual, porque às filhas mais novas costuma ser atribuído o papel deprotagonista.Quanto às fórmulas de encerramento, os contos moçambicanos terminamcom a reprodução da fala de uma das personagens. No conto “A Lebree a Andorinha”, esta finaliza dizendo: “Que pena! Em casa da Lebre estãode luto! A minha amiga morreu! Puseram-na a cozer com os legumes! Masa culpa não foi dela! Pobre Lebre!”. A andorinha profere um conjunto defrases exclamativas, com um significado literal que diverge ou é mesmocontraposto ao significado que corresponde à intenção do emissor. O receptorpode e deve interpretar mediante a análise do co-texto e sobretudodo contexto, isto é, sobretudo mediante razões de ordem pragmática emque a enciclopédia desempenha uma função central. Sem a cooperação,a cumplicidade e a sagacidade do interlocutor, o sentido irónico do enunciadoesvai-se ou perde-se, sobretudo quando a ironia é subtil ou velada.No conto “Nhandzumula-ndenguela, o comedor de homens”, os parágrafosde fecho da narrativa, “Então fizeram o rapaz chefe do país. ‘Porque, disserameles, esta criança foi-nos muito útil fazendo desaparecer o miserávelque nos engolia a todos’. É o fim!”, anunciam a epílogo do conto com arecompensa do mais fraco, que ascende à categoria de chefe. O contadorreproduz a fala de uma entidade colectiva, disseram eles, que exprime omotivo, a justificação do que é expresso anteriormente. Na história “Aestrada do céu”, o narrador encerra, “Finalmente”, conector que terminaa listagem enumerativa das peripécias, com a morte da irmã mais nova,castigada pelo desafio: “Finalmente chegou a casa de sua mãe. Os seusossos caíram por terra, no meio da aldeia, vindos do céu. Então a sua irmãdisse: ‘Ela tinha mau coração, foi por isso que o céu se irritou com ela. PorE-BOOK CEAUP 2009

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