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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes116caracterizam pela presença de narrativas encadeadas, em que cada umatem uma SI e uma SF.No conto angolano, “O Kianda 30 e a rapariga”, na SI, o contador relataa vontade de casar de uma caveira. A figura da caveira causa estranhamentonuma primeira leitura. A instabilidade é provocada pela intençãoda caveira pretender casar com a filha mais nova, e não a mais velha,como é ditado pela tradição, e o facto do noivo ser uma caveira, um dosespíritos mais populares da mitologia de Luanda. A filha mais velha rejeitaa proposta do espírito e ofende-o. Contudo, a filha mais nova casa com oKianda. A ofensa repete-se no conto, aquando da morte do filho da caveira.O marido proíbe a sogra de comparecer no funeral, mas esta aparece.Como castigo, o marido faz uso do kalubungu (a referência a este objectoaparece noutros contos da obra de Chatelain, conto I) e onde existia umaaldeia ficou apenas mato. O Kianda partiu sem destino, a mulher segue-o,no entanto ele desaparece dentro de uma rocha. A mulher regressa a casae morre tal como a sua mãe e toda a gente da aldeia, excepto uma mulher.Temos a primeira situação de encerramento do conto, com a morte e ocastigo devido à desobediência. O conto continua com o rapto da únicamulher que sobrevive por um Di-kishi 31 . A transgressão e posterior fugada mulher são, igualmente, castigadas com a morte. O conto apresentaduas situações de desenlace, com o despoletar de situações inversas aoinício do conto. A estabilidade inicial não é recuperada.No conto moçambicano, “Nhandzumula-Ndenguela, o comedor dehomens”, encontramos uma SI de estabilidade precária dado o encontrodo monstro, comedor de homens, o equivalente nos contos angolanos aosMa-kishi, com um rapazinho guardador de bois, que é comido juntamentecom todos os seus bens. Mesmo dentro da barriga, o pequeno lutou pelasua vida. Começou a cantar e foi ouvido por homens, que interrogaram30“É o génio da água, e preside ao mundo dos peixes, de que a população nativa de Luanda dependepara o seu sustento. As rochas em frente do Forte de S. Miguel, em Luanda, são consagradas a Kiandae servem de altares, onde os habitantes nativos ainda hoje põem ofertas de comida” (de acordo com asnotas do etnólogo).31Di-Kishi – (plural Ma-Kishi) monstros de muitas cabeças. Tribos de aborígines de pigmeus, que nofolclore africano teriam uma compleição estranha, de longos cabelos emaranhados com a faculdade delhes crescer nova cabeça logo que a anterior lhes fosse cortada. Teriam também capacidade de sentir pelocheiro de uma pessoa estranha se esta está em determinada casa. Ninguém até hoje ouviu falar em taistribos, fazem parte do imaginário africano.E-BOOK CEAUP 2009

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