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A MILENAR ARTE DA ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA

a milenar arte da oratura angolana e moçambicana - Centro de ...

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Susana Dolores Machado Nunes110Outra questão pertinente é a recepção das produções orais no registoescrito. Na transposição da oralidade para a escrita, as narrativas perdemuma característica distintiva e riquíssima, que é a sua qualidade cinética, basedo processo de produção e de recepção, que o registo escrito não consegueresgatar. Os dois investigadores em causa afloram esta problemática nas suasobras. Ambos discriminam os seus informadores, dando indicações sobre aidentificação, a origem, a língua falada, e, por vezes, a relação com o investigador.Henri Junod apresenta os seus narradores, demonstrando uma nítidapreocupação com a sua escolha, a diversidade de idades, de sexo, de áreageográfica. Chega mesmo a indicar o melhor método a seguir para obter umconto de forma mais exacta possível, questão já comentada neste trabalho.No dizer de Ola Balogun, “a arte dos contadores de histórias tradicionais”caracteriza-se por representar “uma espécie de teatro com um só personagem”(1980: 83). O acto de contar é entendido como um processo deritualização, em que o público e o contador tomam parte de uma encenaçãoteatral. Ao transpormos as narrativas para a escrita, decretamos, segundoLourenço do Rosário, a “morte do narrador”, pois a “fixação grafémica”cristaliza não só apenas as potencialidades do narrador como sujeito produtorde texto, como cristaliza igualmente todos os elementos extra-linguísticos quesão eliminados no ato de fixação (Rosário, 1986: 258).Neste estudo, partimos de um corpus de traduções portuguesas de narrativasque se expressam nas línguas nacionais angolanas e moçambicanas. LauraPadilha sublinha que “o texto cristalizado na escrita já não pode ser consideradooral stricto sensu” (1995: 19). Considera que a fixação gráfica do texto alterao estatuto do contador, pois abandona o seu papel original e ganha marcasdiscursivas de expressão escrita, muito diferentes da expressão oral. Outroaspecto prende-se com as marcas deixadas pelo investigador/compilador,pois o processo de transposição implica uma subjectividade interpretativa naleitura do material coligido. Encontramos diversas vezes em notas de rodapéopiniões do compilador relativas ao comportamento de determinada personagem,aos usos e costumes, a colocação de hipóteses que procuram explicarcertos aspectos do quotidiano ou mesmo referências históricas. A leitura destasmarcas condiciona a análise interpretativa dos contos. Tentamos ser imparciais;contudo, muitas vezes, faltou-nos um mundo de referências que envolve ostextos, que nos permitisse uma aproximação a esses universos.E-BOOK CEAUP 2009

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