José Capela38e as despesas da apanha e destilação pagam-se com a castanha e o sumofresco ou fermentado do fruto. Um Asiático que tomara de arrendamentouma propriedade, situada no continente fronteiro à capital, por 250$000réis por ano, extraía dela 200 barris de caju destilado; com o seu produtopagava a renda e embolsava 1:750$000 réis. Para que havia ele de pedirà terra outra produção, gastando dinheiro e paciência com trabalhadores?Nos distritos mais meridionais, e mormente no de Inhambane, jávai aparecendo, a par da palmeira e do cajueiro, a cana sacarina, comocultura de segunda ordem; mas o que se procura extrair dela não é açúcar,é aguardente ou é sope: uma beberagem fermentada de que os pretos sãogulosos. Também a única indústria até agora ensaiada na província, a nãoser o fabrico de tijolo e de cal, é a destilação. Toda a gente destila, e emfelicidade relativa, que tem Inhambane de ver regressar parte dos seusemigrados com um punhado de libras no saquitel.Não pode medrar como feitoria comercial; precisa ser colónia agrícolapara prosperar, sendo a agricultura empreendida e dirigida pelos colonizadores,não pelos indígenas. Ainda que todos os indígenas produzissemamendoim e copra, Moçambique seria pobre, e talvez até se acabasse dearruinar com o excesso de produção. Pedir tão pouco a uma terra que podedar tanto, é ser ingrato à natureza. Também os que se contentam com oslucros do álcool não reflectem que se empreendessem intensas culturasricas e empregassem nelas os negros, o próprio álcool teria mais preço emais consumo. Igualmente deviam considerar que, empenhando-se emcriar necessidades e desenvolver vícios na população, sem curar paralelamentede lhe facultar meios de os satisfazer, impelem-na a sair parafora do país ou para fora da disciplina social. E é o que está sucedendo:a emigração alastra-se e, ao mesmo tempo, nos centros populosos e emvolta deles vagabundeiam chusmas de bêbedos e ladrões, cuja rapinagemé o mais pesado desconto que sofrem os lucros líquidos dos donos depalmares e cajueiros.Não há, todavia, que esperar da iniciativa particular, só por si, a melhoriadeste regime; é necessária a compulsão de acertadas providênciasadministrativas. Durante alguns anos ainda o comércio e o fabrico debebidas espirituosas hão-de ser o emprego de dinheiro e de trabalho maisprontamente proveitoso, e enquanto o forem prejudicarão todos os outros.E-BOOK CEAUP 2008
O Vinho para o PretoNotas e Textos sobre a Exportação do Vinho para ÁfricaMas ao Estado incumbe defender o interesse colectivo contra os egoísmos:individuais, proteger o futuro contra as imprevidências do presente, e namecânica da legislação há recursos para cumprir estas obrigações, comonão só exige a economia pública, senão também reclama a moralidade.A moralidade, sim. Eu não me alistei no exército da salvação, e sempreconsiderei quiméricos os cânones do concílio de Bruxelas, em que ossantos padres da temperança europeia proibiram, na vastidão da África,a embriaguez irrepreensível em Londres e S. Petersburgo.Podem os Europeus sossegar, que a raça negra não lhes há-de envergonhara intemperança com a sua sobriedade, apesar das grandes potênciasse terem coligado para lha impor. O negro bebeu, bebe e há-de beber.Todas as esquadras dos governos signatários do Acto Geral de Bruxelas abloquearem os portos de África, e todos os seus exércitos a policiarem ossertões, não o impediriam de satisfazer a paixão singular pela embriaguez,porque, não tendo outro licor, acharia meio de se embriagar com a águados rios. É uma calúnia dizer-se que foram os brancos que incitaram neleesse delírio, porque, ainda Noé não tinha reconhecido os predicados dosumo da uva fermentado, já os patriarcas africanos bebiam pombe e quejandasbeberagens, algumas das quais não embriagam só, enlouquecem.Foi a natureza que fez o Africano borracho, como fez, em algumas regiões,fumista de ervas peçonhentas cujo fumo o obriga a contorcer-se em medonhasconvulsões de tosse; a civilização só lhe apurou o paladar. Criançasde colo, largam os seios das mães para meterem a língua em copos deaguardente, e não se escaldam. Têm até os pretos uma especialidade quejulgo não ser trivial na confraria europeia dos beberrões: não se embriagampor gosto de beber, bebem de propósito para se embriagarem. Só muitosséculos de educação, e talvez modificações no clima na África, poderãocurá-los desse vício, mais de organização que de costumes, e por agora sóo maometanismo tem alguma autoridade para lho moderar.Também não creio que venha um grande mal ao mundo das tendênciasintemperantes de uma das raças inferiores que o povoam; em Moçambique,todavia, essas tendências, deixadas soltas de coacção, favorecidas pelasproduções do solo, servidas pelo engenho dos indígenas, assiduamenteanimadas e exploradas pelos Europeus, passaram de tal modo, em algumasregiões, de tendências a costumes, de costumes a vício e de vício a delírio,392008 E-BOOK CEAUP
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