José CapelaNa Base VII das suas propostas de lei intitulada Impostos sobre bebidasdestiladas e fermentadas (27) o fabrico e a venda da sura, o fabrico e a vendada cerveja e a venda do vinho deveriam gozar de completa isenção decontribuições directas, taxas e licenças mas o fabrico e a venda de bebidasdestiladas fermentadas seriam sujeitas a um regime tributário especial assimcomo as leis e regulamentos excepcionais de fiscalização e de polícia.E na Base XXXIV, vinhos nacionais, recomenda a adopção de «vinhosbrancos ordinários de elevada graduação alcoólica e fortemente açucarados»para fornecimento aos indígenas; propunha ainda o estabelecimentode depósitos de vinhos desse tipo nas principais povoações de Moçambique.Alguma coisa se veio a fazer neste sentido. O jornal «O Século» de15 de Janeiro de 1899 já informava que quem quisesse mandar esse tipode vinhos para Lourenço Marques não tinha mais que remetê-los comas despesas pagas e acompanhadas de um certificado de origem para o«Depósito oficial dos vinhos portugueses» naquela cidade.22Todo o primeiro capitulo dos Relatórios de Freire de Andrade (28) é umRelatório sobre o comércio dos vinhos ao sul da Província.Este colonial equaciona já o problema a partir dos interesses da viticulturanacional e é, confessadamente, a preocupação da Metrópole queo leva a estudar exaustivamente o assunto.Partindo do princípio de que «o preto tem de beber... devemos tirardesse vício o proveito possível...».E não desdenha afirmar que se a fabricação das bebidas ditas cafreais«é de vantagem para a bolsa do indígena, é péssima para os interesses dosprodutores da Metrópole, para os dos exportadores e importadores e atépara os da Fazenda Nacional. E depois de afirmar a impossibilidade deuma fiscalização eficaz: «Ora, ao Governo convem auxiliar em primeirolugar a viticultura nacional, e seguidamente os negociantes de vinhos,aqui e na Metrópole» (29) .Mais recentemente, a partir de 31 de Dezembro de 1913, Norton deMatos, por portaria provincial de 20 de Junho de 1913, proibia todo o(27)Idem, pág. 313.(28)Alfredo Augusto Freire de Andrade — RELATÓRIOS SOBRE MOÇAMBIQUE, 2.ª edição, I vol.,Imprensa Nacional de Moçambique, 1949, págs. 3 e segs.(29)Idem, pág. 10.E-BOOK CEAUP 2008
O Vinho para o PretoNotas e Textos sobre a Exportação do Vinho para Áfricacomércio de álcool, aguardente ou bebidas similares destiladas em Angolacom a finalidade de permitir uma fiscalização adequada ao fomento douso do vinho comum, que, assim, promovia.É claro que esta boa vontade manifestada pelos governantes não erabastante para solucionar cabalmente as dificuldades levantadas à criaçãodo tal mercado promissor para a viticultura portuguesa.O eldorado de um escoamento prodigioso para uma produção empoladado vinho metropolitano jamais viria a ter cabal realização e continuaria,até aos nossos dias, a ser sonhado como paraíso prometido.Afonso Costa (30) , numa intervenção parlamentar sobre a crise vinícolado Douro, a 19 de Agosto de 1908, insurge-se curiosamente contra medidasda governatura de Freire do Andrade que não facilitavam devidamente aentrada do vinho em Moçambique: «(...) nós, portugueses, que consentimosem Moçambique um governador-geral, armado em vice-rei, com oordenado dobrado e acolitado pelo bispo, que também teve melhoria devencimento, e que não encontrou melhor maneira de beneficiar a viniculturada metrópole do que passando o direito de 4$000 réis por pipa novinho comum para 8$800 réis; de 4$425 réis por pipa de vinho licorosoaté 17º para 11$400 réis, e que elevou o direito sobre o vinho licorososuperior para cerca do 42$000 réis por pipa!«E é assim que os nossos governantes querem resolver a crise do vinho.»Noutro passo da mesma intervenção, Afonso Costa condena a anarquianas relações entre a metrópole e as colónias que não têm permitido nestasa expansão dos produtos agrícolas daquela. E exemplifica: «dando-se oabsurdo de a província de Angola absorver apenas 3 579 210 litros devinho e a de Moçambique 9 700 990, respectivamente no valor de réis305 734$000 e 761 504$000, ao passo que o consumo somente na cidadede Lisboa, em 1905, foi de 47 084 616 litros.» Lastima-se ainda por não seter seguido, em todo o domínio ultramarino, o exemplo do Sul do Save(Moçambique) onde a proibição do fabrico de aguardente cafreal elevaraconsideravelmente o consumo dos vinhos portugueses. Em seu entender,«tão rudimentar disposição viria em vantagem da defesa da raça e facilitariao cumprimento da obrigação contraída na Convenção de Bruxelas».23(30)Obras de AFONSO COSTA, Discursos Parlamentares, I, 1880-1910, Compilação, prefácio e notasde A. H de Oliveira Marques, Lisboa, 1973, págs. 474 e 478.2008 E-BOOK CEAUP
- Page 1: EDIÇÕESELECTRÓNICASCEAUPO VINHO
- Page 5 and 6: O VINHO PARA O PRETONOTAS E TEXTOS
- Page 7: ÍNDICE01. INTRODUÇÃO 9Bebidas Ca
- Page 10 and 11: José Capela10de combate ao alcooli
- Page 12 and 13: José Capela12Por outro lado, as mu
- Page 14 and 15: José Capela14os europeus e asiáti
- Page 16 and 17: José CapelaEm Outubro de 1919 fund
- Page 18 and 19: José Capela18As exportações port
- Page 20 and 21: José Capela20O relatório, referin
- Page 24 and 25: José CapelaUma tese apresentada ao
- Page 26 and 27: José Capelaem navios tanques, com
- Page 28 and 29: José Capela28Foi o que aconteceu.
- Page 30 and 31: José Capelacusto de transporte e f
- Page 32 and 33: José Capelamultirracial e pluriter
- Page 34 and 35: José Capela02. TEXTOSDA CORRESPOND
- Page 36 and 37: José Capelada gente civilizada de
- Page 38 and 39: José Capela38e as despesas da apan
- Page 40 and 41: José Capela40que é indispensável
- Page 42 and 43: José Capela42agora feitas são ins
- Page 44 and 45: José Capela44ser impraticável, n
- Page 46 and 47: José Capela2.ª46Será expressamen
- Page 48 and 49: José Capela7.ªProibir-se-á rigor
- Page 50 and 51: José Capela9.ªSerá proibida a ve
- Page 52 and 53: José Capela14.ªO programa para a
- Page 54 and 55: José Capelaempregando-se nesse fab
- Page 56 and 57: José Capela3.ªO governador-geral
- Page 58 and 59: José CapelaOs depósitos oficiais
- Page 60 and 61: José CapelaJORNAL O SÉCULO DE 21
- Page 62 and 63: José CapelaNo meio desta ignorânc
- Page 64 and 65: José Capela64o preto. Benguela é
- Page 66 and 67: José CapelaTESE APRESENTADA AO CON
- Page 68 and 69: José Capela68ainda pela qualidade
- Page 70 and 71: José Capela70Este inconveniente é
- Page 72 and 73:
José Capelanhada e que o que se pr
- Page 74 and 75:
José CapelaConsiderando que a agri
- Page 76 and 77:
José Capelados relatores das concl
- Page 78 and 79:
José Capelacasas de venda pelo int
- Page 80 and 81:
José Capela80significando esta div
- Page 82 and 83:
José Capela82nós temos que, enqua
- Page 84 and 85:
José Capela84Um dos ilustres relat
- Page 86 and 87:
José CapelaALFREDO AUGUSTO FREIRE
- Page 88 and 89:
José Capeladeitarem água e assim
- Page 90 and 91:
José CapelaB - INTERESSES DA PROV
- Page 92 and 93:
José CapelaA fiscalização direct
- Page 94 and 95:
José Capelaé beber o máximo poss
- Page 96 and 97:
José Capelaaceitável, na prática
- Page 98 and 99:
José Capela98Para tal efeito prop
- Page 100 and 101:
José Capela2.º Fiscalização sev
- Page 102 and 103:
José Capelalibertar o comércio po
- Page 104 and 105:
José CapelaDISTRITO DE INHAMBANE10
- Page 106 and 107:
José CapelaMédia OutrasImposto de
- Page 108 and 109:
José Capela2.º Limitar o número
- Page 110 and 111:
José Capela110No primeiro caso, e
- Page 112 and 113:
José Capela112e)f)g)praticando out
- Page 114 and 115:
José CapelaA cifra de 60 contos é
- Page 116 and 117:
José CapelaNota - Em 1990 foi publ
- Page 118 and 119:
José Capela118A despesa foi de 2:6
- Page 120 and 121:
José CapelaDISTRITO DE INHAMBANERe
- Page 122 and 123:
José Capela122Como se sabe, desde
- Page 124 and 125:
José Capela162:450 litros que no a
- Page 126 and 127:
José Capelarem como alguém alegav
- Page 128 and 129:
José CapelaResumo do movimento de
- Page 130 and 131:
José Capela130Maxixe 332 1.740$00
- Page 132 and 133:
José Capeladústrias que promovam
- Page 134 and 135:
José Capela134§ 1.° No requerime
- Page 136 and 137:
José Capela136palmeiras; de $80, a
- Page 138 and 139:
José Capelamuito sope é fabricado
- Page 140 and 141:
José Capela140levar a efeito a con
- Page 142 and 143:
José CapelaPeço também licença
- Page 144 and 145:
José Capela144quantidade de copra,
- Page 146 and 147:
José CapelaNo projecto de portaria
- Page 148 and 149:
José Capela148As crianças assiste
- Page 150 and 151:
José Capela150Como esta monstruosi
- Page 152 and 153:
José Capela152O triste argumento,
- Page 154 and 155:
José CapelaO problema das transfer
- Page 156 and 157:
José Capelade excedentes da produ
- Page 158 and 159:
José Capela158e) Tapetes e tapeça
- Page 160 and 161:
José Capelaos subsídios, de igual
- Page 162 and 163:
José Capela2.4. NÚMEROS REFERENTE
- Page 164 and 165:
José CapelaVinhos licorosos — ta